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Cid esqueceu que PM é treinado para defender vida, diz líder de amotinados

O Cabo Sabino (Avante), líder do movimento dos policiais amotinados - Arquivo pessoal
O Cabo Sabino (Avante), líder do movimento dos policiais amotinados Imagem: Arquivo pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

20/02/2020 12h00

Resumo da notícia

  • O ex-deputado federal Cabo Sabino (Avante) lidera policiais grevistas no Ceará
  • Ele criticou ação de Cid Gomes e disse que os tiros "foram uma reação"
  • "Ele colocou um trator esmagando pessoas"
  • Para ele, o governador Camilo Santana apoiou atitude de Cid Gomes

O líder do movimento dos policiais amotinados no Ceará, o ex-deputado federal Cabo Sabino (Avante), afirmou hoje ao UOL que o senador Cid Gomes (PDT-CE) "esqueceu" que policial é treinado para proteger vidas e que os tiros que atingiram o ex-governador ontem foram uma reação.

"Quando [Cid Gomes] chegou no quartel, ele deu 5 minutos para que policiais esposas e filhos saíssem em paz. Disse que se passasse disso não se responsabilizaria. Depois ele pega esse trator e joga contra eles no quartel", afirma.

Só que ele esquece que o policial é treinado para defender a vida das pessoas, quanto mais de colegas, esposas e filhos? [Os tiros] não foram uma ação, foram uma reação. Ele colocou um trator esmagando pessoas. Aquilo não foi um atentado contra aqueles policiais, foi contra todo e qualquer policial, esposas, filhos e qualquer trabalhador
Cabo Sabino, líder dos amotinados

Cid Gomes foi baleado ontem quando tentou entrar no 3° Batalhão da Polícia Militar em Sobral (270 km de Fortaleza) com uma retroescavadeira. O lugar estava tomado por policiais militares que reivindicam aumento salarial e seus familiares. A região vive uma crise de segurança por causa do motim.

Sabino lembrou que, antes de chegar a Sobral, o senador fez um vídeo chamando "o povo de bem" de Sobral a se unir a ele para desocupar o quartel tomado por militares e famílias.

"Ele fez um vídeo incitando a população do município a combater, a enfrentar policiais. Anunciou que chegaria [às 16h] e que o povo fosse esperar ele no aeroporto, que ele ia resolver a situação. Quando chegou, [Cid Gomes] saiu nas ruas de Sobral falando, de cima de um trator, que ia resolver", disse.

Na tarde de quarta, cerca de duas horas antes do episódio, Cid Gomes publicou em suas redes sociais um vídeo em que dizia estar "chocado" com as cenas do quartel bloqueado por viaturas com pneus esvaziados.

"Quem deveria dar segurança para o povo e está promovendo a insegurança, promovendo a desordem. Eu não consigo me conformar com isso", afirmou, classificando a situação como "deplorável".

No vídeo, o senador convocou a população a encontrá-lo no aeroporto para "definir coletivamente uma estratégia para dar paz para a cidade de Sobral".

"Poderia ter uma atitude que já tive como governador, de apelar para autoridades federais e esperar que as coisas se resolvessem. Governador tem que fazer assim mesmo. Mas eu, como cidadão, estou indo agora para Sobral, que é a minha terra. É o que posso fazer no momento", disse.

Cid Gomes é baleado durante ato da PM

Governador apoiou, diz líder

Sabino acusou o governador Camilo Santana (PT) de articular junto com o senador a invasão ao quartel de Sobral ontem à tarde.

"Não tenho dúvidas de que Camilo apoiou [o ato de Cid Gomes]. Não foi uma atitude impensada: foi articulada. O senador colocou um vídeo nas redes sociais pela manhã, o governador deve ter sido o primeiro a ver. Você não acha que o governador não ligou? Com certeza teve todo o apoio do governo. Foi ação pensada e articulada", diz.

O cabo ainda criticou a ordem dada para que o Batalhão de Choque da PM fizesse a retomada do quartel de Sobral.

"Não houve fuga. Com a ação do Cid ontem, o governador —que é aliado de primeiro hora do senador licenciado— tomou uma atitude pior que o Cid, de que as forças especiais fossem a Sobral para tomar o quartel de policiais, mulheres e crianças. Em uma atitude de bom senso, os policiais resolveram desocupar por eles mesmos o quartel. Mas eles seguem no movimento, parados em suas casas", afirma.

Ainda segundo sabino, a adesão do movimento cresceu ainda mais hoje. "Os ânimos acirraram muito na própria categoria, na população, que viram ali a truculência contra os profissionais. Hoje temos uma adesão, em apenas 40 horas de movimento, de 65% da tropa, com o interior com mais de 80%" garante.

O UOL questionou a SSPDS para saber se o cálculo de adesão é similar ao apresentado pelo líder do movimento, mas não obteve resposta.

Cid Gomes agradece equipe médica

"Carnaval depende do governo"

Sobre a realização do Carnaval, Sabino diz que "depende só do governo".

"Quem decide quantos dias ficaremos parados é o governador do estado. Não queremos estar parados. Na realidade ele não quer nos ouvir para que seja construída uma proposta que possibilite ganhe real, valorização da categoria. A gente depende do governo. Se chamar hoje, a gente constrói", diz.

O cabo diz que além da proposta de reajuste salarial, a categoria tem uma demanda de melhorias estruturais. "Temos policiais atuando 70 horas semanais no interior. O governo não negocia, não nos recebe e mostra intransigência", finaliza.

Qual o motivo do motim?

Os PMs querem que o governo do Ceará refaça a proposta de reestruturação salarial enviada na terça-feira (18) para a Assembleia.

O projeto de lei prevê aumento de salário para os soldados da PM e para bombeiros de R$ 3.475 para R$ 4.500, com reajuste parcelado em três vezes até 2022.

Mas os policiais querem que o pagamento seja feito em apenas uma parcela e que seja apresentado um plano de carreira para a categoria.

Por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de 2017, greve é proibida para agentes das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e Corpo de Bombeiros.