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Glenn Greenwald vê denúncia do MPF como ataque à liberdade de imprensa

Do UOL, em São Paulo

21/01/2020 15h01Atualizada em 21/01/2020 20h33

Resumo da notícia

  • Jornalista Glenn Greenwald divulgou vídeo no qual critica a denúncia do MPF do qual é alvo no âmbito da Operação Spoofing
  • Segungo o cofundador do site The Intercept Brasil, denúncia é ataque à liberdade de imprensa do Brasil
  • Greenwald lembrou ainda que procurador responsável por denúncia também denunciou presidente da OAB por criticar Sergio Moro
  • The Intercept Brasil vê tentativa de criminalização do jornalismo e lembrou que análise da PF "não imputou qualquer conduta criminosa a Glenn"

O jornalista Glenn Greenwald divulgou na tarde de hoje um vídeo nas redes sociais no qual critica a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF), da qual é alvo. Segundo a decisão, Greenwald — um dos fundadores do site The Intercept — é acusado de participar indiretamente da invasão de celulares de autoridades brasileiras.

A denúncia foi feita no âmbito da Operação Spoofing e aponta a prática de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Para o MPF, mesmo sem ser investigado ou indiciado, o jornalista auxiliou, incentivou e orientou o grupo de hackers que invadiu celulares e divulgou mensagens via imprensa.

"É um ataque a liberdade de imprensa, o STF, as conclusões da PF e a democracia brasileira. Nós vamos defender uma imprensa livre. Não seremos intimidados pelo abuso do aparato do estado nem pelo governo Bolsonaro", registrou Glenn Greenwald no Twitter.

A denúncia é assinada pelo procurador Wellington Divino de Oliveira. Em agosto, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu investigações contra o jornalista, sob risco de ferir a liberdade de imprensa.

"Provavelmente você já ouviu a notícia sobre a denúncia criminal que o Ministério Público fez contra mim por causa da reportagem que estávamos fazendo desde junho sobre a corrupção grave dentro da força-tarefa da Lava Jato e para o então juiz Sergio Moro. Gostaria de discutir alguns fatos com vocês", iniciou Greenwald.

"Primeiramente, o procurador que levou essa denúncia é o mesmo procurador que tentou criminalizar o Felipe Santos Cruz (presidente da OAB) por criticar Sergio Moro. Obviamente, ele está abusando de seu cargo para atacar inimigos políticos", acrescenta, indo além.

"Segundo: a própria Polícia Federal, sob o comando do ministro (da Segurança) Moro, fez uma investigação completa e concluiu com clareza que eu não cometi nenhum crime. Muito pelo contrário: disse a Polícia Federal, sempre fiz meu trabalho como jornalista com muita cautela, responsabilidade e profissionalismo."

"Terceiro: é um ataque contra a imprensa livre, obviamente, contra nossa reportagem, mas também contra a Polícia Federal e o STF, que disse que eu não posso ser investigado — muito menos denunciado — pela minha reportagem, porque é uma violação do direito constitucional de uma imprensa livre."

"Então, isso é obviamente uma retaliação para o governo Bolsonaro. Nós nunca vamos ser intimidados, para ninguém abusando do aparato do Estado. Nós vamos continuar a fazer nosso jornalismo. Estou fazendo nosso trabalho agora para a próxima reportagem e nós sempre vamos defender uma imprensa livre", conclui o jornalista no vídeo.

Também em sua conta no Twitter, Glenn Greenwald afirmou em comunicado por escrito que "o governo Bolsonaro e o movimento que o apoia deixaram repetidamente claro que não acreditam em liberdade de imprensa".

No texto, reforça as referências à Polícia Federal, que, segundo ele, "declarou explicitamente" que "não cometi nenhum crime", tendo exercido "com extrema cautela" sua função como jornalista.

"Até a Polícia Federal, sob o comando do ministro Moro, disse o que está claro para qualquer pessoa: eu não fiz nada além do meu trabalho como jornalista — eticamente e dentro da lei", diz o texto de Glenn Greenwald.

Para The Intercept, há tentativa de criminalização

Em nota, o site The Intercept Brasil disse que a decisão do MPF contra Glenn Greenwald "causa perplexidade". O veículo vê ainda uma tentativa de criminalização do jornalismo.

Diz a nota, numerada em seis tópicos:

  1. "Os diálogos utilizados pelo MPF na denúncia são rigorosamente os mesmo que já haviam sido analisados pela Polícia Federal durante a Operação Spoofing, e acerca dos quais a PF não imputou qualquer conduta criminosa a Glenn."
  2. "A PF concluiu: 'Não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados'."
  3. "A PF destaca, inclusive, a 'postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões' por parte do jornalista cofundador do Intercept."
  4. "Glenn Greenwald não foi sequer investigado pela PF, pois não existiam contra ele os mínimos indícios de cometimento de crimes."
  5. "Causa perplexidade que o Ministério Público Federal se preste a um papel claramente político, na contramão do inquérito da própria Polícia Federal."
  6. "Nós do Intercept vemos nessa ação uma tentativa de criminalizar não somente o nosso trabalho, mas de todo o jornalismo brasileiro. Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre. A sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse."

Conversa entre Greenwald e hacker

O MPF afirma que decidiu incluir Greenwald na denúncia após análise de um MacBook apreendido com autorização da Justiça na casa de um dos investigados na Operação Spoofing. No aparelho foi encontrado um áudio de um diálogo entre o jornalista e um suposto hacker.

A conversa, segundo a denúncia, aconteceu logo após a divulgação, pela imprensa, da invasão sofrida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

No áudio, segundo o MPF, o hacker diz que as invasões e o monitoramento das comunicações telefônicas ainda eram realizadas e pede orientações ao jornalista sobre a possibilidade de "baixar" o conteúdo de contas do Telegram de outras pessoas antes da publicação das reportagens pelo site The Intercept.

O jornalista, então, teria recomendado ao hacker apagar as mensagens que já haviam sido repassadas a ele de forma a não ligá-los ao material ilícito, "caracterizando clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção a fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos".

"Greenwald, diferentemente da tese por ele apresentada, recebeu o material de origem ilícita, enquanto a organização criminosa ainda praticava os crimes", diz a denúncia.

O MPF disse, ainda, que o jornalista não era alvo das apurações, em respeito à medida cautelar proferida por Gilmar Mendes, que proibiu investigações contra Greenwald. Uma cópia da denúncia, segundo a Promotoria, será encaminhada à Procuradoria-Geral da República para que subsidie eventual pedido de revogação da decisão do ministro.

Ouça o podcast Baixo Clero (https://noticias.uol.com.br/podcast/baixo-clero/), com análises políticas de blogueiros do UOL.

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