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'O Lula era um ladrão e o Bolsonaro é um facínora', diz Lobão

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

26/05/2020 11h48

Em entrevista ao UOL, o cantor e compositor Lobão disse hoje que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era um "ladrão" e que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um "facínora". Para o músico, petistas e bolsonaristas têm similaridades muito grandes, que resumem a personalidade "macunaímica" do brasileiro.

O músico, que já apoiou o PT, defendeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e endossou a candidatura de Bolsonaro, agora faz críticas ao presidente da República e ao ideólogo Olavo de Carvalho, considerado o guru intelectual do governo.

Lobão começou sua comparação ao lembrar que já foi "torcedor fanático do Flamengo", em um tempo em que o time só perdia.

"Uma vez o Flamengo ganhou com um gol de impedimento, e falei com os amigos que não conseguia ficar alegre com um gol ilícito. Acho a mesma coisa agora. Quando o PT cometeu tudo aquilo [no poder], não achei nem um pouco engraçado, mas as pessoas diziam que valia tudo para estar ali (...) É a mesma coisa com o Bolsonaro, essa desonestidade."

A coisa que o PT fazia quando você falava 'Mas e o Lula?', quando você fazia um senão, diziam 'tucano'. Agora é 'comunista'. O Lula era ladrão e o Bolsonaro é um facínora. Uma coisa não elimina a outra
Lobão, músico

Espírito brasileiro

Para Lobão, tanto petistas quanto bolsonaristas ficam "se incriminando com o rabo sujo". "É essa autocritica com impossibilidade de reconhecimento de erros", disse.

"Acho que essa foi minha grande experiência de peitar essas duas oposições. Elas têm similaridades muito grandes, principalmente no quesito da desonestidade intelectual."

E sugeriu "um estudo antropológico do brasileiro". "O que nos tornou tão desonestamente apaixonados?", questionou. "A gente toma fechada de carrinho de supermercado, tem indústria de multa."

"Tem de ter um mínimo de honestidade. É essa similaridade macunaímica da alma brasileira", afirmou em referência ao livro Macunaíma, de Mário de Andrade, que conta a história de um "herói sem nenhum caráter".

Mas Lobão diz enxergar um "ponto positivo nisso tudo". "No meio dessa brigaiada, está nascendo na sociedade um segmento que não está aguentando mais. Espero que não seja um terceiro segmento com as mesmas características (...) Espero que haja mais um senso de coletividade", afirmou.

Quem manda é o Olavo?

Lobão disse que decidiu deixar de apoiar Bolsonaro já nos primeiros meses de governo. Ele mencionou a "relação [política] incestuosa dos filhos" com o presidente e a "preponderância ideológica" sobre um governo que ele acreditava seria "republicano". "A partir de abril, eu disse pra minha mulher 'eu tenho de sair' (...) quem estava mandando era o Olavo."

O músico afirmou ter sofrido um "lapso" por não ter percebido que Bolsonaro era cria de Olavo. "Jair Bolsonaro foi inventado pelo núcleo olavista. Em 1º de marco de 2014, no aniversario do golpe militar, Olavo convidou o então obscuro deputado Jair Bolsonaro [para uma entrevista]", disse.

"Trouxe o Jair para a ribalta e começaram a chamá-lo de mito e insuflaram. Viram a resposta muito rápida; ele seria um ícone moral e incorruptível."

Olavo é o homem que está colocando fogo no circo. O Olavo é dono do governo, rege o Brasil, as pessoas têm que entender"
Lobão, músico

Lobão lembrou, no entanto, que Bolsonaro se elegeu para a Câmara dos Deputados em coligação com o PT. "Ele foi apoiador do PT até 2012, 2013", disse.

Quando finalmente decidiu abandonar o apoio ao atual governo, Lobão foi ao Twitter e escreveu "uma frase lacônica que causou uma explosão dizendo: 'O Olavo é uma farsa'".

"Aquilo teve um efeito incrível, fui banido do Twitter por dois dias, eles partiram para cima, parecia um bando de piranhas famintas, com ódio", disse. "Perdi mais de 200 mil seguidores no Twitter e mais de 100 mil no Youtube", afirmou.

Lobão parafraseou Nelson Rodrigues ao dizer que "o pior tipo de solidão é ser amado por quem você não é".

Detesto que me chamem de patriota (...), aliás, os símbolos nacionais terão de ser trocados depois de tudo isso
Lobão, músico

Lobão concluiu dizendo esperar que, no futuro, o Brasil venha a ter um "governo discreto", "uma pessoa elegante", que possa ter "independência moral e intelectual" para fazer as reformas necessárias.

"Chega de gente tosca e desse populismo. Espero que o brasileiro entenda isso, e não venha novamente com um novo salvador da pátria."