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Lula diz que soube antes de operação da PF contra irmão e lamenta "guerra"

Do UOL, em São Paulo

30/04/2020 11h14

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse durante o UOL Entrevista, na manhã de hoje, que a troca no comando da Polícia Federal (PF) não pode se tornar uma guerra. Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF), em caráter liminar, barrou a nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da PF. A entrevista foi conduzida pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto.

O fato de o delegado ser amigo do Bolsonaro precisa provar se tem alguma relação suspeita? Se tiver, para o bem da própria instituição, é importante que não seja indicado alguém que tenha um compadrio com o presidente ou com a família do presidente. Mas não pode ser uma guerra a troca.

O ex-presidente negou as comparações feitas sobre uma troca na PF que fez em 2007.

"Isso não pode ser comparado. Na minha época, foi bem diferente", explicou. "O ministro era o Márcio Thomaz Bastos, e estava na hora de fazer uma mexida na PF, porque o Márcio ia sair do ministério e era um cara indicado por ele. Ele achava que [fosse importante] haver a troca do Márcio Lacerda por uma pessoa que não tivesse a relação que tinha com ele. Lacerda teve toda a liberdade que quis para trabalhar porque sempre achei que as instituições têm que ter liberdade para que o Estado brasileiro seja cada vez mais democrático", diz.

PF cumpriu mandado na casa de irmão de Lula: "Fiquei sabendo 11 h antes"

O ex-presidente relembrou a investigação que a Polícia Federal fez na casa de seu irmão, Vavá.

"Fiquei sabendo com 11 horas de antecedência que iriam fazer uma investigação na casa do meu irmão. Eu disse 'se estiverem cumprindo a lei, que cumpram, porque não é o irmão do Vavá que está sabendo, é o presidente da República'".

Apesar de não concordar, Lula lembrou que aceitou a decisão. O ex-presidente também lembrou de 2016, quando teve proibida a sua nomeação para ser ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff (PT).

"Eu, na época, não falei nada, você não vai encontrar uma frase minha contra a decisão do Gilmar (Mendes). A indicação de um ministro é papel do presidente. Alguns dias depois veio o golpe, o Moreira Franco foi indicado (por Michel Temer) e ninguém vetou", recordou.

"Mau-caratismo de Moro"

O ex-presidente comenta o discurso do ex-ministro Sergio Moro, quando anunciou sua demissão do governo Bolsonaro e citou governos anteriores quando tratou de liberdade à Polícia Federal.

"[Esse pronunciamento] só demonstra o mau-caratismo do moro. Ele utilizou o PT para atacar o Bolsonaro. Ele foi lambe-botas do Bolsonaro até o dia em que saiu. Para ser honesto, Moro poderia ter dito também que cuidamos do Ministério Público bem, que eu garantia autonomia a todos os indicados ao meu governo", disse.

Procurado pelo UOL, o ex-ministro Sergio Moro disse que não vai se manifestar.

Segundo o ex-presidente, Moro acreditava ser mais importante que o presidente da República.

Ele só queria o bônus e não o ônus da tarefa, e isso não vinga. O ministro não pode acreditar que é forte. O Moro é um juiz medíocre. Ele sequer atende a gente no depoimento olhando na cara, fica de cabeça baixa. Moro achava que no Ministério poderia ser meãs importante que o presidente e não é. E foi por isso que ele caiu.

Lula não quer ser candidato, quer ser "cabo eleitoral"

Sobre 2022, o ex-presidente descarta a possibilidade de se candidatar.

Fico olhando para a minha vida; já fui longe demais. Acho que quando chegar 2022, que o PT tenha candidato. Eu sinceramente vou estar com 77 anos quando chegar outubro de 2022. Se eu tiver juízo, tenho que ajudar para que o PT tenha outro candidato e que eu seja um bom cabo eleitoral. Quero ajudar a eleger alguém que tenha compromisso com o povo trabalhador.

O petista foi condenado em segunda instância nos casos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, imóveis atribuídos a ele no estado de São Paulo. Pela Lei da Ficha Limpa, Lula não pode se candidatar à Presidência da República.

"Moro pode ser nome forte em 2022, quero ver se está preparado para fazer isso. Uma coisa é ter proteção da toga e falar o que quiser sem poder ser retrucado. Outra é participar de debate, enfrentar rua. Isso eu quero ver. Não é um pensamento único, ele tem que ouvir o pensamento da rua", diz.

Covid-19

Lula criticou os embates de Bolsonaro com governadores e prefeitos em meio à pandemia do novo coronavírus e disse que é preciso encontrar possíveis crimes de responsabilidade do presidente no cargo para iniciar o processo de impeachment.

O governo não pode ficar brigando com governador, prefeito, precisa ser o maestro dos entes federados. Ele não cuida da pandemia, da economia, do emprego, do trabalho. Que governo é esse?

O ex-presidente ainda criticou a postura de Bolsonaro nas relações exteriores. "O meu problema com o Bolsonaro é que ele não cuida da pandemia, da economia, da política de relações exteriores... o Brasil nunca foi tão avacalhado no exterior como agora. Tinha virado protagonista internacional", disse.