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Quem governa é a família, não Bolsonaro, diz Paulo Marinho

Do UOL, em São Paulo e em Brasília*

27/05/2020 11h39Atualizada em 17/07/2020 12h06

O empresário Paulo Marinho disse hoje em entrevista à colunista do UOL Constança Rezende que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) é um "governo de família"

"Nunca vi na Presidência da República um presidente ser assessorado por três filhos dentro do Planalto. Ali é um governo de família do Brasil", disse Marinho, que é pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB e suplente de Flávio Bolsonaro (Republicanos) no Senado.

Na avaliação de Marinho, ex-aliado e apoiador de Jair Bolsonaro, a situação do governo federal hoje é "muito ruim", sobretudo após a saída de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça. Para o empresário, essa gestão familiar ficou explícita "naquela reunião da semana passada", em referência ao encontro ministerial de 22 de abril, cujo conteúdo veio à tona no inquérito que apura supostas interferências do presidente na Polícia Federal.

Nem cabe comentário, aquela reunião fala por si
Paulo Marinho, empresário e pré-candidato à Prefeitura do Rio

Na ocasião, o presidente disse que não iria esperar ninguém "foder com a minha família". Segundo o Moro que também é investigado no inquérito, essa fala revelaria a tentativa de intervenção na na PF (Polícia Federal) para o presidente proteger sua família de investigações.

Marinho revelou que sente uma decepção imensa com o governo de Bolsonaro. "Quando o mundo voltar a funcionar, já estaremos no final do ano. Praticamente o governo dele está indo para mais da metade e até agora ele não fez nada, só confusão", afirmou o empresário.

A melhor definição foi de um deputado baiano, que disse que seria o melhor interlocutor para falar com o presidente porque lá ele era chamado de doido e só um doido para falar com outro doido

O empresário também afirmou que, já durante a campanha, percebia que a imagem de "mito", muito utilizada pelos seguidores de Bolsonaro, não correspondia à realidade. "Nunca achei que ele fosse o mito", afirmou.

Covardia com Bebianno

Marinho disse que a demissão de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência da República motivou suas denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro.

Na sua avaliação, a demissão teve "requintes de covardia" com o então aliado, que foi braço direito do presidente em sua campanha eleitoral de 2018 e morreu após um infarto em março deste ano.

A demissão do Gustavo do governo, o presidente Bolsonaro, tanto ele quanto os filhos, foram em um requinte de covardia com o Bebianno que é uma coisa indescritível

O "requinte" citado por Marinho tem relação com as críticas de Carlos Bolsonaro, também filho do presidente e acusado de ser uma das peças principais do chamado gabinete do ódio. À época da demissão, Carlos chegou a afirmar que Bebianno propagava notícias falsas.

Marinho defende renúncia de Flávio

O empresário negou que tenha feito as denúncias contra Flávio por conta de seu cargo de suplente na mesma chapa. Na entrevista, ele defendeu que o filho mais velho do presidente renuncie ao cargo, e, se isso se confirmar, ele também deixaria o posto da suplência.

"O senador Flávio Bolsonaro, diante de tantas dúvidas que pairam sobre ele e o principal colaborador dele no gabinete, acho que ele não tem condições de continuar exercendo o cargo de senador. Se ele renunciar ao mandato em cima do que está acontecendo hoje, eu renuncio na mesma hora. Aí não há como duvidar de que eu não quero o lugar dele", afirmou Marinho.

Na última semana, Marinho disse, em entrevista à Folha de S. Paulo, que Flávio revelou a ele, em 2018, que teria recebido informações privilegiadas da Polícia Federal (PF) sobre uma investigação que atingiria ele o seu ex-assessor Fabrício Queiroz.

Marinho já deu três depoimentos, dois deles à Polícia Federal e um ao Ministério Público Federal no Rio, após suas declarações envolvendo o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O último deles foi concedido ontem.

Queiroz é investigado por participação em um suposto esquema de "rachadinha" (quando os funcionários de gabinete devolvem parte de seus salários aos parlamentares) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando era assessor de Flávio, na época deputado estadual.

Marinho recordou que o ex-servidor era uma pessoa muito próxima do senador. "O Flávio esteve aqui com o Queiroz durante a campanha. Ele (Queiroz) era uma espécie de assessor e motorista. E uma pessoa da absoluta confiança do Flavio. Uma pessoa de relação de amizade e confiança", destacou.

Assista à integra da entrevista:

*Participaram desta produção Constança Rezende, Diego Henrique de Carvalho, Alex Tajra, Beatriz Sanz e Andréia Martins

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.