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Lula volta a elogiar Doria e critica FHC: Não sobreviveu com o meu sucesso

Do UOL, em São Paulo

30/04/2020 12h31Atualizada em 30/04/2020 15h01

O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a elogiar, durante o UOL Entrevista, a postura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), no combate ao novo coronavírus e aos efeitos causados pela pandemia. A conversa foi conduzida pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto.

Para Lula, Doria tem se comportado de forma mais verdadeira do que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele estendeu o elogio a outros governadores e prefeitos.

Ele tem se comportado de forma muito mais verdadeira do que o Bolsonaro. O problema está sempre na mão de governador e prefeito, Planalto está muito distante. Bolsonaro tem ido visitar poucas coisas, tem inaugurado muita coisa militar.

"Todos os governadores têm tido comportamento mais digno, mais respeitoso com o povo do que o Bolsonaro. Ele poderia até não gostar de um ou de outro governador, mas não pode julgar a culpa. Ele tem responsabilidade enquanto presidente. Não pode governar para sua torcida organizada, mas para totalidade do povo", completou.

Em 2 de abril, Lula elogiou a postura do tucano, o que gerou uma mensagem de retribuição do governador no Twitter, interrompendo hostilidades que sempre marcaram o debate político entre eles.

Já sobre outro quadro do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula foi crítico, dizendo que esperava defesa por parte do seu antecessor no cargo durante a Operação Lava Jato.

Tenho muito desencanto pelo FHC, ele não conseguiu sobreviver com meu sucesso. Não fui um fracasso e ele não voltou nos braços do povo. Na Lava Jato em nenhum momento me defendeu, e ele sabe que sou honesto.

Bolsonaro "vai acabar com o país", diz Lula

Para o petista, o atual ocupante do Palácio do Planalto desinforma e desmobiliza a população ao se declarar contra medidas de isolamento social, que ajudam a conter a propagação da covid-19.

"Só faltou Bolsonaro falar que o vírus sai na urina", disse Lula. O petista declarou ainda que Bolsonaro "vai acabar com o país" se continuar no cargo.

"Ou a gente encontra um jeito de pegar os crimes de responsabilidade que o Bolsonaro cometeu e tira ele, ou ele vai acabar com esse país do jeito que vai", completou.

O governo não pode ficar brigando com governador, prefeito, precisa ser o maestro dos entes federados. Ele não cuida da pandemia, da economia, do emprego, do trabalho. Que governo é esse?

Lula ainda criticou a postura de Bolsonaro nas relações exteriores. "O meu problema com o Bolsonaro é que ele não cuida da pandemia, da economia, da política de relações exteriores... o Brasil nunca foi tão avacalhado no exterior como agora. Tinha virado protagonista internacional."

"Quero ser cabo eleitoral em 2022"

A mais de dois anos das eleições de 2022, o ex-presidente descartou que será candidato novamente à Presidência. Lula disse que já estará com 77 anos e tem a intenção de ser apenas um "cabo eleitoral".

"Fico olhando minha vida e já fui longe demais, espero que quando chegar 2022 o PT tenha candidato. Eu sinceramente vou estar com 77 anos quando chegar outubro de 22. Se eu tiver juízo, tenho que ajudar com que o PT tenha outro candidato e que eu seja um bom cabo eleitoral. Quero ajudar a eleger alguém que tenha compromisso com o povo trabalhando", disse.

O petista foi condenado em segunda instância nos casos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, imóveis atribuídos a ele no estado de São Paulo. Pela Lei da Ficha Limpa, Lula não pode se candidatar à Presidência da República.

Para que eu fosse candidato em 2022 teria que estar com 100% de saúde, com a disposição que eu tenho agora, porque não posso ser candidato e ficar um velhinho arrastando o pé dentro do palácio, isso não é bom. Já prestei serviço para o país. Espero que o Brasil e o PT não precisem de mim.

"Moro foi lambe-botas de Bolsonaro até o último dia"

A respeito das chances do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, o ex-presidente afirmou que não se sabe o ex-juiz federal, que o condenou no caso do tríplex do Guarujá, estará preparado para uma disputa eleitoral.

Moro pode ser nome forte em 2022, quero ver se está preparado para fazer isso. Uma coisa é ter proteção da toga e falar o que quiser sem poder ser retrucado. Outra é participar de debate, enfrentar rua. Isso eu quero ver. Não é um pensamento único, ele tem que ouvir o pensamento da rua.

Ao deixar o governo Bolsonaro, Moro reconheceu a autonomia que a Política Federal (PF) teve. Os governos de Lula —2003 a 2010— e Dilma Rousseff (PT) —2011 a 2016— foram os principais alvos da Operação Lava Jato, cujos processos eram comandados por Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba.

"Foi garantida a autonomia da Polícia Federal durante esses trabalhos de investigação. É certo que o governo na época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção", afirmou o ex-juiz em pronunciamento ao deixar o governo Bolsonaro.

Mesmo com esse elogio, Lula afirmou que o ex-ministro é um "mau-caráter". Procurado pelo UOL, Moro afirmou que não iria comentar as declarações de Lula

"[Esse pronunciamento] só demonstra o mau-caratismo do moro. Ele utilizou o PT para atacar o Bolsonaro. Ele foi lambe-botas do Bolsonaro até o dia em que saiu. Para ser honesto, Moro poderia ter dito também que cuidamos do Ministério Público bem, que eu garantia autonomia a todos os indicados ao meu governo", disse.

Lula disse ainda que Moro é "uma criatura inventada pela Globo" e que ministros não podem se achar maiores do que a República.