Topo

Bolsonaro mira novas trocas para acomodar centrão como base do governo

Guilherme Mazieiro e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

23/07/2020 16h55Atualizada em 23/07/2020 16h55

Preocupado com governabilidade, Jair Bolsonaro (sem partido) vem colocando em prática conselhos de aliados considerados "pragmáticos" e, após impor cabresto aos olavistas na estrutura de poder do Executivo, decidiu mexer peças no Congresso visando à formação de uma base de apoio mais "coesa" e menos "radical".

Segundo relatos de interlocutores do presidente, caberá ao centrão —bloco informal liderado por partidos que costumam remar de acordo com a maré política— aglutinar uma nova base bolsonarista e compor a sua espinha dorsal.

A ideia é ter um grupo capaz não só de blindar o mandatário da ameaça de impeachment, que ganhou força na esteira das crises que ocorreram durante a pandemia do coronavírus, mas que também possa negociar votos no Parlamento e dar celeridade às tramitações.

Um dos projetos centrais do governo é o Renda Brasil. A proposta que almeja ser o Bolsa Família de Bolsoaro entrou nas negociações do Fundeb. O texto ainda está em elaboração por diferentes ministérios e o objetivo é lançá-lo ao Congresso com caminho pacificado para aprovação. Outro ponto é a reforma tributária, em discussão no Parlamento.

Congressistas do centrão se dizem interessados na tarefa, porém cobram do presidente a abertura de vácuos de poder.

Depois de galgar espaços gradativamente e ocupar número cada vez maior de cargos, incluindo a recriação de um ministério (o das Comunicações), as lideranças desse bloco querem mais. A bola da vez é a função de vice-líder do governo na Câmara.

kicis x bolsonaro - Facebook/Bia Kicis - Facebook/Bia Kicis
Destituída do posto de vice-líder do governo, Bia Kicis (PSL-DF) é considerada representante do "bolsonarismo raiz"
Imagem: Facebook/Bia Kicis
Para acomodar o centrão, Bolsonaro continua a "limpar" a base, sob tutela dos generais que compõem a cúpula do Planalto. O presidente tem sido incentivado a cortar pela raiz vínculos com parlamentares da ala ideológica, vista como problemática.

O alvo mais recente foi a deputada Bia Kicis (PSL-DF), que ontem (22) acabou destituída da função de vice-líder depois de se posicionar contra o governo na votação do novo Fundeb. Antes dela, já haviam perdido o posto os parlamentares bolsonaristas Daniel Silveira (PSL-RJ) e Otoni de Paula (PSC-RJ).

Bolsonaro cogita também trocar o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO), na Câmara. A vaga seria, dessa forma, mais um movimento para prestigiar o centrão na composição da nova base.

Entre os parlamentares do grupo considerado "radical", apelidado informalmente de "bolsonaristas raiz", há clima de negação e espanto. Sob anonimato, um deputado afirmou ao UOL querer acreditar que as trocas que ocorreram até o momento foram situações "pontuais". Para ele, a queda de Bia Kicis se deu porque ela votou contra o governo.

Auxiliares do presidente avaliam, por outro lado, que os postos de liderança devem ser alinhados com o governo e criticam a postura da parlamentar. Um interlocutor afirmou que, "na política, é igual jogo de futebol. Ninguém joga sem camisa. Ou é de um time, ou de outro, ou é o juiz".

Na visão do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), apesar de a troca "parecer previsível" devido ao posicionamento da deputada na questão do Fundeb, o fato em si seria decorrente, na verdade, de um "rodízio".

"O rodízio é natural, conversei com a Bia e não tem crise. Ela tem um papel importante para o governo e todo cargo pode ser mudado, o meu inclusive, a critério do presidente."