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Itamaraty endossa ataque dos EUA e diz que enfrenta "flagelo do terrorismo"

28.jun.2019 - Os presidentes dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, se cumprimentam durante a reunião do G20 no Japão, em junho - Kevin Lamarque/Reuters
28.jun.2019 - Os presidentes dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, se cumprimentam durante a reunião do G20 no Japão, em junho Imagem: Kevin Lamarque/Reuters

Do UOL, em São Paulo

03/01/2020 20h50Atualizada em 03/01/2020 22h00

Resumo da notícia

  • A diplomacia do Brasil endossou o ataque dos EUA que matou um dos principais chefes militares do Irã, o general Qasem Soleimani
  • "O Governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo", disse o Itamaraty
  • O Itamaraty também afirmou que o Brasil está pronto para ajudar a "evitar uma escalada de conflitos"
  • O Irã é o maior parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio

O Itamaraty endossou na noite desta sexta-feira (3) o ataque dos EUA que matou um dos principais chefes militares do Irã, o general Qasem Soleimani, e disse que apoia a "luta contra o flagelo do terrorismo".

"Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o Governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo", disse o Ministério das Relações Exteriores em nota.

O Itamaraty também afirmou que "o Brasil está igualmente pronto a participar de esforços internacionais que contribuam para evitar uma escalada de conflitos neste momento."

Horas antes da publicação da nota, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse em entrevista ao programa Brasil Urgente, da Band, que o país "não tem forças armadas nucleares para poder dar opinião tranquilamente sem sofrer retaliações" a respeito do ataque dos EUA ao Iraque.

No entanto, Bolsonaro também afirmou que a posição do Brasil é de "se aliar a qualquer país do mundo no combate ao terrorismo", e que "a vida pregressa dele [Suleimani] era voltada em grande parte para o terrorismo."

Segundo a Folha, a posição brasileira representa uma vitória da chamada ala "ideológica" do governo sobre a ala militar, que defendia uma posição de neutralidade no conflito. A visão dos militares é de que o Brasil não ganha nada com o alinhamento aos EUA nesta crise no Oriente Médio.

O Irã é o maior parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio. Entre janeiro e novembro de 2019, o Brasil exportou US$ 2,1 bilhões em mercadorias para o país. O Brasil tem saldo positivo na balança comercial com o país (US$ 2,02 bilhões), vendendo principalmente milho, soja, carne bovina e açúcar.

O comunicado do Itamaraty também diz que "o Brasil acompanha com atenção os desdobramentos da ação no Iraque, inclusive seu impacto sobre os preços do petróleo".

A Petrobras anunciou na noite desta sexta que "seguirá acompanhando o mercado e decidirá oportunamente sobre os próximos ajustes nos preços" dos combustíveis. O petróleo Brent, valor de referência internacional, fechou em alta de 3,6%, a 68,60 dólares por barril.

Leia a nota completa do Itamaraty:

Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o Governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo.

O Brasil está igualmente pronto a participar de esforços internacionais que contribuam para evitar uma escalada de conflitos neste momento.

O terrorismo não pode ser considerado um problema restrito ao Oriente Médio e aos países desenvolvidos, e o Brasil não pode permanecer indiferente a essa ameaça, que afeta inclusive a América do Sul.

Diante dessa realidade, em 2019 o Brasil passou a participar em capacidade plena, e não mais apenas como observador, da Conferência Ministerial Hemisférica de Luta contra o Terrorismo, que terá nova sessão em 20 de janeiro em Bogotá.

O Brasil acompanha com atenção os desdobramentos da ação no Iraque, inclusive seu impacto sobre os preços do petróleo, e apela uma vez mais para a unidade de todas as nações contra o terrorismo em todas as suas formas.

O Brasil condena igualmente os ataques à Embaixada dos EUA em Bagdá, ocorridos nos últimos dias, e apela ao respeito da Convenção de Viena e à integridade dos agentes diplomáticos norte-americanos reconhecidos pelo governo do Iraque presentes naquele país.

Como foi o ataque

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O chefe militar iraniano Qasem Soleimani, morto em um atentado dos EUA no aeroporto de Bagdá, no Iraque
Imagem: KHAMENEI.IR / AFP

O ataque coordenado pelos EUA contra um aeroporto em Bagdá, no Iraque, matou Qasem Soleimani, o chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds do Irã, considerado um dos homens mais importantes do país. Além dele, ao menos outras sete pessoas morreram. Entre elas estava Abu Mahdi al-Muhandis, comandante de milícia do Iraque, apoiada pelo Irã. A milícia da qual ele fazia parte também atribuiu a morte aos EUA.

Naim Qassem, segundo na linha de comando do Hezbollah no Líbano, também seria uma das vítimas.

A Guarda Quds é uma força de elite do exército iraniano e teria sido responsável pela invasão da Embaixada dos EUA, em Bagdá, no início desta semana.

Pentágono diz que ataque foi ordenado por Trump

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Imagem: LEAH MILLIS

O Pentágono confirmou que o ataque aconteceu "sob ordens do presidente" Donald Trump. "Os militares dos EUA tomaram medidas defensivas decisivas para proteger o pessoal dos EUA no exterior, matando Qasem Soleimani", afirmou em nota.

"Este ataque teve como objetivo impedir futuros planos de ataque iranianos. Os Estados Unidos continuarão a tomar todas as medidas necessárias para proteger nosso povo e nossos interesses, onde quer que estejam ao redor do mundo", concluiu.

De acordo com o Pentágono, Soleimani "orquestrou" ataques em bases de coalizão no Iraque ao longo dos últimos meses e aprovou os "ataques" na embaixada dos EUA em Bagdá, ocorridos no início desta semana.

Horas após a confirmação da morte de Soleimani, a embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, que na terça-feira foi alvo de um ataque por uma multidão pró-Irã, recomendou a seus cidadãos que deixem o Iraque "imediatamente".

Aiatolá do Irã fala em "vingança"

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Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei
Imagem: Morteza Nikoubazl

O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, afirmou que vai "vingar" a morte de Soleimani e decretou três dias de luto nacional no país.

"O martírio é a recompensa por seu trabalho incansável durante todos estes anos (...) Se Deus quiser, sua obra e seu caminho não vão parar aqui e uma vingança implacável espera os criminosos que encheram as mãos com seu sangue e a de outros mártires", afirmou Khamenei em sua conta no Twitter em farsi.

Khameni nomeou o vice de Qasem Soleimani, o general Esmail Ghaani, como novo chefe das Forças Quds. O programa da força "permanecerá inalterado em relação ao período de seu antecessor", afirmou o aiatolá.

O primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdel Mahdi, afirmou nesta sexta-feira que o ataque vai "desencadear uma guerra devastadora no Iraque". "O assassinato de um comandante militar iraquiano que ocupava um posto oficial é uma agressão contra o Iraque, seu Estado, seu governo e seu povo", afirmou.