Gusttavo Lima quer ser presidente: como cantor se posicionou em 2022?
Gusttavo Lima anunciou nesta quinta-feira (2) que deseja se candidatar à Presidência em 2026. O entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que recebeu o apoio do sertanejo na tentativa de reeleição em 2022, encarou o movimento como uma traição.
O que aconteceu
Gusttavo Lima apoiou Bolsonaro em 2022. Em outubro daquele ano, ele almoçou no Palácio da Alvorada com o então presidente e outros sertanejos. O cantor ainda convocou seus seguidores a apoiarem o então candidato do PL.
Na época, sertanejo falou em total apoio a Bolsonaro. "Eu tenho certeza que todo cidadão de bem não vai abrir mão também e jamais negociará a sua família, o seu bem mais precioso. É melhor um passarinho na mão do que dois voando. Não vamos trocar o certo pelo duvidoso. Tá aqui o meu total apoio ao nosso presidente Jair Messias Bolsonaro."
Depois, cantor ainda participou de 'superlive' do ex-presidente. Às vésperas do segundo turno, Gusttavo Lima participou de uma transmissão ao vivo em apoio a Bolsonaro.
Eu acho que o país está no rumo certo. O trabalho dignifica as pessoas. É incrível o poder que o trabalho tem nas nossas vidas. O Brasil está no caminho certo, com nosso presidente a gente tem a certeza de mais quatro anos de muitas realizações. Inúmeras coisas foram positivas para o Brasil.
Gusttavo Lima, em 2022
Defesa do agronegócio. Na live, Lima defendeu o agronegócio e a atuação de Bolsonaro. "Se não fosse o agro, a gente estava lascado e na merda. Eles fazem um trabalho incrível, porque depende de clima, chuva e sol. O Brasil só precisa ter o capitão Bolsonaro na frente do barco."
Cantor afirmou estar aliado a Bolsonaro em questões ditas como polêmicas. "Defendo a questão do armamento, porque gosto de dar uns tirinhos de esporte. De vez em quando, vou na fazenda e sapeco uns tiros. Tenho um 38, é confusão na certa. Queremos um presidente também a favor da liberdade de expressão, porque a gente gosta de falar algumas besteirinhas, porque daqui a pouco não vai poder contar umas piadinhas."
Entorno de Bolsonaro vê 'traição'
Gusttavo Lima disse ontem que deseja ser presidente. A declaração incomodou bolsonaristas e arrastou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), para a polêmica.
Caiado é autodeclarado pré-candidato à Presidência e se indipôs com Bolsonaro durante as eleições municipais de 2024, com candidatos conservadores se enfrentando. Caiado saiu vitorioso com seu aliado Sandro Mabel sendo eleito prefeito de Goiânia.
Cantor teria descumprido um acordo com Bolsonaro. Ele iria se filiar ao União Brasil, partido de Caiado, e sairia ao Senado por Goiás. O cantor faria campanha alinhado com o ex-presidente, segundo teriam combinado.
Bolsonaro está inelegível até 2030, mas ainda se vê como opção viável à Presidência. Ele foi condenado em 2023 pelo TSE por uma reunião com embaixadores em julho de 2022, a pouco mais de dois meses das eleições. Nela, ele atacou, sem provas, a credibilidade do sistema eleitoral. O encontro foi transmitido pela estatal TV Brasil.
Vida vasculhada
Políticos experientes avaliam que Gusttavo Lima está sendo ingênuo. Eles contam que o cantor terá a vida devassada e situações como a investigação da Polícia Civil sobre irregularidades com bets serão exploradas.
O artista chegou a ter a prisão preventiva decretada. A operação apurava um esquema de lavagem de dinheiro por meio de casas de apostas e levou à apreensão do passaporte de Gusttavo Lima.
Os cachês de seus shows também são fragilidades a serem exploradas. Crítico da Lei Rouanet, ele terá a carreira escrutinada para saber quanto recebeu por meio do incentivo fiscal.
Situações mal explicadas retornarão à mídia. Em 2022, o artista ganharia R$ 1,2 milhão para um show na cidade de Conceição do Mato Dentro (MG). Descobriu-se que a verba só poderia ser usada em educação, saúde e infraestrutura e a apresentação foi cancelada.
Gusttavo Lima ainda recebeu isenções milionárias com um programa federal. A empresa dele, Balada Eventos e Produções, obteve acesso a R$ 18,9 milhões em benefícios fiscais via Perse somente em 2024.
A soma destes episódios pode manchar a imagem do sertanejo. A exposição e o risco ficam muito maiores em caso de tentar o Planalto. Pessoas experientes em Brasília consideram pouco provável que o cálculo político do cantor tenha levado estes fatores em conta.
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