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Ministério da Justiça "não confirma" pedido de demissão de Moro

Luís Adorno, Guilherme Mazieiro e Eduardo Militão

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

23/04/2020 15h29Atualizada em 23/04/2020 18h29

Apesar de interlocutores do Ministério da Justiça relatarem ao UOL que o chefe da pasta, Sergio Moro, pediu para deixar o governo Bolsonaro (sem partido), oficialmente, às 15h10 de hoje, a assessoria do ministério afirmava que o pedido de demissão "não está confirmado".

A requisição de Moro para deixar o cargo, relatada também pela Folha após Bolsonaro anunciar que trocaria o comando da PF (Polícia Federal), também foi negada à reportagem do UOL pelo deputado federal capitão Augusto (PL-SP), integrante da chamada "bancada da bala" e próximo do ex-juiz.

O deputado afirma que tem uma reunião marcada com o ministro da Justiça para a próxima terça e que, por volta das 15h30 de hoje, confirmou com Moro que o encontro está mantido.

"Fiz contato agora pouco para saber se mantém a agenda, está mantida, não pediu demissão", disse capitão Augusto à reportagem.

Entre as dúvidas que o descompasso de versões deixa, há uma certeza: há mais de uma semanas, Moro entrou na linha de tiro do bolsonarismo. Em 14 de abril, a colunista do UOL Thaís Oyama analisou tweets de Carlos e Eduardo Bolsonaro contra Moro. Eles criticavam o ministro por não se alinhar a Jair Bolsonaro, contrário ao isolamento social amplo como estratégia para combater a covid-19.

Segundo Thaís, os filhos viam Moro mais preocupado com sua própria imagem do que com o alinhamento ao governo federal. Reinaldo Azevedo, também colunista do UOL, tem análise parecida: Moro tem seus próprios planos e passou a incomodar Bolsonaro, que tenta esvaziar os poderes do ministro.

Segundo a Folha, Bolsonaro quer tirar da diretoria-geral da PF Maurício Valeixo, que foi escolhido por Moro para a função. Valeixo é homem de confiança do ex-juiz da Lava Jato.

Desde o ano passado, Bolsonaro tem ameaçado trocar o comando da PF. O presidente quer ter controle sobre a atuação da polícia. Os ministros Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) foram escalados para convencer Moro a permanecer no governo, segundo a Folha.

Crise entre Bolsonaro e Moro

No final de agosto do ano passado, a crise entre Moro e Bolsonaro chegou ao nível máximo. O presidente pediu publicamente a demissão de Valeixo após a resistência do Ministério da Justiça e da Polícia Federal de retirar o superintendente da corporação no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi - Bolsonaro alegava problema de "produtividade" apesar de o Índice de Produtividade Operacional (IPO) da unidade fluminense mostrar melhora.

Uma fonte policial experiente foi informada de que, depois do episódio de agosto, Valeixo só ficaria no cargo até fevereiro de 2020. No entanto, isso não se concretizou. A cúpula da PF informou a esse policial que estava quase tudo resolvido. No máximo, Valeixo iria tornar-se adido policial em meados de 2020, sem nenhum tipo de trauma.

No entanto, a notícia de hoje surpreendeu em parte a categoria. Um policial que acompanha o clã Bolsonaro há tempos contou que o presidente não confia em Valeixo, apesar de ele ser da confiança de Moro. Bolsonaro quer um diretor da PF que seja da sua confiança, mas, para isso, a pessoa tem que passar pelo crivo do ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato.

Como essa coincidência de interesses não ocorreu até agora, as rusgas são frequentes, embora nem sempre sejam intensa. Às vezes, elas chegam à imprensa.

Um fonte do Ministério da Justiça confirma. "Moro não está contente com a saída do Valeixo da PF", disse ele à reportagem hoje, sob condição de anonimato.