Bolsonaro ataca quarentena: "Não está difícil saber o que nos espera"
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começou o domingo com um novo ataque ao isolamento social, medida necessária ao enfrentamento da pandemia do coronavírus. Em sua página no Twitter, o mandatário afirmou que, se a quarentena continuar, "não está difícil de saber o que nos espera".
A mensagem é acompanhada de uma uma foto que mostra a capa de hoje do jornal "O Estado de S.Paulo". A manchete diz: "No país, 91 milhões deixaram de pagar alguma conta em abril".
Depois de demitir o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), na última sexta-feira (17), devido a divergências sobre a necessidade ou não de o governo incentivar o isolamento social, Bolsonaro partiu para o ataque contra a medida recomendada pelas autoridades de saúde em todo o planeta.
O presidente tem feito uma campanha pelo fim da quarentena sob argumento de que a medida é devastadora para a economia e pode levar ao desemprego em massa. Já o ex-ministro Mandetta caiu justamente por discordar do mandatário.
Ontem (18), Bolsonaro voltou a distorcer uma fala do diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, também para criticar a reclusão social em tempos de pandemia.
Em mensagem publicada no Facebook, Bolsonaro anexou um vídeo no qual Ghebreyesus reflete sobre efeitos negativos da quarentena na economia, em especial para os países mais pobres. No entanto, em momento algum o dirigente minimiza a necessidade de isolamento ou recomenda a volta à normalidade.
O vídeo é acompanhado de uma tradução descontextualizada de um dos trechos da fala de Ghebreyesus. "Elas [medidas restritivas] não devem ser usadas às custas dos direitos humanos."
As declarações do diretor-geral da OMS ocorreram no início da semana, quando a entidade anunciou seis recomendações para os países que querem flexibilizar ou adotar a quarentena. Trata-se, na verdade, de uma estratégia para evitar que as nações façam uma transição radical, isto é, encerrem o isolamento de um dia para o outro.
"As mortes levam mais tempo para cair. Mas, em alguns países, a transmissão parece estar em queda. O distanciamento físico está tirando a pressão fora da epidemia. Mas agora é hora de vigilância e o caso não está terminado", explicou Michael Ryan, diretor de operações da OMS.
Os seis critérios divulgados pela Organização Mundial da Saúde foram tema de uma publicação do colunista do UOL Jamil Chade.
Na visão de Ghebreyesus, a decisão de um país de sair da quarentena ou colocá-la precisa ser tomada com base na proteção de saúde humana e guiada por como vírus se comporta. "O controle deve ser retirado lentamente. Não pode ocorrer de uma vez".
Esta não é a primeira vez que Bolsonaro distorce uma fala do diretor da OMS para validar o seu discurso contra o isolamento social. O presidente tem feito uma campanha pelo fim da quarentena sob argumento de que a medida é devastadora para a economia e pode levar ao desemprego em massa.
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