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Dilma Rousseff diz que vai processar Bolsonaro por declaração feita nos EUA

AFP PHOTO/EVARISTO SÁ
Imagem: AFP PHOTO/EVARISTO SÁ

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

17/05/2019 08h34

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou ontem que vai processar o atual presidente Jair Bolsonaro, nas esferas cível e criminal, por uma declaração feita por ele ontem durante discurso em Dallas, no Texas (EUA). Bolsonaro afirmou que "quem até há pouco ocupava o governo tece em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada". Bolsonaro não mencionou diretamente o nome da ex-presidente.

Dilma afirmou em nota divulgada por ela hoje que a declaração é "mentirosa e caluniosa" e que "a própria Justiça Militar -as auditorias, o STM [Superior Tribunal Militar] e até o STF [Supremo Tribunal Federal] (...) comprovaram tal fato". Voltou a afirmar que nunca participou de atos ou ações que resultaram na morte de "quem quer que seja".

"O senhor Bolsonaro responderá no juízo criminal e cível por mais essa leviandade contra mim. Ele não poderá se escudar no cargo de Presidente da República e irá ser cobrado por suas mentiras, calúnias e difamações", disse em nota.

Sem citar especificamente o nome de Dilma, Bolsonaro deu as declarações enquanto rendia homenagens ao capitão do Exército americano Charles Rodney Chandler, veterano da Guerra do Vietnã, assassinado em 1968 em São Paulo após uma emboscada no bairro de Sumaré, na zona oeste da cidade. Ele foi morto a tiros por um grupo de esquerda engajado na luta armada.

"No Brasil, a política até há pouco era de antagonismo a países como Estados Unidos. Os senhores eram tratados como se fossem inimigos nossos. Agora, quem até há pouco ocupava o governo, teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão, como eu sou capitão, naqueles anos tristes que tivemos no passado. Eu até rendo homenagem aqui ao capitão Charles Chandler", disse Bolsonaro.

Durante a ditadura militar, Dilma Rousseff integrou a Colina (Comando de Libertação Nacional), que somente em julho de 1969 - quase um ano depois do assassinato de Chandler - viria a se fundir com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) para criar a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Ela afirma nunca ter pego em armas, apesar de integrar o grupo armado, pois participava de trabalhos de coordenação e mobilização. A ex-presidente foi presa e torturada pelos aparelhos de repressão do governo durante a ditadura militar.

Anos depois, a morte de Chandler foi atribuída a um grupo chefiado pelo guerrilheiro Carlos Marighella.

"Minhas mãos estão limpas e foram fortalecidas, ao longo da vida, pela militância a favor da democracia, da justiça social e da soberania nacional", disse Dilma.

A ex-presidente pede ainda que Bolsonaro não a use como "biomo" para ocultar o "tsunami" das investigações que recaem sobre a sua família, se referindo às denúncias de corrupção envolvendo o filho do presidente e senador Flávio Bolsonaro.

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O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.