Congresso atual "é grosso", uma "coisa nefasta" à democracia, diz Lula
A configuração atual do Congresso Nacional foi alvo de críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em declaração ao UOL Entrevista, na manhã de hoje, Lula afirmou que nunca um Congresso foi "ideologicamente tão grosso", o que seria "nefasto para democracia". A conversa foi conduzida pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto.
O ex-presidente fez estes comentários ao analisar a aproximação de Jair Bolsonaro com o chamado "centrão", bloco que une diversos partidos, conhecido pela barganha por cargos.
Eu às vezes acho engraçado as siglas que a gente vai criando dentro do Congresso. O Congresso é resultado da cabeça política do eleitor no dia que ele foi votar. Esses cidadãos viraram deputados. Maioria eleita é muito conservadora. Nós nunca tivemos um Congresso ideologicamente tão grosso como esse. A quantidade de militares, delegados...é uma coisa nefasta à democracia.
Lula comentou especificamente a situação do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-SP), que recentemente se aproximou do governo liderado pelo presidente Jair Bolsonaro.
"Você pega o histórico de determinadas pessoas e [elas] estarão sempre do lado de quem estiver do governo. Lamentavelmente, isso. Gostaria que não fosse assim. Quanto mais a gente lê sobre a história do Brasil, mais você percebe que essa é a cultura", disse.
Jefferson foi o responsável por denunciar o esquema do mensalão na primeira gestão de Lula como presidente da República. Na época, o ex-parlamentar era líder do PTB.
Para Lula, o Executivo tem um pé atrás com Congressos dotados de muita força política.
O Congresso não gosta de presidente forte. Congresso gosta de presidente fraco para poder pressionar o presidente.
"Mau-caratismo" de Moro
Segundo o ex-presidente, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro mostrou mau-caratismo ao citar o PT ao deixar o cargo. Na ocasião, Moro acusou Bolsonaro e disse que na gestões anteriores da Presidência não havia tentativa de interferência na Polícia Federal (PF).
Isso só demonstra o mau-caratismo do Moro. Utilizou o PT para atacar o Bolsonaro, ele foi lambe-botas do Bolsonaro até o dia que saiu. Poderia dizer que cuidamos não só da PF, do Ministério Público também. Sabe que em nenhum momento tentamos travar investigação. Poderia ter dito desculpa pelo julgamento do Lula, de que o apartamento não é do Lula.
Os governos de Lula —2003 a 2010— e Dilma Rousseff (PT) —2011 a 2016— foram os principais alvos da Operação Lava Jato, cujos processos eram comandados por Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba. Procurado pelo UOL, Moro afirmou que não iria comentar as declarações de Lula
"Foi garantida a autonomia da Polícia Federal durante esses trabalhos de investigação. É certo que o governo na época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção", afirmou o ex-ministro ao deixar o governo.
"Mas foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que fosse possível realizar esse trabalho. Seja de bom grado ou seja pela pressão da sociedade, essa autonomia foi mantida", completou Moro.
Cabo eleitoral em 2022
Lula disse que já estará com 77 anos em 2022 e tem a intenção de ser apenas um "cabo eleitoral". "Fico olhando minha vida já fui longe demais, acho que quando chegar 2022 que o PT tenha candidato. Eu sinceramente vou estar com 77 anos quando chegar outubro de 22. Se eu tiver juízo tenho que ajudar com que o PT tenha outro candidato e que eu seja um bom cabo eleitoral. Quero ajudar a eleger alguém que tenha compromisso com o povo trabalhando", disse.
O petista foi condenado em segunda instância nos casos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, imóveis atribuídos a ele no estado de São Paulo. Pela Lei da Ficha Limpa, Lula não pode se candidatar à Presidência da República.
"Para que eu fosse candidato em 2022 teria que estar com 100% de saúde, com a disposição que eu tenho agora, porque não posso ser candidato e ficar um velhinho arrastando o pé dentro do palácio, isso não é bom. Já prestei serviço para o país. Espero que o Brasil e o PT não precisem de mim".
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