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Bolsonaro impõe cabresto a olavistas no governo, mas quer grupo para 2022

lan Santos/PR
Imagem: lan Santos/PR

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

20/07/2020 04h00

Mesmo com a sucessão de crises enfrentadas pelo olavismo no governo Jair Bolsonaro (sem partido), há expectativa por parte do presidente de seguir com apoio desse grupo para tentar a reeleição em 2022.

Na visão do mandatário, embora "problemático", o chamado núcleo "ideológico" —composto pelos fãs do guru conservador Olavo de Carvalho— já deu provas suficientes de lealdade e continua a ter uma função "multiplicadora" na internet, segundo apurou o UOL.

E, para o chefe do Executivo federal, as redes sociais seguem sendo o terreno mais fértil para alavancar a campanha à reeleição daqui a dois anos.

O olavismo havia iniciado 2019, logo após Bolsonaro tomar posse, com amplo poder em pelo menos três ministérios importantes: a Casa Civil, o da Educação e o Itamaraty.

Hoje, o grupo comanda apenas a pasta das Relações Exteriores, com Ernesto Araújo. Mesmo assim, sua permanência no cargo é muito questionada por parlamentares aliados e militares. Eles entendem que a postura inflamada do chanceler, sobretudo em assuntos como a China (maior parceria comercial do Brasil), prejudica as exportações.

Em vez de distribuir ministérios e postos-chave para os olavistas, Bolsonaro se preocupou em alocá-los em cargos de escalão mais baixo.

Considerado expoente do núcleo ideológico, o assessor especial da Presidência Filipe Martins, por exemplo, foi promovido e passou a ocupar cargo de chefia. Já um ex-assessor da Casa Civil que se autodefinia como "olavete e bolsominion" foi escalado para cuidar dos canais digitais do Planalto. Outras nomeações ocorreram no mesmo sentido.

Entre os advogados que ajudam a manter a "cota olavista" no governo estão os filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Carlos Bolsonaro, este último vereador pelo Republicanos no Rio de Janeiro. E o argumento é sempre o mesmo: a reeleição em 2022.

Em decadência

Desde o ano passado, somadas as declarações controversas, os ataques a adversários, os atritos com os militares e a pouca eficiência administrativa, o olavismo foi desidratado dentro do governo.

O golpe mais doloroso foi a perda do Ministério da Educação. Por lá passaram Ricardo Vélez Rodriguez, sugerido pessoalmente pelo próprio Olavo, e Abraham Weintraub, exonerado depois de chamar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) de "vagabundos".

Agora, a pasta será chefiada pelo professor universitário e pastor Milton Ribeiro, tido como um perfil mais "moderado" e que assume com a função de abrir canais de relacionamento com diferentes setores. O diálogo é justamente algo que vai no sentido contrário ao que pregam os olavistas.

Para compensar a ala ideológica, Bolsonaro designou olavistas para o Conselho Nacional de Educação. A função do colegiado é orientar o ministro da área na formulação e na avaliação da política nacional de educação. Os mandatos dos 24 membros duram quatro anos.

Linha de frente

A interlocutores, o presidente já disse acreditar que, mesmo acuados pelas investigações no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre produção e compartilhamento de fake news, os adeptos do olavismo estariam prontos para atuar na linha de frente da disputa eleitoral, ajudando a disseminar o ideário bolsonarista e confrontar adversários.

Por esse motivo, tornou-se ainda mais caro ao governo o tema da "liberdade de expressão" e a defesa de personagens identificados com o olavismo, o conservadorismo ou que se colocam abertamente à direita no espectro ideológico.

Bolsonaro considera que esta é "a sua gente", segundo definição de um parlamentar aliado.

Exemplo disso foram as mensagens de apoio destinadas, pelo Twitter, aos jornalistas Luís Ernesto Lacombe (ex-Band), Leandro Narloch (ex-CNN), Caio Coppolla (CNN) e Rodrigo Constantino (Jovem Pan).

Na quinta-feira (16), Bolsonaro voltou às redes sociais e postou uma imagem em que ele aparece assistindo na TV a estreia de Lacombe no YouTube.

O ex-apresentador da Band, que passou a manifestar publicamente suas preferências políticas e a apoiar o presidente da República, promoveu uma live com a participação de Coppolla e do jornalista Alexandre Garcia.

Segundo relatos de aliados, Bolsonaro tem solicitado que todos no governo façam, sempre que possível, defesa contundente do que ele considera ser a "liberdade de expressão". A ideia é unificar uma narrativa e resistir à pressão pública que surge à medida que casos de fake news são apurados e criminalizados.

Nos últimos meses, vários militantes que agem como influenciadores na internet, youtubers e ativistas de direita foram alvos da Polícia Federal no âmbito de inquéritos do Supremo, um que investiga crimes de fake news e outro instaurado para verificar ameaças contra membros da Corte.

Um dos casos que mais repercutiu foi a prisão de Sarah Winter, que até então liderava um acampamento em Brasília conhecido como "300 do Brasil".