Witzel procurou apoio de deputados presos na Lava Jato contra impeachment
Em meio à abertura de processo de impeachment, dois dos cinco deputados presos durante a Operação Furna da Onça, um desdobramento da Operação Lava Jato, foram procurados pelo governador Wilson Witzel (PSC), em busca de apoio.
A tentativa de aproximação aconteceu no momento em que o chefe do Executivo do Rio de Janeiro está fragilizado politicamente. Sem base de apoio, perdeu até seu líder de governo recentemente e teve na última quarta-feira (10) a abertura de seu processo de impeachment aprovado por unanimidade. Eleito na onda bolsonarista, o ex-juiz federal teve como principal bandeira de campanha o combate à corrupção.
Uma fonte ouvida pelo UOL conta que, dias após conquistar o direito de assumir sua cadeira na Alerj, no fim do mês passado, o deputado estadual André Corrêa (DEM) esteve em reunião com Witzel no Palácio Guanabara. E que há tratativas para apoio recíproco, entre Witzel e os cinco envolvidos na Furna da Onça —André Corrêa (DEM), Marcus Vinícius Neskau (PTB), Chiquinho da Mangueira (PSC), Marcos Abrahão (Avante) e Luiz Martins (PDT).
Procurado, André Corrêa negou o encontro, mas admitiu ter recebido uma ligação de Witzel alguns dias depois de retomar o mandato, no fim do mês passado.
Na ocasião, diversos deputados estaduais do Rio já pressionavam o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), pela abertura de um processo de impeachment e pedidos dessa natureza já estavam protocolados na Casa. Na mesma semana da ligação, as residências oficial e pessoal de Witzel haviam sido alvo de busca e apreensão da Polícia Federal em operação que investiga suspeitas de fraude em contratos da saúde em meio à pandemia do coronavírus.
"Não estive no Guanabara. Recebi um telefonema do governador onde ele me cumprimentou pela retomada do mandato e externou solidariedade como juiz diante da injustiça que sofri com uma prisão que foi considerada ilegal pela ministra Carmem Lúcia [do STF]. Ele mencionou que também se sentia vítima e entendia o meu sofrimento que eu e minha família passamos", contou Corrêa.
O parlamentar alega que, durante a conversa, indicou ao ex-juiz que agirá com isenção no processo de impeachment.
"Óbvio que, quando alguém liga, está subtendido que quer ajuda. Mas ele não pediu diretamente. Foi gentil e eu me antecipei que seria justo juridicamente e politicamente. Que não faria prejulgamento, pois não gostaria que acontecesse com meu pior inimigo o que aconteceu comigo. A minha postura ao telefone ficou clara para o governador, que me conhece muito pouco", completou.
Outro que também conta ter sido procurado antes da votação do impeachment foi o deputado Chiquinho da Mangueira (PSC). O parlamentar também é um dos cinco réus da Operação Furna da Onça, acusados de envolvimento em um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos em órgãos do governo fluminense.
"Recebi o recado que queriam falar comigo do Palácio Guanabara na terça-feira, antes da votação do impeachment. Mas não respondi. Não retornei à ligação, porque não tenho nenhum interesse em participar de nada", disse.
"Não sei se outros colegas foram procurados, mas vou avaliar durante um período e depois vou ter a minha convicção do que eu devo fazer. Não retornei contato porque quero ser 100% isento [no processo de impeachment]. Não me reuni com o governador. Nem na porta do Palácio eu passei", complementou.
Também procurado, o deputado Marcos Vinícius Neskau negou qualquer tratativa com o governo. Luiz Martins também diz que não foi procurado nem teve qualquer encontro com o governador. Já Marcos Abrahão foi procurado pelo UOL através de seu advogado, mas não retornou até o fechamento desta reportagem.
Procurado, o governador Wilson Witzel não comentou sua aproximação com os deputados da Furna da Onça. Em nota, informou que "vai apresentar os argumentos de sua defesa a todos os deputados estaduais" e que "respeita os parlamentares e a Assembleia Legislativa".
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