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Moro critica populismo de Bolsonaro e invocação de apoio das Forças Armadas

Presidente Jair Bolsonaro e ministro Sergio Moro lado a lado, em solenidade no Palácio do Planalto, em outubro de 2019 - Mateus Bonomi/AGIF
Presidente Jair Bolsonaro e ministro Sergio Moro lado a lado, em solenidade no Palácio do Planalto, em outubro de 2019 Imagem: Mateus Bonomi/AGIF

Do UOL, em São Paulo

03/06/2020 10h55

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro disse, em artigo publicado pelo jornal O Globo, que insistir no populismo não é o melhor caminho para o Brasil. De acordo com a avaliação de Moro, a postura do Governo Federal "até agora nada ajudou contra a pandemia ou para recuperar a economia".

Moro não faz referências diretas a Jair Bolsonaro, mas ao longo do artigo opina sobre discussões que têm sido protagonizadas pelo presidente da República e seus apoiadores. Entre elas, a presença de militares no Governo e um possível apoio para o que o ex-ministro classifica como aventura.

"Há espaço para todos. Não há problema na presença de militares no governo, considerando seus princípios e preparo técnico. Não há espaço, porém, para ameaçar o país invocando falso apoio das Forças Armadas para aventuras", diz Moro.

Nas últimas semanas, houve um aumento na tensão entre os poderes. Aliados do presidente chegaram a falar sobre a possibilidade de evocação ao artigo 142 da Constituição, que fala sobre o emprego das Forças Armadas como poder moderador.

Já Bolsonaro esteve em ato realizado na capital federal que o apoiava e que, entre outras medidas, pregava o fechamento do Supremo e intervenção militar.

Diante da tensão, Moro recomenda prudência como melhor caminho para enfrentar um momento de crise sanitária e política. Mais de 30 mil pessoas já morreram no Brasil em decorrência da covid-19.

"Insistir no populismo, que até agora nada ajudou contra a pandemia ou para recuperar a economia, não parece ser o melhor caminho. É melhor, como outros já disseram, 'colocar a bola no chão', agir com prudência, observar a lei, respeitar as instituições, buscar o consenso necessário para combater a pandemia, assim protegendo as pessoas, bem como para recuperar empregos e a economia", disse.

Moro ainda diz que "o populismo é negativo por si mesmo, seja de direita, seja de esquerda". Em sua opinião, democracia é tolerância e entendimento. "Manipular a opinião pública, estimulando ódio e divisão entre a população é péssimo. Temos mais coisas em comum do que divergências", escreveu.

Sergio Moro deixou o Governo em abril alegando tentativa de interferência do presidente na Polícia Federal com a exoneração do diretor-geral Mauricio Valeixo. Desde então, o ex-ministro tem trocado farpas com Bolsonaro em entrevistas e em posts em redes sociais.

Segundo ele, ainda "há tempo para o governo se recuperar", mas para isso "é necessário fazer a coisa certa, sempre, sem tentações populistas ou autoritarismo". "Mas precisa começar, já que a crise é grave e não permite perder mais tempo do que já foi perdido", disse.

"Lampejos autoritários"

No artigo, Sergio Moro ainda diz que "não é o caso de falar em totalitarismo ou mesmo em ditadura no presente momento", mas diz que "o populismo, com lampejos autoritários, está escancarado."

Por isso, ele diz que Judiciário e Legislativo não devem se dobrar à vontade do Executivo, assim como "órgãos vinculados ao Executivo devem cumprir acriticamente a pauta do Planalto e estão sujeitos a interferências arbitrárias".

O ex-ministro, então, faz uma lista de exemplos de ações do Governo para reforçar a sua visão.

"Radares devem ser retirados das rodovias federais, ainda que isso leve ao incremento dos acidentes e das mortes; agentes de fiscalização ambiental devem ser exonerados se atuarem efetivamente contra o desmatamento ou queimadas; médicos devem ser afastados do Ministério da Saúde pois a pandemia do coronavírus atrapalha a economia, e agentes policiais federais não podem cumprir 'ordens absurdas' quando dirigidas contra aliados político-partidários", disse.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.