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Lula rechaça Huck como "centro-esquerda" e quer diálogo com evangélicos

Do UOL, em São Paulo

15/01/2020 21h45

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o apresentador Luciano Huck, virtual candidato às eleições presidenciais, não representa a centro-esquerda e considerou a possibilidade de dialogar com evangélicos já no próximo pleito. A declaração foi feita durante longa entrevista concedida à rede TVT, exibida na noite de hoje.

Bastante à vontade diante das câmeras, Lula afirmou que Huck não representa a "centro-esquerda" e sim, a "Central Globo de Televisão". (Assista a entrevista, na íntegra, abaixo)

"O Luciano Huck não representa a centro-esquerda, ele representa a Central Globo de Televisão. É isso que ele representa neste momento. Quem da centro-esquerda está com ele? Ninguém. Na verdade, Huck está sendo discutido pelo dono da Ambev, o novo formador de quadros políticos do Brasil", afirmou Lula. "Mas ainda é muito cedo para definirmos qual é o espectro político de Huck".

Lula também não descartou a possibilidade de conversar com evangélicos, base eleitoral que ajudou a eleger o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Eu quero mostrar a eles quem mais os tratou com respeito. Quem foi? O respeito que eu tinha com eles... Eu quero que você vá perguntar para o seu Edir Macedo, para o seu Crivella, quem foi que os tratou melhor, com mais respeito e mais decência?!", questionou.

Eu vou conversar com essa gente, o PT precisa conversar

"Eu vejo a agressividade que os pastores falam em alguns programas de televisão, é uma coisa muito agressiva, é quase que uma coisa violenta. Você pede dinheiro pra pessoa de uma forma agressiva, você promete um milagre pra pessoa de forma agressiva, ai se não acontece um milagre, ainda assim, é você que é culpado, porque você não tem fé. Que história que é essa?! Então, eu acho que existe espaço para se discutir religião nesse país. E eu quero entrar nessa. Tenho até um jeitão para ser pastor", afirmou, em tom bem-humorado.

Durante a entrevista, Lula voltou a citar a importância do PT, sendo definido por ele como o "mais importante partido de esquerda da América Latina".

"É muito difícil você imaginar alguém se eleger sem o apoio do PT. Não estamos falando de qualquer partido, estamos falando do partido mais importante de esquerda da América Latina", avaliou. "Quando as pessoas falam que o PT não gosta de fazer aliança, a gente mostra o contrário. O PT não tem problema de apoiar companheiros. Aqui em São Paulo é sabido que o Haddad não quer ser candidato. Não vamos forçar. Vamos ter que escolher outro companheiro", garantiu.

Ao debater fake news, Lula reclamou de uma foto publicada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e o chamou de "medíocre". "Na semana passada, sem nenhum critério, o Bolsonaro postou uma foto minha e de [Mahmoud] Ahmadinejad [ex-presidente do Irã] nas redes sociais e dizendo: 'Lula fez acordo para enriquecer mais de 20% do urânio'. Nós publicamos um texto do jornalista Clóvis Rossi (1943 - 2019) para provar como ele é medíocre".

Mesmo diante de tantas críticas, o petista garante que não torce para que o governo de Bolsonaro dê errado. "Até porque, se der, quem vai sofrer mais é o pobre".

"Emagreci nove quilos na cadeia"

Condenado a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP), Lula foi solto em novembro do ano passado, depois de passar mais de um ano na cadeia, em Curitiba (PR),

O ex-presidente afirmou que emagreceu nove quilos no período, mas não enfrentou depressão.

"Eu estava com saúde, tinha um colchão, papel higiênico, sabonete, comprava um café. Toda a vez que eu tinha alguma coisa, eu pensava: "Estou melhor que o povo lá fora". Não tive depressão, mas emagreci nove quilos".

Lula também relembrou a notícia sobre a morte do neto, e que ficou com remorso.

"[Morte de neto] Não se supera. E você fica com um pouco de remorso. Eu pensava 'Se eu estivesse livre, em casa, eu poderia ter levado para um hospital'. A gente fica com isso na cabeça", afirmou. "Mas o que me deixou meio put* foi a morte do meu irmão. Eu queria ir ao enterro e não me deixaram. Então, a gente vai aprendendo a lidar com esse sofrimento", completou.

"Eu sobrevivo. Tenho uma aposentadoria"

Em julho de 2017, o juiz Sergio Moro - hoje ministro da Justiça - ordenou o bloqueio de cerca de R$ 14 milhões, que envolviam imóveis e contas bancárias em nome do ex-presidente, por considerar a medida necessária para que seja feita a reparação de danos à Petrobras. Em 2018, havia cerca de R$ 16 milhões em bens pertencentes ao petista congelados.

"Eu sobrevivo. Tenho um salário de aposentadoria, recebo uns 8 mil e poucos reais... Eu sou um cara de baixo consumo. Não vou a restaurante, não vou a boteco, não paro em balcão", disse Lula ao comentar sobre sua atual situação financeira.