Dilma diz que Bolsonaro defende violência e vê situação do país "crítica"
A ex-presidente Dilma Rousseff disse em entrevista ao jornal francês L'Humanité que o presidente Jair Bolsonaro "defende claramente o ódio e a violência". Ela ainda afirmou que os ataques feitos por Bolsonaro mostram "desconsideração por debates e opiniões diferentes" e afirmou que a situação do país é crítica, ao falar sobre o ex-presidente Lula:
Se é possível condenar e manter na prisão um ex-presidente que tem a liderança de Lula, então tudo é possível"
Dilma começou a entrevista respondendo sobre ataques que foram citados por Edison Lanza, relator especial para a liberdade de expressão da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. Ele disse se preocupar com "um ataque no Brasil aberto, democrático e plural".
"Essas agressões afetam as mulheres de uma maneira extremamente misógina, como demonstrado pelas declarações do presidente Jair Bolsonaro contra Brigitte Macron e a diretora de direitos humanos da ONU Michelle Bachelet. O presidente lida com tortura, assassinatos políticos e a ditadura militar. Ele defende claramente o ódio e a violência. Ele ameaça a Constituição quando declara que basta um chefe e um general fecharem o Parlamento brasileiro. (...) Quanto aos direitos sociais, ele tem uma posição muito clara."
Dilma citou a situação das queimadas na Amazônia, entre outros temas. "Bolsonaro e seu governo dizem que sentem dores pelos empreendedores porque, aos seus olhos, eles seriam os explorados. A proteção do meio ambiente, da Amazônia, dos povos indígenas é um absurdo para Jair Bolsonaro. Todos esses ataques testemunham sua imensa desconsideração por debates e opiniões diferentes. O governo acredita que a Constituição dos Cidadãos de 1988 é responsável pelos 'absurdos' das conquistas dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT)".
Preocupação com a soberania
A ex-presidente foi dura ao falar que a soberania do país está em risco, como defendeu em um simpósio do PT no começo do mês. Para ela, "a soberania é a base da nação brasileira". Dilma afirmou que três pontos a convencem disso: privatizações, falta de cuidados com povos indígenas e com o meio ambiente e a questão da educação.
"O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Somos o último país a abolir a escravidão, após 350 anos de existência do sistema. (...) Para sustentar a luta contra as desigualdades e manter os ganhos alcançados, é essencial garantir à população excluída uma educação de qualidade. Se você deseja entrar na economia do conhecimento, o país deve promover as ciências básicas, tecnologias, pesquisa e inovação fornecidas pelas universidades federais. Mas o governo de Bolsonaro quer privatizar a universidade pública federal, a mesma que permite aos pobres o acesso à educação", analisou ela.
Vaza-Jato e Lula
Dilma Rousseff foi questionada sobre os vazamentos do site The Intercept e acusou a direita de aprisionar Lula para calá-lo. "A operação Lava Jato foi a principal ferramenta contra o inimigo. A guerra judicial é usar a lei para destruir cidadãos e também candidatos. Sou totalmente a favor da luta contra a corrupção e a demonstrei durante o meu último mandato. Mas a Operação Lava Jato se tornou um instrumento político para remover qualquer possibilidade de a esquerda manter o poder e retornar ao poder. As revelações do The Intercept demonstraram. O juiz Sergio Moro não foi imparcial. Ele agiu a favor da acusação."
Questionada por que Lula segue preso, apesar dos vazamentos, Dilma opinou: "Lula permanece na prisão porque, se ele sair, modificará o atual equilíbrio de poder. Lula representa a luta pela democracia. Representa a ideia de que outro Brasil é possível, que outro governo pode existir. Um governo que consideraria movimentos sociais, mulheres e organizações negras. Um governo que traga questões sociais, democráticas, mas também relacionadas à soberania, preservando nossos recursos econômicos, ambientais e de defesa da educação. (...) É difícil manter as acusações contra Lula. Mas eles o mantêm na prisão. Essa situação é reveladora do meu ponto de vista da crise na Justiça no Brasil. (...) Se é possível condenar e manter na prisão um ex-presidente que tem a liderança de Lula, então tudo é possível. A situação é muito crítica. Daí a importância da solidariedade."
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