Moro e Zambelli já conversavam sobre a demissão de Valeixo desde o dia 17
Novos prints de conversas entre o ex-ministro da Justiça Sergio Moro e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) mostram que a demissão do então diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo já era tema de conversas entre eles desde o último dia 17 —exatamente uma semana antes da saída de Moro do Ministério. Os registros dos diálogos, encaminhados pela parlamentar à CNN Brasil, mostram que nessa data Valeixo já era questionado.
"Ministro, como usual, vou usar de 100% de sinceridade. O Dr. Valeixo é o nome certo para dirigir a PF? [...] Sempre apontaram coisas sobre a atitude dele na Lava Jato. Uma mudança agora seria muito bem vinda", afirma a deputada. Em outro trecho, a deputada afirma que "os casos da Lava Jato no Congresso precisam andar".
Moro responde, dando a entender que confiava no trabalho do nomeado: "O Valeixo manteve a prisão do Lula diante da ordem ilegal de soltura do desembargador lá do RS [Rio Grande do Sul]. Se algo demora da Lava Jato do STF [Supremo Tribunal Federal] não é pela PF [Polícia Federal], mas por outras pessoas".
Zambelli pede para que, então, ele converse com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "Converse olho no olho com o PR e explique tudo isso. Por favor, ministro. Pergunte onde ele quer ajudar, abra a comunicação".
Na véspera da saída de Moro do Ministério da Justiça, no último dia 23, os dois se falaram novamente sobre crise aberta pelos questionamentos ao nome de Valeixo para a direção da PF.
Depois de enviar um print de um gráfico que mostrava a movimentação da bolsa de valores, a deputada faz o apelo. "Não saia, por favor. O Brasil vai entrar em colapso. Ministro, por favor, me ouça só um pouco". Moro responde com um singelo "Olá".
"O senhor é muito mais que um cargo. O Brasil depende do senhor no Ministério da Justiça. Entendo a sua frustração, pelo amor de deus, me deixe ajudar", continua Zambelli. Na sequência, ela volta a citar uma possível nomeação de Moro no STF como barganha para que ele se mantenha no cargo.
"Vamos marcar com o presidente no Alvorada. A gente conversa e ele lhe garante a vaga no STF este ano". Moro, mais uma vez, é lacônico. "Já falei com ele hoje".
Às 18h47 do mesmo dia, Zambelli inicia um diálogo pedindo para que Moro aceite a substituição de Valeixo por Alexandre Ramagem, nome apontado como o favorito da Bolsonaro para o cargo.
"Já fui presa defendendo os seus ideais. Por favor, ministro, aceite o Ramagem e vá em setembro para o STF. Eu me comprometo a ajudar, a fazer o JB [Jair Bolsonaro] prometer ", continua. "Não estou à venda", responde Moro.
Adiante, às 19h29, a deputada questiona: "Se o presidente exonerar o Valeixo, o senhor topa conversar para ver um nome que atenda a ambos? Ou seja, a sua permanência depende da permanência do Valeixo?". Moro responde "Carla, não vou trataar essas questões por escrito. O presidente já tem todas as informações".
Deputada tentou apaziguar com um almoço
A parlamentar afirmou à CNN que "sentia que faltava liga" na relação entre Moro e Bolsonaro, apesar de já trabalharem juntos há mais de um ano.
"Achava que com uma conversa, as coisas poderiam se resolver. Liguei para a [primeira-dama] Michelle Bolsonaro, já que sou mulher e o presidente é um homem casado. Propus um jantar entre mim, Sérgio e Rosângela Moro, a primeira-dama e o presidente. Ela aceitou".
O encontro é mencionado na sequência dos prints: "Tire esta sexta e vá para casa. Domingo, o presidente e Michelle convidaram você, Rosângela, eu e Aginaldo [Oliveira, marido de Carla Zambelli] para um almoço. Vamos resolver isso de forma a ajudar o Brasil. O senhor é um pilar de sustentação do governo", afirma.
Moro diz que espera convite de Bolsonaro. "Rosângela está em Curitiba, mas eventual convite teria que partir dele [Bolsonaro], me parece", conclui.
"Não foi atitude de homem", diz Zambelli
Em entrevista à CNN Brasil, Zambelli se disse desapontada com Moro, que ontem divulgou trechos de diálogos particulares com ela. "Estava completamente desarmada, mas ele já estava armado, tirando prints. O presidente nunca abriu para nós, deputados, se Moro seria levado para o STF. A minha conversa com ele era mais íntima, por entender que estava conversando com um amigo", disse a deputada que teve Moro como seu padrinho de casamento.
"Era rotineira, a brincadeira com ele 'e aí, quando vc vai para o STF?', todos faziam. Ele brincava e dizia 'vamos esperar a hora'. Eu era conhecida como o 'pit bull no Sérgio Moro' no Congresso. Eu vivia para defende-lo. Esse é o tamanho da traição. Esse vazamento envolve a segurança nacional e eu vivi para defender esse homem"
Sobre o vazamento das conversas, Zambelli foi mais incisiva. "Não foi uma atitude de homem, não foi de um cavalheiro. Com o presidente é de igual para igual. Comigo, quem sou eu? Uma mera deputada. Eu estava conversando com o meu padrinho, não esperava isso", concluiu.
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