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Militares brasileiros perdem primeiras batalhas no conflito entre EUA e Irã

O presidente Jair Bolsonaro (esq.) participa de cerimônia no Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino - 28.nov.19/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (esq.) participa de cerimônia no Palácio do Planalto Imagem: Ueslei Marcelino - 28.nov.19/Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

08/01/2020 04h00Atualizada em 08/01/2020 12h20

Resumo da notícia

  • Itamaraty encabeça apoio a Trump, e Forças Armadas perdem espaço com Bolsonaro
  • Militares não tiveram sucesso ao tentar evitar manifestação de apoio do Brasil a um dos lados do confronto
  • Generais e técnicos da área econômica chegaram a alertar para riscos geopolíticos e de prejuízo comercial
  • Bolsonaro já disse que não pretende embarcar o Brasil em "aventura"

Desde que se iniciou a escalada do conflito entre os Estados Unidos e o Irã, o Ministério das Relações Exteriores tem liderado a formulação da política brasileira em apoio ao governo de Donald Trump. Contrários ao envolvimento brasileiro no episódio, os militares perderam força perante o presidente Jair Bolsonaro.

A relação entre Estados Unidos e o Irã, que já não era boa, tornou-se crítica no último dia 2 devido ao assassinato do general iraniano Qassim Suleimani por forças militares norte-americanas durante um ataque ao aeroporto de Bagdá, no Iraque.

Em casos internacionais como este, é normal que o Itamaraty siga à frente das negociações — mesmo com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de recesso fora do país.

No entanto, nos bastidores, os militares tentaram tomar a frente junto ao presidente para evitar manifestações de apoio do Brasil a qualquer dos lados do conflito. Não conseguiram.

Publicamente, o Brasil é um dos países que mais têm apoiado a ação de Trump. Quando indagado sobre possíveis exageros nas atitudes do mandatário dos EUA, Bolsonaro declarou que não tecerá críticas ao presidente norte-americano.

No dia seguinte ao ataque, o Itamaraty soltou nota manifestando apoio explícito aos Estados Unidos e deixando de lado uma neutralidade mais costumeira no histórico da diplomacia brasileira.

Generais e técnicos da área econômica com acesso ao presidente chegaram a aconselhá-lo sobre os riscos geopolíticos e de prejuízo comercial com o alinhamento automático. Mas nem por isso Bolsonaro voltou atrás.

O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia das Forças Armadas no Planalto - Evaristp Sá - 9.dez.19/AFP  - Evaristp Sá - 9.dez.19/AFP
Bolsonaro participa de cerimônia das Forças Armadas no Planalto
Imagem: Evaristp Sá - 9.dez.19/AFP

Na segunda, autoridades iranianas convocaram a encarregada de negócios da Embaixada do Brasil no Irã, Maria Cristina Lopes, a prestar esclarecimentos. Na linguagem diplomática, a atitude é vista como uma repreensão.

Bolsonaro diminuiu a importância do episódio. Disse ontem à imprensa que a medida é um "direito deles, como é meu também" e que uma eventual ação recíproca será discutida quando Araújo retornar ao Brasil.

O Itamaraty ainda instruiu oficialmente diplomatas brasileiros que não compareçam a cerimônias em homenagem a Suleimani, segundo circular obtida pelo jornal Folha de S.Paulo.

O acúmulo desses fatos deixou os generais brasileiros apreensivos. Na semana passada, o UOL mostrou que os militares já estavam descontentes com um envolvimento maior do Brasil na briga.

Para piorar, o governo havia aceitado sediar no Brasil um encontro entre aliados militares dos EUA para debater a situação no Oriente Médio e no Golfo. A realização da conferência está prevista para daqui a quatro semanas, nos dias 5 e 6 de fevereiro, e deverá servir como mais uma manifestação de apoio a Trump.

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Saliva para Trump, saliva para os militares

Nesta terça-feira, Bolsonaro resolveu acalmar a tropa, sem no entanto ceder.

Pela primeira vez desde o aumento das tensões, o presidente da República se reuniu com a alta cúpula militar brasileira para diminuir o descontentamento dos generais.

O encontro aconteceu em almoço fechado no Ministério da Defesa com o ministro da pasta, general Fernando Azevedo e Silva, o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, e os comandantes das três Forças — Exército, Marinha e Aeronáutica.

Bolsonaro não quis falar após a reunião. Também não voltou atrás nas declarações pró-Trump,

Quando questionado sobre o apoio aos Estados Unidos no caso de guerra e sobre o poderio das Forças Armadas brasileiras, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, respondeu que não comentaria, "por enquanto".

Apesar dos acontecimentos recentes e do preterimento dos militares em suas decisões, Bolsonaro sinalizou aos generais que não pretende colocar o Brasil em uma "aventura", como ele mesmo disse.

O presidente afirma que seu estoque de saliva é do "tamanho de um reservatório de piscina".

Por enquanto, é isso o que Bolsonaro está usando: saliva para todos os lados.

Saliva para apoiar Trump e saliva como unguento das feridas deixadas nos militares brasileiros, abatidos na disputa com o Ministério das Relações Exteriores.

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