'Olavo de Carvalho rege o governo Bolsonaro', diz Lobão
O ideólogo Olavo de Carvalho criou o bolsonarismo, é ele quem "rege" e é "dono do governo" Jair Bolsonaro (sem partido). A afirmação é do cantor Lobão em entrevista de hoje ao colunista Josias de Souza, do UOL.
O músico, que já apoiou o PT, defendeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e endossou a candidatura de Bolsonaro, agora faz críticas ao presidente da República e ao ideólogo Olavo de Carvalho, considerado o guru intelectual da família do mandatário.
De acordo com Lobão, ele decidiu abandonar o governo já nos primeiros meses de mandato ao notar a forte influência de Olavo sobre o presidente. "A partir de abril, disse pra minha mulher: 'tenho de sair' (...) quem estava mandando era o Olavo."
O músico afirmou ter sofrido um "lapso" por não ter percebido que Bolsonaro era cria de Olavo.
"Jair Bolsonaro foi inventado pelo núcleo olavista. Em 1º de marco de 2014, no aniversario do golpe militar, Olavo convidou o então obscuro deputado Jair Bolsonaro [para uma entrevista]", disse.
"Trouxe o Jair para a ribalta e começaram a chamá-lo de mito e insuflaram. Viram a resposta muito rápida; ele seria um ícone moral e incorruptível."
Olavo é o homem que está colocando fogo no circo. O Olavo é dono do governo, rege o Brasil, as pessoas têm que entender
Lobão, músico
Apesar do discurso antipetista, no entanto, Bolsonaro se elegeu para a Câmara dos Deputados em coligação com o PT, lembrou o músico. "Ele foi apoiador do PT até 2012, 2013", disse.
Quando finalmente decidiu abandonar o apoio ao atual governo, Lobão foi ao Twitter alfinetar Olavo. "Escrevi uma frase lacônica que causou uma explosão dizendo: 'O Olavo é uma farsa'".
"Aquilo teve um efeito incrível, fui banido do Twitter por dois dias, eles partiram para cima, parecia um bando de piranhas famintas, com ódio", disse. "Perdi mais de 200 mil seguidores no Twitter e mais de 100 mil no Youtube", afirmou.
Lobão parafraseou Nelson Rodrigues ao dizer que "o pior tipo de solidão é ser amado por quem você não é".
Detesto que me chamem de patriota (...), aliás, os símbolos nacionais terão de ser trocados depois de tudo isso
Lobão, músico
Lula e Bolsonaro
Lobão comparou ainda o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Bolsonaro.
A coisa que o PT fazia quando você falava 'Mas e o Lula?', quando você fazia um senão diziam 'tucano'. Agora é 'comunista'. O Lula era ladrão e o Bolsonaro é um facínora. Uma coisa não elimina a outra
Lobão, músico
Para Lobão, tanto petistas quanto bolsonaristas ficam "se incriminando com o rabo sujo". "É essa autocritica com impossibilidade de reconhecimento de erros", diz. "Eu acho que essa foi minha grande experiência de peitar essas duas oposições. Elas têm similaridades muito grandes, principalmente no quesito da desonestidade intelectual "
E sugeriu "um estudo antropológico do brasileiro". "O que nos tornou tão desonestamente apaixonados?", questionou. "A gente toma fechada de carrinho de supermercado, tem indústria de multa."
"Tem de ter um mínimo de honestidade. É essa similaridade macunaímica da alma brasileira", afirmou em referência ao livro Macunaíma, de Mário de Andrade, que conta a história de um "herói sem nenhum caráter".
Fim do apoio a Bolsonaro
Lobão disse que decidiu abandonar o barco já nos primeiros meses de governo. Ele mencionou a "relação [política] incestuosa dos filhos" com o presidente e a "preponderância ideológica" sobre um governo que ele acreditava seria "republicano". Os linchamentos aos aliados também assustaram.
"Na primeira semana do governo, começaram os linchamentos. Comecei a fazer pedidos educados. Foi o linchamento do Bebbiano, Mourão, Heleno, Villas Boas, Janaina Pachoal, etc., uma humilhação", disse.
"Já a partir de abril eu falava que tinha que sair, não aguentava mais o linchamento. Quem estava mandando era o Olavo", concluiu.
Fofura postiça de Regina Duarte
Na avaliação do compositor, a nomeação de Regina Duarte para Secretaria Especial da Cultura foi "uma cortina de fumaça para se desfazer do mal-estar daquela performance asquerosa do Alvim".
Alvim foi pivô de uma crise no governo depois de copiar o nazista Joseph Goebbels em pronunciamento oficial em janeiro deste ano.
"Quando entra a Regina Duarte, eu fiquei muito preocupado e acertei na mosca. Isso parece uma cortina de fumaça cor-de-rosa para desfazer o mal-estar daquela performance asquerosa. Eu conheço o Alvim, ele é uma pessoa culta. Aquilo não foi uma coisa coincidente. Foi cuidadosamente montada", afirmou.
"Daí vem a Regina Duarte, aquela carinha fofa, vem com o papel de fofura postiça, assume com a coisa do pum do palhaço. Não tem como sobreviver mais de um mês, porque tem a coisa olavista. O Olavo é o dono do governo, rege o Brasil, está colocando fogo no circo", disse.
Para Lobão, seria utópico acreditar que a atriz tivesse alguma liberdade no cargo. Ela deixou o posto no dia 20 de maio.
"Chega de gente tosca"
Lobão concluiu dizendo esperar que, no futuro, o Brasil venha a ter um "governo discreto", "uma pessoa elegante", que possa ter "independência moral e intelectual" para fazer as reformas necessárias.
"Chega de gente tosca e desse populismo. Espero que o brasileiro entenda isso, e não venha novamente com um novo salvador da pátria."
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