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Eduardo Bolsonaro pode entrar armado em um hospital?

Eduardo Bolsonaro exibe pistola na cintura em visita ao pai, Jair Bolsonaro, em hospital de SP - Reprodução/Instagram
Eduardo Bolsonaro exibe pistola na cintura em visita ao pai, Jair Bolsonaro, em hospital de SP Imagem: Reprodução/Instagram

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

10/09/2019 16h01

Armado com uma pistola Glock de cor preta na cintura, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) posou em uma foto ao lado do pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), dentro de um quarto no hospital Vila Nova Star, em São Paulo.

O presidente se recupera de uma cirurgia realizada no último domingo (8). No hospital, Jair Bolsonaro dispõe de uma ala privada, dedicada exclusivamente para ele, seus familiares e a equipe da Presidência. Mas isso permite que alguém —ainda mais o filho do presidente— entre armado no local?

Eduardo é escrivão licenciado da Polícia Federal e, por isso, pode portar armas legalmente. O deputado também é colecionador de armas e pratica o tiro esportivo. Ele e o irmão Carlos Bolsonaro são membros associados do Clube de Tiro .38, que fica na cidade de São José, na Grande Florianópolis.

Isabel Figueiredo, advogada e membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que Eduardo não cometeu nenhum crime ao entrar armado no hospital.

Pela lei, membros da Polícia Federal têm o direito de portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela corporação mesmo que estejam fora de serviço.

"De qualquer forma, o episódio mostra o que vai acontecer se vier a liberação indiscriminada do porte de armas: vamos nos deparar cotidianamente com esses instrumentos nos locais mais inusitados", afirma Figueiredo.

Na avaliação da especialista, "isso trará riscos, não apenas de eventuais conflitos que ocorram aumentarem de proporção por conta da presença da arma, como pela possibilidade de que essas armas sejam tomadas por eventuais criminosos".

A delegada Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), diz que o porte de arma não é apenas um direito, mas um dever do policial. Questionar o direito ao porte, segundo ela, é "enfraquecer a linha de proteção da sociedade".

"O policial, dada a sua atribuição, jamais estará fora de serviço. Ele poderá estar em horário de folga e gozando férias ou licença, mas não irá perder a condição de policial e as prerrogativas do seu cargo", afirma a delegada.

Segundo ela, "não existe nenhuma situação impeditiva ou ilegal para que o policial esteja portando sua arma". "No caso da foto, o porte não está ostensivo, está velado, coberto pelo paletó. Então, não há nenhuma irregularidade, muito pelo contrário."

Já Rafael Alcadipani, professor de gestão pública da FGV (Fundação Getulio Vargas), diz que "hospital não é ambiente propício para esse tipo de demonstração". "O problema é se você tem que utilizar essa arma em algum momento, em um local onde as pessoas estão com dificuldade de locomoção, em tratamento", afirma.

Em nota, o hospital Vila Nova Star disse que não permite a entrada de pessoas armadas, salvo as exceções previstas em lei.

"O hospital Vila Nova Star acolhe integralmente a legislação legal brasileira. Cabe citar, além disso, que as normas de segurança que regem a internação do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro, neste hospital são de responsabilidade do Gabinete de Segurança Institucional, a quem o questionamento deve ser dirigido", diz o texto enviado ao UOL.

Também em nota, o GSI informou que inspeciona todas as pessoas que entram no hospital onde Bolsonaro está internado. Disse ainda que Eduardo Bolsonaro "está previamente cadastrado no GSI, além de ter amparo legal para portar arma em todo o território nacional".

Na manhã de hoje, Eduardo repetiu o gesto e fez questão de comentar que carregava uma pistola ao participar de uma reunião com empresários na sede da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), no Rio de Janeiro. Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o deputado disse, no entanto, que ninguém precisava ter medo.

Ele costuma se manifestar em suas redes sociais como defensor do porte de armas. Hoje, disse em tom de "conselho" para que as pessoas "nunca terceirizassem sua segurança", postando um vídeo sobre uma norte-americana que defende o armamentismo numa sessão do Congresso dos EUA.

Eduardo está em plena campanha para conseguir uma indicação a embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Seu pai já deixou claro que tem intenções de indicar o filho para o posto em Washington, vago há dez meses.

A arma na cintura de Eduardo também foi assunto quando o deputado gravou, em julho, uma participação no Programa Silvio Santos, do SBT.

Em uma imagem divulgada por ele nas redes sociais, a pistola aparece mais uma vez em sua cintura, assim como na foto em que ele aparece ao lado do pai no hospital. No seu casamento, em maio, Eduardo fez alusão às armas usando um prendedor de gravata dourado no formato de um revólver.

Bolsonaro caminha pelo corredor do hospital; veja

TV Folha