Topo

Esse conteúdo é antigo

Para Tarso, pacto permitiu um psicopata na Presidência em troca de reforma

Do UOL, em São Paulo*

01/06/2020 12h10Atualizada em 01/06/2020 14h29

O ex-ministro da Justiça e da Educação Tarso Genro (PT) qualificou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como um "psicopata". Para ele, a chegada de Bolsonaro ao Planalto foi possível por causa de um pacto entre a oligarquia e imprensa. Hoje, eles "tolerariam" Bolsonaro no poder em troca de "reformas".

"Mantiveram ele enquanto [Bolsonaro] pôde impulsionar as reformas. Mas seu delírio fascista, sua postura autoritária —que não é contida pelo temperamento, pela assessoria dele nem pelos apoiadores dele— está levando a um caos insustentável", disse Genro no UOL Debate desta segunda (1º) com o ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública Raul Jungmann. O encontro foi mediado pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto.

"É uma crise [política] em que os ministros do Supremo estão sendo ameaçados e que o Congresso está sem capacidade de reação política, e que não conseguem desmontar um pacto político central que ocorreu no país, para nos levar a esta situação", disse Gerno.

Que pacto é esse? Esse pacto foi o seguinte: vamos tolerar um psicopata no governo --porque o Jair Bolsonaro é um psicopata, é nitidamente um psicopata--, mas, em contrapartida, ele tem que garantir as reformas
Tarso Genro, ex-ministro da Justiça e da Educação

Jungmann, por sua vez, diz acreditar que as Forças Armadas não estão com Bolsonaro, mas, sim, ao lado da Constituição. "As Forças Armadas pertencem à Constituição. E se vocês prestarem os comandantes militares estão sendo totalmente retos daquilo que é seu papel. Não vemos nenhum pronunciamento vindos deles."

Por esse papel, Jungamann diz acredita ser melhor que os militares "permaneçam em silêncio".

"Se eles se pronunciassem, estaríamos criando um precedente. Amanhã, poderemos ter outro presidente e conviver com outras crises. Poderia gerar uma perspectiva tutelar da Forças Armadas. E um aspecto fundamental de uma democracia de fato é que não existe tutela e muito menos capacidade de veto das Forças Armadas".

Bolsonaro não seria visto como líder, diz Genro

Genro pontua que "a maioria dos oficiais [das Forças Armadas] que têm alguma formação histórica, mais aprofundada, não têm uma referência na postura do Bolsonaro quanto líder de uma nação". "Portanto, acho que não há essa perspectiva [de golpe por Bolsonaro]."

"Se a crise se aprofundar a um tal ponto que as Forças Armadas se coesionem para unir forças, não vai ser o Bolsonaro que vai ficar no poder. Teriam pessoas mais preparadas do ponto de vista deles."

Em sua avaliação, as Forças Armadas podem ter "grupos fascistas", mas não tem uma tradição nessa linha. Para eles, elas "nunca assumiram uma tipologia de militarismo fascista".

União na pandemia

Os ex-ministros acreditam que o momento deve ser de união das forças políticas para combater a pandemia. "É uma questão humanitária que deveria unir todos os brasileiros. Essa união contra a pandemia é um movimento de resistência ao fim do isolamento social e de resistência a essas visões enlouquecidas dadas presidente, coisas que não tem menor sentido de sanidade pública."

Já Jungmann avalia que a "frente democrática está em formação". "A participação ampla com pessoas de posições diferentes naquele dia 1º de maio, mesmo que de forma virtual, simbolicamente é um exemplo disso."

Ao mesmo tempo, para Genro, a união pode levar a um movimento que conduza à renúncia ou ao impeachment de Bolsonaro. "Para que possamos chegar às eleições de 2022 com uma transição assegurada para umas eleições justas."

Genro vê como importante no momento um diálogo entre os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Não interessa as divergências que temos com eles, as divergências entre eles. Vão ter que ter uma profissão de fé comum representando amplos setores da sociedade", comenta.

"São presidentes que governaram segundo a Constituição e terminaram mandatos de maneira digna. Vão ter que dizer qual o grau de responsabilidade que afiançam, que assumem, para bloquear o fascismo e defender democracia. Gostaria de deixar esse pleito aqui porque isso é muito importante recordar para a sociedade brasileira."

* Texto de Fábio de Mello Castanho, Nathan Lopes e Stella Borges. Produção de Diego Henrique de Carvalho.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.