Coronavírus: após recuo de ato pró-Bolsonaro, Witzel proíbe manifestações
Resumo da notícia
- Governador negou que proibição tenha relação com adiamento de atos pró-Bolsonaro
- Nesta semana, Witzel havia declarado categoricamente que não editaria decretos do tipo
- Decisão foi publicada em edição extraordinária do Diário Oficial do Estado
- Texto inclui outras medidas de contenção do coronavírus, como antecipação de férias escolares
O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), negou que sua decisão de proibir manifestações e atos políticos no estado tenha relação com o adiamento de atos pró-Bolsonaro originalmente marcados para este domingo (15). Witzel havia declarado que não iria editar decretos desse tipo, mas mudou de posição 48 horas depois.
Witzel publicou nesta sexta-feira (13) um decreto em edição extraordinária do Diário Oficial do Estado com uma ampla gama de medidas de contenção da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. As principais iniciativas são a suspensão de todos os eventos e manifestações com aglomeração de pessoas e a antecipação das férias em todas as escolas públicas e privadas do estado.
Entre os dois posicionamentos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desmobilizou nesta quinta-feira (12) os atos em seu apoio previstos para este domingo. As manifestações, que pregavam o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal), foram desmarcadas pelos organizadores por conta da crise do coronavírus.
Questionado pelo UOL, Witzel negou que tenha tomado a decisão de incluir no bojo do decreto também manifestações com base em um cálculo político. Não respondeu, no entanto, se essa proibição já estava em discussão na última quarta-feira (11), quando disse que notícias sobre o assunto eram "mentira de quem não tem o que fazer". O governador mostrou desconforto com a pergunta:
"Nós fomos avaliando gradativamente. Naquele momento não havia o decreto. Portanto, nós descredenciamos quem disse que havia decreto para proibir manifestações. Era importante conscientizar a população de que não partiria de mim nenhum tipo de proibição com fundamento político-ideológico. Quero deixar bem claro aqui que não administro o estado com objetivos ideológicos e políticos. Administro de forma técnica, para todas as pessoas. Manifestações são bem-vindas. Não tenho medo de manifestação de quem quer que seja, dialogo com a população. Mas precisamos avaliar a necessidade", argumentou.
Na quarta-feira (11), Witzel usou as redes sociais para distribuir ataques à imprensa, pelo fato de sites terem noticiado que ele e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), estavam elaborando decretos para proibir manifestações com foco nos atos convocados para o domingo, 15 de março.
"Mais uma vez, mentira espalhada por quem não tem o que fazer. Eu não vou fazer nenhum decreto para proibir qualquer manifestação", escreveu no Twitter.
Witzel se tornou um alvo constante de ataques de bolsonaristas nas redes sociais após o vazamento, em outubro de 2019, de um trecho do inquérito que apura a morte da vereadora Marielle Franco.
Na ocasião, a TV Globo divulgou detalhes sobre o depoimento de um porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, onde vivia Bolsonaro, dizendo que havia sido o "seu Jair" quem tinha autorizado a entrada do ex-PM Élcio de Queiroz, um dos réus pelo assassinato, no local horas antes do crime. Segundo a investigação, lá ele encontrou o policial reformado Ronnie Lessa, o outro acusado de matar Marielle.
Posteriormente, perícias feitas pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) e pela Polícia Civil comprovaram que o depoimento estava incorreto.
Witzel e Doria se elegeram surfando na onda bolsonarista, mas se afastaram de Bolsonaro logo no início de seus mandatos. Apesar de ambos se colocarem como pré-candidatos à Presidência em 2022, os governadores de Rio e São Paulo têm se aproximando nos últimos meses.
Doria viajou ao Rio para acompanhar o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, e os dois têm participado de articulações entre governadores para questionar ações de Bolsonaro e articular no Congresso medidas de interesse dos estados.
O secretário estadual de Saúde do Rio, Edmar Santos, também negou que a proibição de manifestações tenha obedecido a um cálculo político de Witzel. Assim como o governador, ele também não revelou quando a medida passou a ser discutida internamente no governo.
"Toda medida proposta pela Secretaria de Saúde tem objetivo de caráter sanitário. Vamos tirar essa conversa porque essa medida não é direcionada a um evento, mas a qualquer evento que, tendo aglomeração, possa gerar risco de transmissão", disse.
Apoiado por evangélicos Witzel silencia sobre igrejas
O decreto de Witzel lista uma ampla gama de atividades a serem suspensas. Fala em "eventos desportivos, shows, feiras, eventos científicos, comícios, passeatas e afins" e lista também "atividades coletivas de cinema, teatro e afins". Não menciona, porém, templos religiosos.
O governador tem o apoio de setores ligados à Igreja Católica e a diversas denominações evangélicas. Apesar disso, ao falar sobre as medidas que adotou, limitou-se a recomendar que pessoas com sintomas de gripe não fossem a celebrações religiosas.
Após ser perguntado diversas vezes sobre o tema, o secretário Edmar Santos afirmou que templos religiosos também podem ser incluídos no escopo do decreto.
"Quando está citado aí os cinemas e teatros está escrito 'afins'. Está dentro dali também os cultos religiosas. O papa, que é o líder de uma religião, deu o primeiro exemplo, fazendo cultos por videoconferência. Cada um dos líderes religiosos deve ver como consegue dar a assistência religiosa aos seus seguidores sem colocar o risco pessoas aglomeradas", afirmou.
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