Coronavírus: Grupos usam notícias falsas para apoiar postura de Bolsonaro
Resumo da notícia
- A cada ação do presidente contra isolamento para conter a pandemia de covid-19, milícias digitais compartilham fake news científicas sobre coronavírus
- Grupos de WhatsApp e rede sociais monitorados pela reportagem do UOL produzem e compartilham conteúdo de acordo com falas e posições do presidente
- Além de informações falsas sobre a covid-19 e novo coronavírus, grupos disseminam teorias conspiratórias e negacionistas sobre crise sanitária global
A seguinte frase pipocou no grupo de WhatsApp na manhã desta segunda (erros ortográficos mantidos pela reportagem):
"Tudo o que precisamos fazer, para vencer o vírus corona, precisamos ingerir mais alimentos alcalinos que estão acima do nível de pH do vírus." A fonte, afirma a notícia falsa, é uma revista de virologia (sem nome), página 19.
É prática constante entre grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro mensagens deste tipo. A reportagem do UOL vem monitorando estes grupos desde fevereiro, e mais uma vez fica clara a relação entre o discurso do chefe da nação e a disseminação de conteúdo que, para apoiá-lo, se baseia em afirmações distorcidas ou falsas.
O UOL voltou a acompanhar as redes bolsonaristas um dia depois de Bolsonaro contrariar todas as recomendações científicas de isolamento no combate à pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, e fazer um passeio pelo Distrito Federal.
Antes prosseguir, é importante frisar que não há remédio nem vacina descoberta ainda para frear o novo coronavírus. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde, não existe nenhuma substância — incluindo alimentos e bebidas — comprovadamente eficaz contra a covid-19.
Abaixo, segue uma lista de alimentos (limão, abacate e alho, por exemplo) que teriam o pH milagroso, capaz de matar o vírus. "Não guarde essas informações apenas para si mesmo. Passe para todos", estimula ainda a notícia falsa que atenta contra a saúde pública.
Plano chinês, ou complô de governadores
Teorias conspiratórias também prosperam no ambiente virtual.
Ganharam bastante espaço nas redes bolsonaristas aquelas sobre o "vírus chinês" criado para o país oriental desestabilizar o mandatário brasileiro e assim conseguir "comprar o Brasil todo a preço de banana". Revela-se ainda que os governadores brasileiros querem quebrar a economia para ganhar as eleições de 2022 contra o presidente.
Até a "farsa italiana" — onde as as quase mil mortes por dia no país europeu não passam de uma mentira da imprensa — e teorias de que a culpa é do PT encontram eco no ambiente virtual entre os apoiadores do presidente.
Twitter bloqueia presidente
Desde que o presidente estimulou protestos contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal) já em plena proliferação da covid-19 no país, a milícia digital de apoio ao presidente em aplicativos de mensagens e redes sociais alinhou-se rapidamente aos argumentos usados por ele.
Com a radicalização do discurso anti-isolamento a partir do pronunciamento em rede nacional de rádio e TV — quando defendeu confinar apenas grupos vulneráveis e colocou a economia acima da calamidade de saúde pública — o presidente ficou cada vez mais isolado politicamente.
Nas redes sociais, os bolsonaristas encontram dificuldade em impor seu discurso.
Nos grupos de apoio ao presidente, no entanto, não falta conteúdo cientificamente falso ou deliberadamente manipulado a partir do que afirma o presidente para municiar a milícia digital no combate de versões.
Rede de apoio conta com políticos
Como em todos os outros lugares, só se fala da pandemia. Nos grupos monitorados pela reportagem, porém, ao contrário da imprensa em geral e da opinião de médicos, cientistas, OMS (Organização Mundial de Saúde), os principais líderes mundiais e até o Twitter — que excluiu duas postagens do presidente por ir "contra informações de saúde pública" — só Bolsonaro está certo.
Sempre que o presidente faz alguma declaração sobre a pandemia, horas depois aparecem nos grupos monitorados pela reportagem notícias falsas, memes e mensagens de apoio.
A ação é potencializada no Twitter, Facebook e YouTube por bolsonaristas famosos nas redes como a deputada federal Bia Kicis (PSL-SP).
O senador Flavio Bolsonaro (sem partido), filho do presidente, valeu-se de fake news em suas redes sociais para tentar justificar as posições do pai.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) gera desinformação nas redes ao levantar dúvidas sobre as recomendações do diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde).
Gripezinha
Algumas fake news travestidas de notícias científicas são compartilhadas diversas vezes nos mesmos grupos sob medida de acordo com as falas do presidente.
Depois que Bolsonaro comparou a covid-19 a uma "gripezinha" ou um "resfriadinho", uma mensagem compartilhada diversas vezes nestes grupos de WhatsApp dizia que em Israel não havia isolamento e apenas um caso confirmado de covid-19.
"Esse corona vírus é mais fraco que a influenza, o medo é o que faz as pessoas ficarem doentes", diz a mensagem ecoando argumentos do presidente.
Outra mensagem com informações falsas, compartilhada dezenas de vezes após o presidente anunciar que mandaria o Exército fabricar hidroxicloroquina contra a doença, diz que o CEO da farmacêutica Novartis teria declarado que o remédio matava o novo coronavírus. Há testes em andamento, mas a eficácia da substância ainda não foi comprovada, e médicos repetidamente alertam para o público não recorrer à automedicação.
Economia acima de tudo
Outros argumentos ecoados nas redes sociais bolsonaristas é de que a economia não pode parar, a despeito da pandemia de coronavírus e do que acontece nos principais países do mundo.
Após convocação do presidente a uma carreata contra as medidas de isolamento, fechamento do comércio e escolas em todo o país, a atividade nos grupos de WhatsApp e redes bolsonaristas chamando para a manifestação foi intensa.
Argumentos utilizados pelo presidente e empresários apoiadores são utilizados em forma de vídeos, memes e "textões".
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