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Grampo de preso por fraude na saúde do RJ tem citações a Witzel, diz jornal

R$ 1,5 milhão em dinheiro foi apreendido com preso apontado como operador financeiro do esquema - Divulgação Polícia Federal
R$ 1,5 milhão em dinheiro foi apreendido com preso apontado como operador financeiro do esquema Imagem: Divulgação Polícia Federal

Do UOL, em São Paulo

21/05/2020 11h14

Uma escuta telefônica realizada pela força-tarefa da Lava-Jato encontrou citações ao governador Wilson Witzel (PSC) em meio a conversas entre suspeitos de integrar um esquema de fraudes na saúde do Rio de Janeiro. Segundo reportagem do jornal O Globo, o grampo foi realizado em 9 de abril e identificou suspeitos falando sobre as ações ilegais.

Um deles é o empresário Luiz Roberto Martins, preso na semana passada em Valença, sul do estado, onde foram apreendidos com ele mais de um R$ 1,5 milhão em dinheiro e uma arma irregular. No mesmo dia da sua prisão, o empresário Mário Peixoto também foi detido acusado de ser o chefe do esquema.

Na escuta, Luiz Roberto conversa com Elcy dos Santos, ex-diretor da IDR (Instituto Data Rio), umas das organizações sociais apontadas como suspeitas de terem contratos superfaturados com o governo para a administração de UPAs (Unidade de Pronto Atendimento). Eles comentam a decisão estadual de colocar sigilo sobre contratos emergenciais da saúde por conta da pandemia do coronavírus.

Elcy parece impressionado positivamente com a medida. "Hoje o governador do Rio propôs sigilo em todos os documentos de contratação de emergência lá", diz ele. Luiz Roberto ainda duvida: "pediu sigilo?". E Elcy confirma, enfático. "Impôs sigilo, não pediu, não! Impôs! Naqueles contratos que fizeram de emergência com o governo do estado, impôs sigilo".

Assim que as primeiras denúncias sobre o esquema foram divulgadas, realmente foi imposto sigilo sobre os contratos emergenciais. No entanto, a medida foi revogada logo depois e Witzel alegou que o caso se deu graças a um erro de um servidor da secretaria de Saúde, abrindo sindicância para apurar os fatos posteriormente.

"Cachezinho" de R$ 1 milhão

O grampo também revela conversas sobre ações ligadas ao esquema, como uma na qual Luiz Roberto comenta, segundo a investigação, sobre uma propina paga por Mário Peixoto para que eles continuassem atuando.

"O nosso amigo, o meu amigo lá, está em maus lençóis. Mas já botou uma tropa de choque. Para trabalhar, está pagando um cachezinho, aquele cachezinho básico, R$ 500 mil para um, R$ 1 milhão para outro", diz Luiz Roberto para Elcy.

Segundo a Operação Favorito, desdobramento da Lava-Jato que toca as investigações, o esquema seria responsável por desviar quase R$ 4 milhões dos recursos públicos da saúde fluminense.

"Todo mundo vai preso"

Outra conversa da escuta telefônica trata da contratação emergencial de 1.400 leitos em hospitais de campanha. Luiz Roberto se mostra surpreso com o fato de a organização social vencedora ter sido o Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde), conhecida por prestar contratos de R$ 1,5 bilhão durante o mandato de Eduardo Paes na prefeitura do Rio.

"Você sabe quem foi escolhido? O Iabas. Você sabe por quanto? R$ 850 milhões", afirmou ele, se dizendo impressionado com o fato de haver pessoas tentando superfaturar respiradores de R$ 32 mil com notas fiscais de R$ 250 mil.

"Depois todo mundo vai preso. Depois de passar isso aí, nós vamos ter uma nova Lava-Jato", antecipa Luiz Roberto.