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Cabral diz ter recebido propina em obras de mobilidade do Rio de Janeiro

Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/08/2019 15h45

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) afirmou hoje em depoimento ao juiz federal Marcelo Bretas --responsável pelas ações em primeira instância da Lava Jato no Rio-- que recebeu propina de empreiteiras de "médio e pequeno porte" que realizaram obras de construção de estradas no estado durante o seu mandato, entre os anos de 2007 e 2014. A propina, de acordo com Cabral, teria sido arrecadada por meio do ex-presidente do DER (Departamento de Estradas e Rodagem) Henrique Alberto Santos Ribeiro.

O ex-governador afirmou, no entanto, não saber qual o valor total embolsado neste período. O MPF (Ministério Público Federal) afirma, no entanto, que Cabral teria recebido mais de R$ 17,5 milhões neste esquema. "O dinheiro era recolhido em espécie, na sede do DER, pelos meus operadores, mas nunca tive acesso a isto. Carlos Miranda era o principal responsável por fazer o recolhimento dos recursos, ora para campanhas políticas, ora para meus interesses pessoais", relatou. Questionado quanto às quantias arrecadadas, Cabral afirmou que "perdeu o controle".

Cabral explicou como conheceu o ex-presidente do DER: "O Henrique foi presidente do DER entre 2007 e 2014, no meu governo. Antes, ele havia sido presidente do órgão nos governos de Leonel Brizolla (PDT) e Rosinha Garotinho (PR). Quando comecei meu governo, convidei o ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB), que na época era meu vice, para ser secretário de Obras. Ele sugeriu que o Henrique seguisse no cargo por causa da sua boa reputação".

De acordo com Cabral, Henrique teria feito a interlocução com as empresas que prestavam serviço ao DER. "As empreiteiras que prestavam serviço para o DER eram médias e pequenas empresas, e eu não convivia com seus donos, eu não tinha relação. Meu contato era com os donos das grandes empreiteiras. Em 2010, o então deputado Jorge Picciani (MDB) me apresentou ao empresário Hugo de Aquino. Entre as empresas da qual ele é sócio está a União Norte. Em 2007, Picciani pediu para que colocasse a empresa em obras do DER. Consegui junto ao Herique que a União Norte participasse das obras da RJ-220. Em 2010, enquanto presidente do MDB, Picciani pediu para que ajudasse a empresa na construção de uma estrada na região serrana e mais uma vez indiquei", relatou.

"O Henrique passou a recolher propina dessa e de outras empresas a meu pedido, mas, verdade seja dita, nunca me pediu favor pessoal ou benefício. Ele só arrecadava para mim. É uma pessoa de vida espartana. Empreiteiros nunca me informaram solicitação de propina por parte dele. Ele fazia a cobrança em meu nome, mas nunca ouvi que ele recolheu algo para si", completou.

Em julho, Cabral foi condenado pela 10° vez em processos decorrentes da Lava Jato. Somadas, as penas totalizam 216 anos de prisão.

O UOL espera as respostas das defesas dos citados na reportagem.

Operação C'est fini

O depoimento de Cabral foi realizado no âmbito a Operação C'est fini. Deflagrado em novembro de 2017, o desmembramento da Lava Jato prendeu o chefe da Casa Civil durante a gestão de Sérgio Cabral, Régis Fichtner. De acordo com o MPF-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), ele recebia propinas referentes a obras públicas até mesmo no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense.

Um dos "homens fortes de Cabral", Fichtner é acusado de receber mais de R$ 1,5 milhão em valores indevidos, referentes a obras como a construção do Arco Metropolitano e obras do (PAC) Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em comunidades do Rio de Janeiro. Ele e os demais citados pelo MPF durante a C'est fini teriam desviado R$ 21 milhões dos cofres públicos, no total.

Na ocasião, além de Fichtner, foram expedidos mandados de prisão contra o ex-presidente da Fundação Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro, Henrique Alberto Santos Ribeiro; de Lineu Castilho Martins, apontado como operador de Ribeiro; dos empresários Maciste Granha de Mello Filho e George Sadala.