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Há uma conspiração demista e tucana para derrubar Bolsonaro, diz Jefferson

Tales Faria, Guilherme Mazieiro e Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em Brasília

27/04/2020 17h21Atualizada em 28/04/2020 12h06

O ex-deputado federal e presidente do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), Roberto Jefferson, acusou PSDB e DEM de complô para derrubar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele não apresentou provas, mas falou nas consequências dessa suposta conspiração — a necessidade do presidente da República negociar com o chamado centrão.

As falas foram feitas em entrevista exclusiva ao UOL nesta tarde, por videoconferência.

"É uma articulação feita a partir de São Paulo, do Fernando Henrique, do Doria, do ministro Alexandre de Moraes [do Supremo Tribunal Federal], o Moro, que é tucano lá de Curitiba. Há um grande concerto de forças para devolver ao PSDB o comando da política nacional", disse o petebista, que foi condenado e preso por envolvimento no Mensalão — esquema que ele mesmo denunciou.

Em 2005, Jefferson teve o mandato cassado e saiu dos holofotes. Agora, volta ao noticiário com a aproximação com o presidente Bolsonaro — a quem elogiou na entrevista de hoje — e após fazer um vídeo para dizer que havia um golpe em curso tramando impeachment presidencial. O material foi retuitado por Bolsonaro, que já pertenceu ao partido de Jefferson, à época do Mensalão.

Conselho para Bolsonaro

Jefferson afirmou ainda que Bolsonaro terá de "tomar cuidado" ao negociar com o chamado centrão, grupo que reúne parlamentares de partidos como o PP, PL, Solidariedade e Republicanos. Desde o início do mês, o presidente tem se aproximado de partidos do centro com ofertas de cargos na administração como parte de uma tentativa de criar uma base no parlamento.

Jefferson disse que Bolsonaro precisa ter cuidado ao negociar com partidos do centrão - grupo informal formado por DEM, PP, PL, Republicanos, MDB, Solidariedade e PSD. Desde o começo do mês, o presidente negocia a participação dessas bancadas no governo.

"Se ele vai sentar com o PP, do Ciro Nogueira, ele precisa sentar com a porta aberta, com a imprensa olhando, e escrever quais bases o PP quer apoiar e o que tem de proposta para acompanhar no governo", disse o ex-deputado.

Segundo ele, o cuidado é preciso para evitar a política de "toma lá, dá cá". "Tem que ser à luz do dia, não pode ser conversa de coxia, nem de pé de escada", afirmou.

Jefferson também declarou que Bolsonaro, até agora, "fez um governo técnico", "não fez um governo político". Segundo ele, como o presidente "não rouba e não deixa roubar", esse é o motivo de sua crise com o Congresso.

Perguntado se a prática de distribuir cargos a partidos não faz parte da velha política -algo que Bolsonaro sempre disse repudiar—, o ex-parlamentar respondeu que sim, mas destacou: "mas se estabelecem princípios". "Escreve um documento dizendo ao que veio, assina junto com o presidente, mostra para a opinião pública, que vai poder cobrar isso", disse. "É a colaboração que o partido dará ao governo, além da estabilidade política".

PTB com Bolsonaro

O presidente do PTB disse que não foi convidado por Bolsonaro para participar do governo e "ninguém no Planalto" o procurou. Ambos já estiveram nas mesmas fileiras do PTB, e Jefferson contou que não conversa com o presidente há dois anos e meio.

"Não estou próximo a ele [Bolsonaro]. Mas fiquei muito indignado de vê-lo apanhar da forma covarde com que vem apanhando. Me senti compelido, obrigado a defender o presidente Bolsonaro, mesmo sem nenhuma proximidade", declarou.

Jefferson ainda acrescentou que o PTB, seu partido, tem apoiado o presidente na Câmara dos Deputados, e que Bolsonaro terá que sentar e conversar com os demais partidos para conquistar o mesmo apoio —sem, claro, fazer "toma lá, dá cá".

O PTB tem 12 das 513 cadeiras na Câmara. A sigla faz parte do bloco com os principais partidos do centrão, com 9 partidos e 221 deputados.

Fim da Justiça do Trabalho

Presidente de um partido trabalhista, Jefferson entende que é um ganho para o país a extinção da pasta, como foi feito por Bolsonaro e que não vê necessidade na Justiça do Trabalho.

"Não tem mais que existir Ministério do Trabalho, não há mais necessidade de Justiça do Trabalho. Fui ler agora quanto é o orçamento da Justiça do Trabalho: R$ 22 bilhões por ano para resolver R$ 6 bilhões em ações trabalhistas e acordos. A Justiça do Trabalho custa quatro vez mais do que dá em soluções", disse Jefferson em conversa com o colunista do UOL, Tales Faria.

Segundo o ex-deputado, as empresas podem negociar diretamente com os trabalhadores sem necessidade de participação dos sindicatos.

"A empresa se reúne no chão da fábrica com seus empregados e discute as conveniências daquele grupo. A empresa e o grupo entendem suas necessidades, não precisam de intervenção dos sindicatos", defendeu.