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Moro divulgou delação de Palocci para favorecer Bolsonaro, diz Gilmar

Gilmar Mendes (esq.) conversa com o juiz Sérgio Moro em audiência no Senado, em 2016 - Jane de Araújo/Agência Senado
Gilmar Mendes (esq.) conversa com o juiz Sérgio Moro em audiência no Senado, em 2016 Imagem: Jane de Araújo/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

02/05/2020 15h13

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes afirmou que Sergio Moro, ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça, divulgou a delação do petista Antonio Palocci à Lava Jato, a poucos dias das eleições 2018, em benefício do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que disputou a Presidência contra Fernando Haddad (PT).

Em entrevista à Rádio Gaúcha, na sexta-feira (1º), Gilmar disse que a Lava Jato foi "a mãe ou o pai" do bolsonarismo.

"Ele [Moro] estava muito próximo desse movimento político, tanto é que na eleição, no segundo turno, ele faz aquele vazamento das confissões, das delações do Palocci. A quem interessava isso? Interessava ao adversário do PT", afirmou.

"Depois ele aceita esse convite, que foi muito criticado, para ser ministro do governo Bolsonaro, cujo adversário ele tinha prendido. É toda uma situação muito delicada, se discute muito a correição ética desse gesto", prosseguiu o ministro.

Delação veio à tona na semana das eleições

Então juiz responsável pela Lava Jato no Paraná, Sergio Moro levantou o sigilo do depoimento de Antonio Palocci à operação em 1º de outubro de 2018, seis dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais. Entre as acusações de seu depoimento, o ex-ministro do governo Lula (2003-2010) disse estimar que das cerca de mil MPs (medidas provisórias) editadas nos quatro governos do PT, em pelo menos novecentas houve cobrança de propina.

Dias depois, antes do primeiro turno, Bolsonaro deu uma entrevista à TV Record em que parabenizou Palocci pelo depoimento à Lava Jato e disse que o conteúdo da colaboração mudaria o resultado da eleição.

Questionado pela Rádio Gaúcha se havia uma intenção política de Moro ao levantar o sigilo da delação, Gilmar Mendes respondeu: "A mim, me bastam só os fatos. O vazamento dessa delação, naquele momento, tinha o intuito que se pode atribuir".

A "grande contribuição" de Paulo Guedes

O ministro do STF também relatou uma conversa com o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes.

" Ele contou que, quando se tornou o responsável pela economia na equipe do Bolsonaro — não sei em que momento, se já no período do segundo turno —, pediu autorização para ir convidar o Moro, porque achava que precisava de alguém que cuidasse da lei e da ordem", contou Gilmar.

'Ele vinha nessa narrativa quando disse a ele: ministro, escreva isso na sua biografia. O senhor deu uma grande contribuição ao Brasil ao tirar Moro de Curitiba", disse Gilmar.

Sergio Moro pediu demissão do cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro no dia 24 de abril. Sua saída foi provocada pela exoneração do ex-diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Ao deixar o governo, Moro afirmou que Bolsonaro tentou interferir e receber dados sigilosos de investigações da Polícia Federal (PF). O ex-juiz presta depoimento à PF neste sábado (2) em Curitiba, no inquérito que apura se o presidente cometeu crimes por interferência na PF, em tramitação no STF após investigação aberta a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República).

Sobre esse inquérito, Gilmar Mendes disse à rádio, nessa mesma entrevista, que é preciso aguardar as apurações e afirmou que o sentimento de políticos com quem conversa em Brasília é que, neste momento, não há "nenhuma vocação" para um processo de impeachment do presidente.