Selfies, gritos e 'chega pra lá': fãs vão atrás de Bolsonaro no Alvorada
Projetado por Oscar Niemeyer e pela elegância de suas colunas modernistas, o Palácio da Alvorada é desde sua inauguração, em 1958, um dos principais pontos turísticos Brasília. Desde que Jair Bolsonaro (PSL) tomou posse, porém, a residência oficial do presidente se tornou ponto cativo de apoiadores do ex-deputado.
São geralmente grupos de 10 a 30 pessoas que vão à portaria do Alvorada, não só aos sábados e domingos mas também durante a semana, na esperança de fazer selfies com Bolsonaro.
Quando chega ou sai do Alvorada, que fica às margens do Lago Paranoá, o presidente costuma parar o comboio, descer do carro e ir ao encontro da claque à sua espera.
Bolsonaro atende a pedidos de fotos, manda mensagens personalizadas em vídeos, pega crianças no colo e bate papo sobre política. Gosta também de perguntar de quais estados vêm os apoiadores, de falar mal da oposição e, às vezes, de criticar a imprensa.
Depois da conversa com os fãs, e sob o olhar atento deles, o presidente se dirige aos jornalistas, responde às perguntas feitas —ou a quase todas. Se não gosta de algum questionamento, não é incomum que deixe o local sem dar resposta ou que o rebata com alguma grosseria. Os simpatizantes soltam gritinhos de apoio.
Há quem tente contar com a sorte para se encontrar com o presidente, como os que vão ao local mais de uma vez, e há quem se planeja, acompanhando a agenda oficial de Bolsonaro, divulgada toda a noite pelo governo federal em seu site.
O empresário Paulo Felinto, morador de Brasília, chegou ao Alvorada às 7h30 na última sexta e afirmou já ter ido ao local três vezes. Disse considerar importante demonstrar o apoio ao presidente, porque o Brasil tem "condição de ser uma potência mundial". Além disso, afirmou sentir que deve retribuir a atenção de Bolsonaro para com a população.
A mulher de Felinto, a advogada Yara Almeida, concorda com o marido e disse acreditar que Bolsonaro é o único que se preocupa com a população. Ela afirmou já ter tentado falar com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na portaria do palácio, sem sucesso.
Bolsonaro é querido pelo cidadão de bem. Por isso que ele para. [O Alvorada] Se tornou um ponto de concentração para os apoiadores
Yara Almeida, advogada, moradora de Brasília
Ao horário do último compromisso no Palácio do Planalto, onde o presidente trabalha, é comum ver seus apoiadores chegando animados ao Alvorada.
O próprio presidente, que enfrenta uma queda na popularidade, já perguntou, rindo, se ali "virou ponto turístico". Primeiro prédio construído em alvenaria em Brasília, o local, que passou por reforma, está fechado à visitação interna desde dezembro do ano passado, em razão mudança da família --o presidente, a primeira-dama, Michelle, a filha do casal e a enteada de Bolsonaro.
Segundo agentes de segurança da Presidência, a movimentação na portaria do Alvorada no governo Bolsonaro está "muito maior" do que à época de seu antecessor, Michel Temer (MDB), que optou por permanecer com a família no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência, após o impeachment de Dilma. A presidente morou no Alvorada entre 2011 e agosto de 2016.
Com o sonho de conhecer o presidente Bolsonaro pessoalmente, o militar da reserva, José Neto, viajou de Fortaleza para Brasília. Ele disse que fez campanha para o então deputado federal se eleger no ano passado. Na manhã da sexta (6), conseguiu finalmente cumprimentá-lo.
Vejo ele como salvação da pátria do nosso país. Ele é patriota, veste a camisa. Só o cumprimentei, mas é uma grande coisa para mim
José Neto, militar da reserva, morador de Fortaleza
No mesmo dia da visita de Neto, houve quem também tenha aproveitado a estada em Brasília durante congresso da Rotary Internacional em hotel ao lado do palácio para conhecer Bolsonaro.
A professora Inês Alwada e a biomédica Patrícia Marchi, de Santo André (SP), por exemplo, reservaram parte da manhã com o objetivo de tirar fotos com o presidente.
"Estou muito feliz em estar aqui no aniversário [da facada sofrida em Juiz de Fora] dele", disse Inês. Elas ficam na cidade até a semana que vem e planejavam comparecer ao desfile de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios, onde Bolsonaro deve desfilar em carro aberto antes de viajar para São Paulo para se submeter a outra cirurgia em razão da facada sofrida há um ano, em Minas, durante a campanha eleitoral.
Na sexta, os simpatizantes presentes cantaram parabéns para Bolsonaro, que agradeceu a Deus e a Santa Casa de Juiz de Fora por ter prestado a primeira assistência médica. Ele então pediu que todos fossem ao desfile de Independência vestidos de verde e amarelo.
'Chega pra lá' em alguns fãs
Apesar da boa vontade de Bolsonaro em geral, nem sempre tudo são flores para os fãs. Há momentos em que o presidente dá um "chega pra lá" no público. Ora por atrapalhar seu raciocínio na hora das respostas à imprensa, ora porque o presidente acordou um pouco mais mal-humorado mesmo.
Em uma manhã, por exemplo, quando senhoras conversavam alto ao lado dele enquanto dava entrevista, interrompeu a fala e fez gesto com as mãos pedindo silêncio.
Em outro dia, ao cumprimentar os visitantes, uma mulher lhe disse ter "uma coisa interessante" para falar. Em resposta, Bolsonaro falou que todos têm algo interessante a dizer para ele. A apoiadora não se deu por satisfeita e argumentou "não, a minha é mais". O presidente passou reto e acenou para a imprensa.
Numa outra ocasião, um grupo de jovens o aguardava na portaria. Quando o comboio apontou no horizonte, se organizaram e começaram a cantar. Era um coral. Dessa vez, Bolsonaro seguiu rumo ao Planalto sem parar para ouvir as músicas.
Segurança é reforçada
Ao passar dos últimos dois meses, quando Bolsonaro passou a falar com mais frequência na porta do Alvorada, a segurança foi reforçada. Mais grades foram posicionadas separando imprensa do público para que um não atrapalhe o outro.
Detectores de metal e máquinas de raio-x passaram a ser utilizados. Agora é preciso se registrar com nome e documento de identidade para entrar no espaço ao lado de onde aparece Bolsonaro. Garrafas com líquidos, faixas, cartazes e objetos pontiagudos estão proibidos.
Antes de Bolsonaro descer do carro, os agentes checam se há alguma ameaça visível nas imediações. Com a permissão liberada, cercam o presidente a curta distância com pastas que funcionam como blindagem a tiros e a ataques.
O Alvorada está fechado à visitação, mas o Planalto segue aberto aos domingos mediante marcação prévia. Os palácios passaram por períodos restritos de visitação em 2016 devido a questões de segurança em meio ao impeachment, mas, desde então, vêm tendo um aumento de turistas, segundo a Presidência ao UOL.
Quantos visitantes o Alvorada recebeu nos últimos anos:
- 2015: 14.522;
- 2016: 3.513;
- 2017: 4.594;
- 2018: 7.058;
- 2019: fechado à visitação.
Quantos visitantes o Planalto recebeu nos últimos anos:
- 2015: 34.028;
- 2016: 11.808;
- 2017: 13.872;
- 2018: 15.514;
- 2019 (até julho): 10.143.
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