Amazônia une os inimigos olavistas e militares em ofensiva contra Macron
Militares e olavistas --este último a ala ideológica do governo guiada por Olavo de Carvalho-- deixaram as diferenças de lado e unificaram o discurso na ofensiva ao presidente francês, Emmanuel Macron, que tenta mobilizar a comunidade internacional a agir em defesa da Amazônia.
No fim de semana, o líder europeu colocou o assunto em debate durante cúpula do G7, grupo das sete maiores economias do mundo, e ontem (26) foi anunciada uma ajuda emergencial de US$ 20 milhões para combater as queimadas na região.
A repercussão no exterior tem levado a opiniões inflamadas entre os que veem risco à soberania nacional.
A declaração mais contundente partiu do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército e hoje assessor especial da Presidência da República. Também houve manifestações do vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), do ex-ministro Carlos Alberto Santos Cruz, também general, entre outros militares de alto escalão.
Villas Bôas, Mourão e Santos Cruz fazem parte da longa lista de desafetos de Olavo de Carvalho, guru da família de Jair Bolsonaro. Em um dos processos de fritura promovidos pelo escritor, o presidente acabou demitindo Santos Cruz da Secretaria de Governo.
O ex-comandante do Exército chegou a ser classificado por Olavo como "um doente preso a uma cadeira de rodas" --ele sofre de uma doença degenerativa que causa perda da mobilidade. Em resposta ao ideólogo durante a fritura de Santos Cruz, o militar disse que ele prestava "enorme desserviço ao país" e que agia com "com total desrespeito aos militares e às Forças Armadas".
Mourão, por sua vez, foi alvo de ataques sistemáticos durante um período no governo e chegou a ser chamado de "idiota".
No tema dos incêndios na região amazônica, apesar de todo o histórico de rusgas, há consenso, ainda que circunstancial, entre os militares que atuam no governo e os olavistas.
Tese da ameaça à soberania
Pelo Twitter, o ex-comandante do Exército afirmou na quinta-feira (22) que o país assiste a "mais um país europeu, dessa vez a França, por intermédio de seu presidente Macron, realizar ataques diretos à soberania brasileira, que inclui, objetivamente, ameaça de emprego do poder militar".
"A questão que se coloca é de onde viria autoridade moral daquele país [França] que, como disse Ho Chi Minh [estadista vietnamita], é a patria do Iluminismo, mas quando viaja se esquece de levá-lo consigo", comentou Villas Bôas.
Em um de seus vídeos, Olavo comentou a suposta ameaça de Macron e afirmou que ou o presidente francês "estava querendo testar", ou seja, lançando uma insinuação, ou "ele é idiota mesmo ao ponto de acreditar que vai fazer isso".
O escritor disse considerar remota a possibilidade devido ao "tamanho do Brasil", mas enfatizou que esse debate acabou sendo positivo para Bolsonaro.
"Isso nos fez bem porque despertou o orgulho nacional. (...) A identidade nacional se formou nesses dois momentos [em referência à Batalha dos Guararapes e à Guerra do Paraguai] e está se formando agora pela terceira vez. Está se formando em toda a pessoa do Bolsonaro, o qual efetivamente representa os valores da nacionalidade. Ele é um patriota, um nacionalista, ninguém duvida disso."
Artilharia contra Macron
No Twitter, o guru bolsonarista fez comentários ofensivos ao presidente francês e o apelidou de "Macrocon" --um jogo de palavras que, em francês, resultaria em algo como "grande estúpido".
A ironia repercutiu na imprensa francesa em reportagem do jornal "Le Parisien", que também relatou a resposta de Jair Bolsonaro a comentário que ofende a mulher de Macron, Brigitte.
Um seguidor postou uma imagem comparando Brigitte a primeira-dama Michelle Bolsonaro, e o mandatário brasileiro brincou com o fato: "não humilha cara. Kkkkkkk" (sic). Ontem (26), Macron lamentou a postura de Bolsonaro, classificando-a como "extremamente desrespeitosa", e disse estar triste pelo país: "O Brasil merece um presidente que esteja à altura do cargo".
A ofensiva contra Macron teve ainda mais força nas redes do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e de seu irmão, Arthur Weintraub, ambos adeptos dos pensamentos de Olavo. O primeiro chamou o líder francês de "calhorda".
Segundo o ministro, a França é um "país de iluministas e comunistas". "O Macron não está a altura deste embate. É apenas um calhorda oportunista buscando apoio do lobby agrícola francês."
Abraham defende que a repercussão das queimadas na Amazônia e a crise ambiental que ecoou no Brasil e no exterior é "fruto do acordo comercial fechado [pelo Mercosul] com a Europa".
"O lobby dos agricultores europeus reagiu diante da iminente invasão de produtos brasileiros. Isso, combinado com ONGs, esquerda e 'artistas', revoltados com o fim da mamata. Podem prejudicar os brasileiros", disse o ministro.
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