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OPINIÃO

Trevisan: "Aposta de Bolsonaro no centrão é um cenário de desespero"

Do UOL, em São Paulo

10/05/2020 04h00

Os 30 pedidos de impeachment enviados à Câmara causaram uma mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao centrão, para o qual passou a oferecer cargos de segundo e terceiro escalões do governo em troca de apoio no Congresso, não apenas para um eventual pedido aceito por Rodrigo Maia, mas também pela quantidade de vetos que já teve derrubados.

No podcast Baixo Clero #36, os jornalistas Diogo Schelp e Maria Carolina Trevisan veem a estratégia do presidente como um sinal de desespero e apontam que o caminho poderá ser traiçoeiro pelo fisiologismo dos parlamentares com quem o governo tem negociado.

"A aposta no centrão é um cenário de desespero, porque o centrão, todo mundo sabe, especificamente esses fisiologistas, eles compõem com quem interessa e não têm compromisso, podem virar as costas a qualquer momento. Mas para poder passar projetos, a Câmara e o Congresso já estão vetando a maioria das coisas que o Bolsonaro compõe, então o processo de impeachment vai amadurecer um pouquinho mais para a frente", afirma Trevisan (disponível no arquivo acima a partir de 9:06).

O primeiro cargo oficializado no Diário Oficial da União (DOU) foi a diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), que teve a nomeação de Fernando Marcondes de Araújo Leão, indicado por Arthur Lira, líder do PP.

"É preciso entender que há diferença entre você obter apoio no Congresso por meio de concessões, negociações, busca de consensos e a outra a distribuição de cargos do segundo e terceiro escalão que são cargos que são cobiçados não pelos salários, porque esse cargo, por exemplo, é um salário de R$ 16 mil, não é um supersalário, mas o que interessa? As verbas que esses cargos trazem. Imagina, um cargo de Departamento Nacional de Obras, de qualquer tipo de obra no Brasil, o que isso significa, não é?", diz Schelp.

Para o jornalista, o apoio da ala fisiológica pode ruir no futuro, quando se aproximarem as eleições. Ele também vê o apoio de Bolsonaro no centrão como demonstração de desespero.

"O que eu estou querendo dizer é que esse apoio também é muito frágil, isso mais para a frente, quando começar a chegar perto de eleições, principalmente das eleições majoritárias, todo esse apoio pode ruir de novo. É um apoio muito frágil. Então, o Bolsonaro está tentando se apoiar nos militares de um lado e no centrão de outro, mas dessa forma, então demonstra desespero, para mim isso demonstra desespero", diz Schelp.

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