Moro alfineta governo Bolsonaro: 'Transparência e rumo são fundamentais'
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro usou sua conta no Twitter hoje para dar uma alfinetada no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido): "Transparência e rumo são fundamentais", escreveu.
Moro não disse explicitamente para quem é a crítica. Porém, sua descrição sobre trocas de comando e falta de transparência se associa ao que vive o Ministério da Saúde, pasta que durante a pandemia do novo coronavírus já teve três comandantes diferentes e agora causa polêmica na divulgação dos dados de covid-19 no Brasil.
"Imagine um avião em pleno voo na tempestade que, de repente, perde o piloto, depois o substituto do piloto e, por fim, inverte a lógica dos instrumentos de navegação. Não tem como dar certo. Transparência e rumo são fundamentais, especialmente em cenário de crise", diz o post de Moro.
O Ministério da Saúde está sob o comando interino — desde o dia 15 de maio — de um militar, o general Eduardo Pazuello, que substituiu o médico oncologista Nelson Teich. Teich se demitiu do cargo menos de um mês após assumi-lo, por causa de divergências com o presidente Bolsonaro quanto às medidas de combate à pandemia do novo coronavírus.
O oncologista, por sua vez, já tinha entrado no governo para substituir outro médico à frente do ministério, Luiz Henrique Mandetta, demitido por discordâncias com o presidente da República.
Em episódio mais recente, foi cogitado para assumir uma das secretarias do ministério o empresário Carlos Wizard Martins, que já atuava como conselheiro de Pazuello.
Martins declarou que era favorável a uma recontagem do número de mortes provocadas pela covid-19 no país, já que os estados poderiam estar "inflacionando dados" da pandemia para conseguir verbas federais.
Ontem (e após os efeitos de sua declaração), o empresário decidiu que não vai mais colaborar com o Ministério da Saúde.
Dados públicos indisponíveis
Mudanças feitas pelo Ministério da Saúde na publicação de seu balanço da pandemia reduziram a quantidade e a qualidade dos dados. O horário de divulgação à imprensa, que costumava ser às 17h na gestão de Mandetta (até 17 de abril), passou para as 19h e depois para as 22h, o que dificulta ou inviabiliza a publicação dos dados em telejornais e veículos impressos.
"Acabou matéria no Jornal Nacional", disse o presidente Jair Bolsonaro, em tom de deboche, ao comentar a mudança.
O portal no qual o ministério divulga o número de mortos e infectados foi retirado do ar na noite da última quinta-feira (4). Quando retornou, após mais de 19 horas, passou a apresentar apenas informações sobre os casos "novos", ou seja, registrados no próprio dia. Desapareceram os números consolidados e o histórico da doença desde seu começo. A primeira morte por covid-19 foi confirmada no início do mês de março.
Também foram eliminados do site os links para downloads de dados em formato de tabela, essenciais para análises de pesquisadores e jornalistas, e que alimentavam outras iniciativas de divulgação.
Entre os itens que deixaram de ser publicados estão: curva de casos novos por data de notificação e por semana epidemiológica; casos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica; mortes por data de notificação e por semana epidemiológica; e óbitos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica.
Ontem, o governo federal anunciou que voltaria a informar seus balanços sobre a doença. Mas mostrou números conflitantes, divulgados no intervalo de poucas horas.
Em razão dessas omissões, veículos de comunicação decidiram se unir, entre eles o UOL, para coletar os números diretamente nas secretarias estaduais de Saúde. Cada órgão de imprensa divulgará o resultado desse acompanhamento em seus respectivos canais.
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