PGR investiga tentativas de ataques a procuradores há pelo menos um mês
A PGR (Procuradoria-Geral da República) investiga tentativas de ataques a celulares de procuradores federais, principalmente contra integrantes das forças-tarefas da Operação Lava Jato, pelo menos desde meados de maio.
Nesta semana, conversas entre o chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e o então juiz e hoje ministro da Justiça, Sergio Moro, estão sendo divulgadas pelo site The Intercept Brasil. Até o momento, não há como saber se o material foi obtido por um hacker. O veículo de imprensa diz que recebeu o conteúdo de uma fonte há semanas e não deu detalhes sobre como isso aconteceu.
Em 13 de maio, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou a abertura de um "procedimento administrativo para acompanhar a apuração de tentativas de ataques cibernéticos a membros do Ministério Público Federal, sobretudo procuradores que integram a força-tarefa Lava Jato no Rio de Janeiro e no Paraná", diz nota divulgada no site da PGR.
O UOL pediu à PGR o despacho em que Dodge abre o procedimento, mas o órgão alegou que se tratava de um "documento interno" que não poderia ser compartilhado.
O mesmo comunicado, publicado em 14 de maio, informa que as tentativas de ataques tinham sido identificadas "nos últimos dias" e que já eram tema de "procedimentos investigativos específicos nas respectivas unidades" do MPF.
"Em parte dos casos em que foi verificada a tentativa de ataque, os usuários receberam ligações do seu próprio número, o que à primeira vista parece impossível, algo que estaria sendo viabilizado por meio de aplicativos específicos", afirma a nota.
No começo de junho, Moro teve seu celular invadido e notou que havia algum problema justamente porque recebeu uma ligação de seu próprio número.
Alertas em sequência
Antes da determinação de Dodge, já com a informação de que havia tentativas de invasão de celulares de procuradores, a PGR divulgou internamente em 8 de maio uma cartilha com medidas de segurança para evitar fraudes por meio de aplicativos de mensagens como Telegram e Instagram.
No dia 17, a STIC (Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação) da PGR alertou sobre os ataques e repassou mais orientações a procuradores e servidores. Entre elas, a de não apagar contas de WhatsApp ou de Telegram, "pois o responsável pelos ataques poderia recriá-la, ativar a dupla verificação e utilizar a conta em nome da vítima, tornando impossível sua recuperação". Outra orientação foi a de monitorar a existência de sessões ativas destes aplicativos em outros dispositivos e desconectá-las.
Quatro dias depois, a STIC informou que estava apurando "possíveis vulnerabilidades" em contas de Telegram e WhatsApp de membros do MPF, entre elas o risco de sequestro de mensagens de SMS e redirecionamento de telefonemas. "Considerando as questões que envolvem a possível interceptação de SMS, a STIC recomenda que se evite a utilização de aplicativos que façam uso desse recurso para o envio de informações sensíveis."
A interceptação de SMS pode permitir, em tese, que um invasor acesse o Telegram de outra pessoa remotamente por meio de um computador, desde que ele tenha o número do celular da vítima.
O Telegram pode ser usado pelo computador sem necessidade de manter o celular conectado. Para isso, é preciso colocar o número do celular no site do aplicativo. O usuário então recebe um SMS com um código numérico para ser inserido no site. Após a digitação do código, o Telegram é aberto no navegador, permitindo a troca de mensagens e o acesso a conversas antigas.
Segundo o jornal O Globo, o MPF apura se foi justamente por meio deste mecanismo que terceiros ainda não identificados conseguiram acessar o Telegram de procuradores. Ainda não se sabe como os invasores obtiveram acesso a esse código.
A STIC voltou a reforçar orientações de segurança para uso de WhatsApp e Telegram já no dia 4 deste mês, sugerindo a adoção da verificação em duas etapas e o uso preferencial do aplicativo interno e-Space, "protegido pelo mesmo conjunto de controles de segurança que resguardam os demais sistemas e serviços de tecnologia do MPF".
Segundo a PGR, a segurança da informação é um "assunto prioritário" e tratado de forma contínua no órgão.
"Aqui é o hacker"
De acordo com a STIC, com a invasão de contas de aplicativos de mensagens como Telegram e WhatsApp, "os contatos presentes naquele dispositivo serão as próximas vítimas, tanto pelas informações ali presentes quanto pela relação de confiança comumente estabelecida entre os pares", diz o órgão no comunicado do dia 14 de maio.
Há pelo menos um caso conhecido em que o invasor tentou se passar por um procurador para tentar ludibriar interlocutores. Aconteceu com Marcelo Weitzel, do Ministério Público Militar. O procurador José Robalinho Cavalcanti contou à revista Época que, na noite de terça, recebeu mensagens na qual o suposto Weitzel tentava extrair opiniões sobre um áudio envolvendo integrantes da Lava Jato. Por fim, escreveu: "Um abraço do hacker".
O invasor também enviou mensagens no grupo de conselheiros do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), do qual Weitzel faz parte. Colegas estranharam o tom dos textos e questionaram Weitzel. Receberam como resposta: "Aqui é o hacker". Dodge, que também é presidente do conselho, pediu investigação do caso à Polícia Federal.
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