Novo chefão da PF é próximo a Ramagem e também atuou na Abin
O novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, é próximo do delegado que foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre Ramagem. Desde o ano passado, os dois policiais trabalharam na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que presta assistência ao presidente da República.
A nomeação de Rolando Alexandre é mais um capítulo da crise entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-ministro Sergio Moro e o próprio Supremo. Moro deixou o governo acusando o presidente de interferir na corporação após demitir o ex-diretor da PF, Maurício Valeixo, por telefone.
Na Abin, Ramagem tornou-se diretor geral do órgão de inteligência em 2019. Para assessorá-lo, chamou Rolando Alexandre, que se tornou o secretário de Planejamento e Gestão da agência, o terceiro cargo mais importante. Entre os dois policiais federais, ficou o diretor-adjunto, o oficial de inteligência Franck Márcio Oliveira, que atua desde 2016 no posto e quase tornou-se o chefão da Abin.
Na disputa do presidente com Moro, a Abin tem um papel especial. Bolsonaro quer ter acesso a relatórios de inteligência feitos pela PF diretamente. Moro e especialistas dizem que isso é imoral e ilegal. O Sistema Brasileiro de Inteligência e a própria Abin são responsáveis por coletar essas informações —- que são diferentes dos dados de investigações criminais sigilosas —- e repassarem-nas ao presidente da República. E Bolsonaro afirma que o repasse direto é legal.
A escolha de Rolando Alexandre reflete a necessidade de Bolsonaro contornar a suspensão de Ramagem por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). E ainda mantém no comando da polícia alguém da confiança de uma pessoa próxima ao presidente. Ramagem chefiou a segurança de Bolsonaro durante as eleições de 2018 e é ligado ao vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), um dos filhos do presidente.
Com a saída de Valeixo do cargo e a suspensão da nomeação de Ramagem, a PF ficou sendo comandada pelo número dois da Casa, Disney Rosseti. Moro teria aceitado Disney no comando da corporação, mas não foi atendido por Bolsonaro.
Por isso, a nomeação de Rolando Alexandre é vista pelos policiais como uma forma de tentar pacificar a classe, em meio às denúncias de interferência na corporação. E também como um provável mandato-tampão até o STF liberar o retorno de Ramagem para a direção da Polícia Federal.
Discreto, Rolando estava evitando o assunto por esses dias. Ele dizia a a colegas que preferia não se manifestar até a decisão ser tomada pelo presidente da República.
A escolha de Rolando era dada como certa na noite de domingo (3) no Palácio do Planalto. Ela dependia apenas de o presidente da República não mudar de ideia na última hora. Segundo uma fonte militar, a nova nomeação de Ramagem estava descartada. "Nem pensar: chega de confusão", confidenciou.
"Corrupção é de caráter empresarial", disse novo diretor
Apesar dos arranjos políticos para contornar a crise entre Bolsonaro, Moro e o Supremo, a nomeação de Rolando é bem vista dentro da polícia. Ele foi agente da Polícia Federal. Também foi militar do Exército, segundo o deputado Major Vítor Hugo (PSL-GO).
Tornou-se delegado depois. Chefiou o serviço de repressão a desvio de recursos públicos em Brasília, que hoje se chama Coordenação Geral de Repressão à Corrupção. No cargo, destacou que a corrupção tinha um caráter empresarial. "Hoje a corrupção é de caráter empresarial e eles estão mais preocupados com o lucro", disse Rolando em 17 de novembro de 2015, em audiência na Câmara dos Deputados.
À época, ele chefiava 10 mil inquéritos sobre desvio de recursos públicos. Ele também quem "desenrolou" o banco de dados Palas, que reúne informações estratégicas para facilitar investigações da Polícia Federal, narrou um amigo. Segundo um delegado e um perito, Rolando é muito pró-ativo e poderia fazer uma boa gestão na casa. Rolando foi corregedor em Rondônia e chefe da PF em Alagoas.
Rolando Alexandre faz parte de um time pequeno de policiais que entende de investigações profundas envolvendo mercado de capitais e fundos de pensão, inclusive os formados por funcionários públicos no final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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