Repórter da EBC é deslocado da Saúde após questionar militares na pasta
Um repórter da Rádio Nacional, que pertence à EBC (Empresa Brasil de Comunicação), foi afastado da cobertura do Ministério da Saúde depois de ter questionado a pasta sobre a nomeação de militares sem formação médica. A EBC é uma empresa pública, parte do governo federal.
A informação foi confirmada ao UOL por um repórter da Rádio, que preferiu não se identificar. Ele disse que o profissional afastado atuava na cobertura havia quatro meses, desde o início da pandemia de coronavírus, em fevereiro, e que agora foi deslocado para diferentes pautas a cada dia.
O profissional afastado fez essa pergunta na quinta-feira (4), no grupo de WhatsApp criado pelo Ministério da Saúde para receber questionamentos de jornalistas durante coletivas de imprensa.
Na ocasião, o repórter perguntou: "Quais critérios estão sendo usados para ocupação dos cargos comissionados no Ministério da Saúde? Militares e empresários sem nenhuma experiência em saúde pública terão condições de combater a maior pandemia dos últimos 100 anos?".
Não houve resposta pelos representantes da pasta durante a coletiva. O jornalista teria sido afastado da cobertura no mesmo dia, e realocado para pautas diferentes a cada dia desde então.
O questionamento foi refeito ontem, no grupo de WhatsApp do Ministério da Saúde, por um segundo profissional da Rádio Nacional:
"Nas últimas semanas tivemos a nomeação de militares e empresários sem reconhecida experiência em saúde pública. Eles têm condições de combater a maior pandemia dos últimos 100 anos? E quais critérios são usados para ocupação dos cargos comissionados no Ministério da Saúde?".
Este segundo jornalista também teve o questionamento ignorado. O UOL apurou que, até o momento, ele não sofreu sanções.
Repúdio
Entidades ligadas à comunicação repudiaram a decisão da EBC de afastar o profissional.
Em nota, os Sindicatos dos Jornalistas do DF, RJ e SP, os Sindicatos dos Radialistas do DF, RJ e SP, e a Comissão de Empregados da EBC classificaram o episódio como "censura" e "assédio moral".
"Os ataques diários à missão da comunicação pública brasileira pela cadeia de comando da EBC interferem diretamente no direito ao acesso à informação de toda a população e contrariam a legislação e a Constituição", diz o texto. "Chega de censura, de assédio e de improbidade dentro da empresa pública. Durante a pandemia, a comunicação pública pode salvar vidas".
Outro lado
Procurada, a EBC não se manifestou até a publicação da reportagem. A empresa, portanto, não esclareceu o motivo do afastamento e se outros jornalistas que questionarem o governo federal também estão sujeitos a sanções.
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