Bolsonaro trocou responsável por segurança antes de reunião com Moro
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, sobre a divulgação de trechos transcritos da reunião ministerial de 22 de abril, que se referia à sua segurança pessoal e à de sua família quando disse que não conseguia trocar o comando da "segurança" no Rio de Janeiro. Porém, fez trocas nessa área antes da ocasião que é apontada pelo ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) como prova de interferência presidencial na Polícia Federal.
O Diário Oficial da União confirma que Bolsonaro na verdade promoveu o responsável pela segurança pessoal, em vez de demitir por descontentamento com o rendimento. Foi o general André Laranja Sá Corrêa, que virou comandante da 8ª Brigada de Infantaria do Exército, em Pelotas (RS). A contradição foi inicialmente apontada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, na noite de hoje.
O decreto de Bolsonaro foi publicado no DOU do dia 26 de março de 2020, ou seja, pouco menos de um mês antes da reunião na qual ele alega ter reclamado justamente da dificuldade de fazer mudanças na sua segurança, e não na Polícia Federal, como alega Moro. A promoção do general passou a valer a partir do dia 31 de março.
Além disso, o presidente escolheu Gustavo Suarez, então diretor-adjunto da Segurança Presidencial, para assumir o comando após a promoção de Sá Corrêa, o que também não indica insatisfação com o rendimento da área. À TV Globo, o Planalto não respondeu sobre quais seriam, então, as dificuldades que Bolsonaro alegava ter para fazer trocas na segurança.
"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar, se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", disse o presidente segundo transcrição do vídeo da reunião feita pela AGU (Advocacia-Geral da União).
Houve ainda uma outra troca no GSI em 28 de fevereiro, quase dois meses antes da reunião ministerial. Na medida, publicada no DOU de 2 de março, o coronel Luiz Fernando Cerqueira foi substituído pelo tenente coronel Rodrigo Garcia Otto como chefe do escritório de representação do órgão no Rio de Janeiro.
O governo sustenta que Bolsonaro se referia, na reunião, à segurança pessoal dele e de sua família, e que a ameaça de "demitir o ministro" não se referia ao então titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, já que a segurança presidencial é uma atribuição do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), do general Augusto Heleno, ministro-chefe da pasta.
A reunião ministerial de 22 de abril é investigada em um inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) após as declarações de Moro no dia em que pediu demissão do cargo alegando as interferências de Bolsonaro na Polícia Federal com a exoneração do então diretor-geral Maurício Valeixo.
Bolsonaro citou a "PF" em trecho transcrito pela AGU de outro instante da reunião ministerial.
"Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente... temos problemas... aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação. Quem é que nunca ficou atrás da... da... da... porta ouvindo o que o seu filho ou a sua filha tá comentando? Tem que ver pra depois... depois que ela engravida não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque enchou os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim. [referências a Nações amigas]. Então essa é a preocupação que temos que ter: "a questão estatégica". E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso - todos - é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá pra trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade."
Segundo afirma a AGU no documento entregue ao Supremo, há um intervalo de 50 minutos entre uma fala e outra do presidente e o termo "segurança nossa", usado por Bolsonaro, provavelmente se refere ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional), órgão da Presidência da República responsável pela segurança presidencial, versão que agora fica em xeque com a revelação das trocas justamente nessa área.
Na manifestação ao STF, a AGU defendeu que seria "literal e objetivamente equivocado" afirmar que no momento em que Bolsonaro manifesta insatisfação com o recebimento de informações de órgãos do governo essa fala possa ser interpretada como a tentativa de obter informações sigilosas de investigações da Polícia Federal.
Segundo o advogado Rodrigo Rios, que representa Moro no processo, a AGU omitiu trechos relevantes para a compreensão desse momento da reunião.
"A petição contém transcrições literais de trechos das declarações do presidente, mas com omissão do contexto e de trechos relevantes para a adequada compreensão do que ocorreu na reunião -inclusive, na parte da 'segurança do RJ', do trecho imediatamente precedente', diz Rios, em nota divulgada na noite de ontem.
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