Frota diz que Bolsonaro "mudou completamente" com aliados já na transição
O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) disse, em entrevista hoje para o programa Pânico, da Rádio Jovem Pan, que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) mudou completamente com alguns aliados já durante o período de transição de governo.
Lembrando uma frase usada pelo próprio Bolsonaro durante a campanha presidencial de que "soldado ferido na guerra não ficava para trás", Frota se mostrou decepcionado com a atitude do presidente e citou especificamente os casos de Gustavo Bebianno (ex-ministro da Secretaria-Geral) e de Magno Malta.
"Na transição do governo, o Bolsonaro mudou completamente com várias pessoas. Lembro que ele tinha um 'banner', e a gente retuitava, de que soldado ferido na guerra não ficava para trás. Deixou o Bebiano, deixou o Julian Lemos, um cara leal, o Magno Malta. Nós estávamos na casa do Jair quando ele ganha a eleição às 23h, e já na segunda-feira, o Magno Malta era 'persona non grata'. Há várias teorias sobre isso. Independente de qualquer coisa, foi um cara que deixou de fazer a campanha dele para o Senado", disse.
Alexandre Frota foi expulso do PSL na última semana e, na sequência, filiou-se ao PSDB. Para o deputado, o processo de expulsão do partido era inevitável.
"Eu estou tranquilo. Tive uma expulsão, passei por esse processo de expulsão, era inevitável. Infelizmente, não pode criticar. Você criticar, opinar, falar sobre seus pontos de vista, incomoda. A gente sabe que nesse país, falar a verdade incomoda demais. Mas eu sempre fui muito autêntico. Minhas críticas geraram essa expulsão. Não só as críticas, mas também as ações, as ações do nosso presidente Bolsonaro, algumas coisas que eu acompanhei durante esses sete meses que eu não concordo", disse.
Frota, no entanto, ressaltou que não torce pelo insucesso do Governo, apesar das críticas. "Eu não faço parte da turminha que quer o mal do Bolsonaro, que quer que ele tropece, pelo contrário. Eu participei da transição. Se você me perguntar qual era o partido do Bolsonaro na transição, eu diria que era o DEM: tem o ministério da Casa Civil, da Agricultura, o ministério da Saúde, a Câmara dos Deputados, o Senado... Foi um partido prestigiado pelo presidente, enquanto o PSL foi preterido. Até pouco tempo atrás, o PSL só se torna do governo quando o governo tem interesse na orientação de voto", disse.
"Quando não tem interesse, o PSL não é atendido em uma série de demandas. Sendo que o próprio Bolsonaro fala que o partido é dele, que o PSL é o partido dele. Era um partido que deveria ter sido prestigiado desde a transição. Isso é público e notório, não estou criando aqui nenhuma invenção ou fazendo qualquer crítica. Essa é uma realidade. Isso me incomodou também. Muita gente não tem coragem de falar, muita gente se submete a essas questões e não fala. Eu falei, logo na primeira semana", completou.
Frota ainda concordou que surfou a "onda Bolsonaro" vista principalmente no primeiro turno das Eleições de 2018, mas fez uma ressalva. Disse que apoiava o atual presidente mesmo quando, em suas palavras, ele não era levado a sério.
"É claro que eu surfei (a onda Bolsonaro). Vim com ele. Ele era meu candidato. Mas quando o Bolsonaro era comédia total, eu já estava aqui gritando para o Bolsonaro. Eu andei 35 mil km de carro e fui a 65 cidades no estado de SP buscar meu voto - sem bandeira, camisa, bandinha, foguete. Quando eu passava por essas cidades, eu também estava divulgando o nome do Bolsonaro, que muita gente não queria votar. A gente pediu um voto de confiança. Era racista, machista, misógino, não tinha um discurso... Nós também lutamos pela eleição do Bolsonaro. Não foi só ele que nos ajudou. Nós ajudamos muito nas carreatas, nas reuniões, ligações, etc. é uma via de duas mãos."
O acerto com o PSDB e a influência de João Doria
Fora do PSL, Frota disse ter recebido convites de diversos partidos para se filiar - entre eles, Podemos, PRB, DEM, MDB e PL. No entanto, optou pelo "novo PSDB", como destacou ao longo da entrevista, por influência de João Doria. Segundo ele, o governador de São Paulo é responsável por uma reformulação da sigla, distante de nomes tradicionais.
"Eu faço parte agora de um novo PSDB. Fui chamado pelo João Doria. O que aconteceu no passado, eles é que têm que resolver entre eles. Eu entrei no PSDB na sexta-feira. Eu conheço só esse PSDB. Esse partido que eu tanto critiquei - e não retiro as críticas - é do passado deles. Não fiz parte dessa tropa de choque", disse Frota.
"Um vai ser expulso, o Aécio (Neves), e os outros são passado. Esses homens fizeram história na política, mesmo com problemas ou com algum tipo de desvio de conduta. Na minha concepção, eu entrei em um novo PSDB, convidado por um novo João Doria, com pessoas totalmente diferentes das citadas. Na coletiva, perguntaram se eu ia pedir desculpas para o (Geraldo) Alckmin, e eu disse que não. Estou trabalhando num partido remodelado, no qual o João Doria está aplicando todos os esforços para que a imagem do partido, como o partido venha e posicionar, seja outra. Seja jovem, moderna, digital... É por isso que ele chegou onde ele chegou", acrescentou.
Ao longo da entrevista, ao ser questionado sobre a filiação ao PSDB, Frota deixou claro que escolheu o partido "principalmente por ter o Doria lá". "A intenção do Doria, ele sabe qual é. Ele montou a estratégia dele, e eu acho que dentro desse time, eu vou jogar muito bem. Se ele quer a presidência (da República) ou não, acho que é um direto ou não, é um direito dele. Acho ele um ótimo candidato", analisou, indo além.
"Confesso que amadureci muito nesses seis meses. O trabalho que farei agora no novo PSDB é diferente do que fiz no PSL. Estou me preparando. Não posso ficar pelo meio do caminho. Não vou passar despercebido, sei o que tenho feito, sei como tenho me posicionado. Fui convidado por Podemos, PRB, DEM, MDB, PL e pelo PSDB. O Doria foi o primeiro a me convidar."
Ao falar da insatisfação que o levou a deixar o PSL, Alexandre Frota afirmou que há mais filiados "que querem sair" do partido, "mas fica antiético eu falar nomes".
"Tem gente insatisfeita no PSL por todos esses motivos que eu falei: atendimento, articulação, ser preterido. Só quem vive lá dentro sabe. Essa coisa me incomodou demais. Eu jamais ia imaginar que aparecesse um Queiroz no início. Para a gente, foi muito difícil. Eu até estava anotando aqui (os casos): 'golden shower', depois a ministra (da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) Damares (Alves)... Ela surgiu do nada ali e dá declarações tipo 'fiquei 30 anos com problema de cabeça por causa do Pica-Pau, por causa do Popeye'", reforçou.
Veja outros pontos tratados por Alexandre Frota
INGERÊNCIAS
"Eu ouvi dele (Bolsonaro) que montasse toda a secretaria de Cultura. Que eu trouxesse profissionais. O Pedro (Henrique Peixoto) veio, veio o Maurício Braga para direitos autorais, que foi indicação do Celso Russomanno, veio para economia criativa a indicação do Paulo Guedes. Todos ali montando esse cinturão. O Bolsonaro dá uma dimensão pequena para a cultura brasileira. Ele encerra o ministério (da Cultura) e transforma apenas em secretaria. Essa secretaria é comandada pelo Henrique Pires, que não tem uma base para poder levar à frente o projeto. Ele pediu que eu montasse esse cinturão. Aí começa uma série de coisas, os profissionais que chegaram começam a reclamar para mim - "fui contratado, você é o secretário, mas não posso trazer o chefe de gabinete, a secretaria". Vou ser contratado amanhã e para fazer um programa na TV e eu não vou poder levar minha secretária. Essa foi uma das principais reclamações. Aí começaram os atritos."
"PRATO CHEIO PARA ESQUERDA"
"O PSL é um partido que chegou lá para atacar, porque sabíamos que teríamos uma oposição forte, pegamos uma câmara extremamente polarizada... Quando chegamos lá, nosso entendimento era: vamos atacar. Quem ia esperar que não primeira semana de legislatura, aparecesse o caso Queiroz? Isso dificultou para a gente, para o PSL. O PSL muitas vezes tem que defender coisas que o Bolsonaro fala, coisas desnecessárias. Uma coisa é como deputado, na campanha. Outra coisa, como presidente, ele tem que se preservar, preservar aqueles que estão em volta dele ali. A gente fica meio de Corpo de Bombeiros, apagando incêndio. Poderia comemorar 1964 nos quarteis? Poderia. Combina com quarteis, generais, e comemora. A partir do momento em que ele vai para o Twitter e fala que vai comemorar 1964, não teve ditadura, é um prato cheio para a esquerda. Não precisa (falar), são momentos."
PRETERIDO?
"O Jair, ele se transformou. A partir do momento que ele sentou na cadeira, ele ficou um cara inacessível. Principalmente com quem estava do lado. Ele sabe disso. Outro dia me questionaram: 'você deu (nota) 4,0 para o Bolsonaro no governo dele, e a Joice (Hasselmann) deu 9,0. Mas a Joice tem a chave da sala dele. Ela é líder do Congresso, tem 50 pessoas trabalhando com ela, é atendida rapidamente por todos os ministros, faz um excelente trabalho lá. Por que ela dá 9,0? Por ela tem um trânsito livre. (...) Ele não tinha que beneficiar. Mas quando você vai para uma guerra junto, ele não tem que beneficiar. Tem que continuar o grupo."
DEM, PRIVILEGIADO NO GOVERNO?
"Pode ser, mas explique isso. Não deixe as pessoas ali dentro... Mas ele faz as escolhas dele, eles escolheu as pessoas que querem trabalhar com ele... Eu não sou traidor. Eu votei no Bolsonaro, como governo, em todas as votações que tiveram. Se tem uma pessoa que defendeu, lutou lá dentro até semana passada, fui eu. Agora eu já não tenho mais o peso do governo, não preciso concordar com tudo."
ROTINA NA CÂMARA
"Esses seis primeiros meses, eu me dediquei ao plenário (da Câmara). O pessoal falou que eu não ia falar. Hoje, a gente tem 200 dias de governo, eu subo todo dia e uso todo tempo que posso usar. Tudo que eu posso usar, eu uso. E ando num outro processo. Acordo 4h30, 5h; quando os deputados estão indo almoçar, eu já almocei às 11h30. Então estou sempre entre os primeiros inscritos (para falar). Tenho me dedicado e estudado."
LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE
"É complicado, eu não estava lá na semana da votação. Vejo que existem autoridades que muitas vezes exercem o abuso. Não estou me protegendo. Acho bem complicado. Acho que quem não vai andar por caminhos tortos não tem que ter medo. Você deixar aberto, ameaça a liberdade da Polícia Federal, dos juízes, e muitas vezes o juiz vai tomar uma decisão e o que é abuso? Qual é o critério?"
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