Covid-19 leva Bolsonaro a pior momento na web; discurso une grupos a favor
Resumo da notícia
- Crise causada pelo novo coronavírus é o pior momento do presidente nas redes sociais, desde janeiro de 2019
- Ontem, um dia após o pronunciamento de Jair Bolsonaro, de todas as menções a seu nome, apenas 39% foram positivas
- Os dados são da empresa de inteligência digital AP Exata, que faz análise de big data nas redes sociais
- A militância bolsonarista, porém, voltou a se unir em defesa do presidente no WhatsApp
A repercussão amplamente negativa do pronunciamento feito por Jair Bolsonaro (sem partido), na noite da última terça-feira, consolidou a crise envolvendo a pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, como o pior momento do presidente nas redes sociais, desde que ele subiu a rampa do Palácio do Planalto. A militância bolsonarista, porém, voltou a se unir em defesa de Bolsonaro.
Bolsonaro colheu ontem sua quarta pior performance, desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2019. De todas as menções a seu nome, apenas 39% foram positivas. Os dados são da empresa de inteligência digital AP Exata, que faz análise de big data nas redes sociais, para avaliações políticas e de mercado.
A metodologia propõe a coleta de tuítes feitos por contas geolocalizadas de 145 cidades, de todas as unidades da federação. Desde o início do governo, já foram compilados aproximadamente 10 milhões de tuítes sobre Bolsonaro.
Em seu período no Planalto, apenas três dias tiveram derrotas mais acentuadas na disputa de narrativa no Twitter. Um deles também ocorreu durante a crise do coronavírus: foi 14 de março — véspera das manifestações convocadas por Bolsonaro para atacar instituições como o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal), e dia da morte do ex-ministro Gustavo Bebbiano.
Derrota em 12 de 13 dias de pandemia
Geralmente hegemônico na disputa de narrativas no Twitter, Bolsonaro viu seu desempenho derreter quando o coronavírus se tornou o principal assunto no país.
A partir de 13 de março, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) classificou a nova doença como pandemia, Bolsonaro saiu derrotado em 12 dos 13 dias. No período, teve em média apenas 44% de menções positivas — o percentual mais baixo para um período tão longo em todo o seu mandato.
A única exceção foi 21 de março, seu aniversário, quando apoiadores emplacaram hashtags lhe desejando parabéns. Ainda assim, a vitória de Bolsonaro foi apertada: 51% de comentários a favor, e 49% contra.
Anteontem, em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, Bolsonaro voltou a contrariar orientações científicas e de autoridades de saúde, inclusive de seu ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), pedindo que escolas, comércio e outras empresas voltem a funcionar, mantendo apenas os idosos e outros grupos de risco em isolamento.
O presidente usou o espaço para atacar prefeitos e governadores que adotaram medidas de bloqueio de circulação e para acusar a imprensa de impor um "clima de pavor". Ele voltou a minimizar a gravidade da doença, dizendo que, por seu "histórico de atleta", teria no máximo "uma gripezinha" ou "um resfriadinho", se contraísse o novo coronavírus. Aos 65 anos, Bolsonaro integra o grupo de risco para a doença.
As reações negativas foram imediatas, e hashtags críticas ao presidente — como "#ForaBolsonaro" e "#BolsonaroGenocida" — dominaram os assuntos mais comentados do Twitter no Brasil.
O discurso teve impacto imediato na imagem de Bolsonaro nas redes sociais: o sentimento de confiança — geralmente o mais alto relacionado a pessoas públicas nas redes sociais — despencou no fim da noite da última terça, sendo ultrapassado por sentimentos negativos como raiva, desgosto e tristeza.
A AP Exata usa a análise de sentimentos, teoria da psicologia evolutiva norte-americana, para classificar os tuítes em cada sentimento com base em machine learning.
Grupos bolsonaristas recuperam ânimo no WhatsApp
No WhatsApp bolsonarista — o UOL monitora 29 grupos desde 2018 —, a estratégia de usar o pronunciamento para municiar a militância a favor do governo funcionou parcialmente. Por um lado, a ideia de que a economia não pode parar se tornou tema único a partir das 21h da última terça-feira. Também aumentou muito o número de postagens. No grupo mais movimentado acompanhado pela reportagem, foram 322 entre 21h de anteontem e 13h de ontem.
Antes do discurso, os grupos estavam numa espécie de "pane" que não havia sido vista até então. A rede sentiu o repúdio do público à presença de Bolsonaro nos protestos do dia 15. A quantidade diária de mensagens diminuiu, e os militantes de WhatsApp, embora evitando críticas ao presidente, se dividiram entre o negacionismo da epidemia, insultos ao embaixador da China, comemoração por supostas "curas" e apoio à quarentena.
Com a fala de anteontem, a estratégia de alvo claro voltou a funcionar. Criticam-se a quarentena e os governadores, principalmente João Doria (PSDB/SP). A ideia de que vão morrer mais CNPJs (empresas) do que CPFs (pessoas) é a síntese da argumentação.
Quando se afirma que a estratégia funcionou parcialmente é porque, pela primeira vez, as críticas estão mais visíveis. Em uma mídia que é basicamente de propaganda — na maior parte dos grupos, o conteúdo é produzido por pouquíssimos usuários —, isso é uma novidade.
Há gente defendendo a quarentena, pedindo para parar com "politicagem" e ainda criticando a Medida Provisória que queria suspender contratos de trabalho por 4 meses. É um sinal de enfraquecimento do "núcleo duro" bolsonarista.
Os grupos públicos bolsonaristas de WhatsApp são tradicionalmente o lugar das mensagens mais violentas, que depois viralizam para grupos particulares. Em geral, quem critica é rapidamente excluído. Não aconteceu até agora.
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