Novo ministro da Saúde, Teich disse sim a Bolsonaro após 6 h de reunião
O novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, aceitou o convite de Jair Bolsonaro (sem partido) depois de uma reunião que durou cerca de seis horas, segundo apurou o UOL.
O médico chegou ao Palácio do Planalto hoje pela manhã e conversou com o presidente até 14h30. Deixou a reunião em dúvida, mas ligou para o mandatário cerca de 60 minutos depois para informar que havia topado.
Além de Teich, estiveram na reunião o presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), Diogo Leite Sampaio, e José Bonamigo, vice-presidente. A tendência é que a entidade ajude na transição da gestão.
Aliados não relataram se houve uma conversa formal entre Teich e Mandetta nos bastidores do Planalto. Afirmam, no entanto, que a relação entre os dois é cordial.
Em nota, a AMB informou posteriormente que, ao longo da reunião, foram discutidos "os problemas da saúde no Brasil e os impactos do coronavírus".
Para a entidade, Teich é um quadro qualificado, com "perfil altamente técnico, importante para o momento atual".
"Na AMB referendamos o nome de Nelson Teich. É um nome que conta com nosso total apoio e pelo qual temos muita simpatia. Respeitado na classe médica, eminentemente técnico, gestor e altamente preparado para conduzir o ministério da Saúde", declarou Sampaio.
Quem é Teich
O oncologista Nelson Luiz Sperle Teich é um velho conhecido do presidente Bolsonaro. Consultor da campanha do então candidato a presidente, Teich é um oncologista com experiência empresarial para quem a gestão da pandemia não deve excluir o socorro econômico. Apesar disso, ele já defendeu, assim como o antecessor Henrique Mandetta, que ninguém saia de casa durante a quarentena.
Teich é carioca, viveu a maior parte da vida na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Foi na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) que se formou em medicina em 1980. Também na capital fluminense, Teich cursou suas duas especializações em oncologia: de 1985 a 1987, no Hospital de Ipanema, e entre 1987 e 1990 no Instituto Nacional do Câncer, onde fez residência médica.
Desde então, seu foco acadêmico foi unir medicina à gestão de saúde — foi estudante PhD em Health Sciences e Health Economics na Universidade York, no Reino Unido.
No mundo empresarial, ajudou a fundar o grupo COI (Clínicas Oncológicas Integradas), que presidiu até 2018, e foi sócio de Denizar Vianna — secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos- - no MDI Instituto de Educação e Pesquisa. Ele também foi o diretor-executivo da MedInsight - Decisions in Health Care e faz parte do corpo editorial da publicação especializada American Journal of Medical Quality.
Teich chegou a prestar consultoria em gestão de saúde de 2010 a 2011 para o Hospital Israelita Albert Einstein, que viria a cuidar do presidente após a facada que recebeu durante a campanha.
Da eleição à pandemia
Teich foi um dos consultores para a área da saúde na campanha vitoriosa de Bolsonaro ao Planalto, em 2018, quando foi cotado para o Ministério da Saúde. Ele perdeu a vaga para Mandetta, de perfil mais político e também reconhecido por sua proximidade à iniciativa privada.
Ele acabou trabalhando indiretamente para o governo Bolsonaro ao assessorar Denizar Vianna na Secretária de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Assim que o ex-ministro anunciou que estava de saída, o nome de Teich foi alçado a favorito para assumir a vaga. Ele foi o primeiro a se encontrar com Bolsonaro na quinta-feira (16), quando foi sabatinado pelos ministros Luiz Ramos, da Secretaria de Governo, Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral, e pelo general Braga Netto, da Casa Civil. Na ocasião, o médico ponderou sobre como enfrentar o novo coronavírus e elencou suas propostas para o ministério.
Embora uma das rusgas do presidente com Mandetta tenha sido a insistência do ex-ministro pelo isolamento horizontal (para todas as pessoas), Teich também defendeu que todas as pessoas guardem quarentena, ao contrário do que defende Bolsonaro, partidário do isolamento apenas para o grupo de risco, como idosos e doentes com problemas respiratórios crônicos.
Em 3 de abril, Teich escreveu em um artigo que por "falta de informações detalhadas e completas do comportamento, da morbidade e da letalidade da covid-19, e com a possibilidade do Sistema de Saúde não ser capaz de absorver a demanda crescente de pacientes, a opção pelo isolamento horizontal [?] é a melhor estratégia no momento".
Covid-19 e economia
O aumento da crise ministerial, no entanto, aproximou o discurso de Teich ao de Bolsonaro. Segundo a CNN, ele foi questionado na semana passada sobre a relação conflituosa entre o presidente e Mandetta. O médico fez uma longa introdução antes de defender a ideia de Bolsonaro de que a economia brasileira deve fazer parte das preocupações governamentais durante o combate aos efeitos da pandemia.
"A saúde e a economia não são antagônicas. Foi criada uma situação como se você investisse na saúde não estivesse focando na economia e vice-versa, quando na verdade os dois são equivalentes. E a gente nem está lidando com a parte social, que é fundamental. Então na prática você tem que ver todo dia o que corre na saúde, na economia e no social", afirmou.
Antes disso, disse que faltava liderança na condução da crise. "Acho que tem duas coisas que são muito ruins. Primeiro, é você não ter uma liderança, eu digo no país, que você perceba uma tranquilidade, que você perceba um equilíbrio. E aí não estou falando especificamente do Mandetta ou do presidente. Estou falando da situação."
Em um artigo intitulado "COVID-19: Histeria ou Sabedoria?", de 24 de março, o oncologista escreveu que um gestor de saúde só poderia atuar bem durante a pandemia se munido de informação farta. "A informação que chega a cada dia precisa ser complexa, detalhada e em tempo real. É necessário rever diariamente a realidade, os cenários, as projeções e as ações. Projeções e posições radicais e emocionais só levam a mais confusão e problema."
Fritura de Mandetta
Bolsonaro é contrário às recomendações do Ministério da Saúde, da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de especialistas sobre a eficácia da quarentena para reduzir o número de casos da covid-19. Os seguidos embates de Mandetta com Bolsonaro se arrastaram por dois meses, até que o ex-ministro decidiu entregar o cargo.
"Sessenta dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante", afirmou ele em entrevista à Veja.
Mandetta já havia criticado Bolsonaro em uma entrevista ao Fantástico no último domingo, quando disse que o brasileiro não sabe se escuta ele ou o presidente.
Ainda na quarta-feira (15), o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, chegou a anunciar sua demissão do Ministério da Saúde — depois rejeitada por Mandetta. Segundo Oliveira, esse processo vem já há algum tempo e que a mensagem era se preparar para sair junto com o ministro.
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