Witzel recebeu R$ 554 mil em propina com ajuda da esposa, diz PGR
O governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), recebeu R$ 554 mil em propina, segundo denúncia da PGR (Procuradoria Geral da República) encaminhada ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). O político foi afastado do cargo na manhã de hoje (28), enquanto uma operação da Polícia Federal realizou seis prisões, como a de seu aliado o Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC.
Segundo a denúncia, entre agosto do ano passado e abril deste ano, Witzel recebeu R$ 274 mil em 21 oportunidades. Para isso, contou com o apoio da esposa, Helena Witzel, e do advogado Lucas Tristão, ex-secretário e braço direito de Witzel, preso hoje. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o dinheiro foi pago pelo empresário Mário Peixoto —também atualmente preso— com o auxílio de quatro pessoas. Em troca, o governador permitiu que o Instituto Unir Saúde recuperasse sua qualificação para atuar perante o governo.
Entre março e maio, em outras quatro ocasiões, houve mais R$ 280 mil em propina, segundo as investigações da PGR. Os valores foram pagos, segundo o MPF, pelo empresário e ex-prefeito de Volta Redonda (RJ) Gothardo Lopes Netto, outro denunciado e preso na operação de hoje.
A Procuradoria aponta que, em troca, Witzel beneficiou com uma resolução a GLN Serviços Hospitalares e Assessoria Ltda. —que pertence a Gothardo— e direcionou a escolha da organização social Associação de Proteção à Maternidade e Infância de Mutuípe para administrar o Hospital Zilda Arns.
Quem indicou a associação Mutuípe foi Gothardo, segundo informou o ex-secretário de Saúde Edmar Santos, que firmou colaboração premiada com os investigadores. "As obras eram coordenadas pelo próprio Gothardo Lopes Netos, que se encarregava de dar ordens e gerir de perto as obras necessárias", afirmou a PGR na denúncia.
"Consultando em fontes abertas, [Edmar Santos] recordou-se que a OS comandada por Gothardo chama-se Associação de Proteção à Maternidade e Infância de Mutuípe", disse o delator, em seu depoimento.
A resolução 1984, de janeiro deste ano, foi editada pelo governador. Ela criou o "financiamento temporário de custeio à assistência oncológica" e previu que a GLN Serviços Hospitalares, que pertence a Gothardo, recebesse R$ 445 mil por mês ou R$ 5,3 milhões por ano. A empresa funciona no mesmo endereço de um dos clientes do escritório de advocacia da primeira-dama.
Para ocultar o recebimento dos valores, foram feitas operações de lavagem de dinheiro, segundo a PGR. O Ministério Público Federal sustenta que o escritório de advocacia da primeira-dama Helena Witzel fechou contratos simulados com um hospital e outras empresas ligadas ao setor de saúde.
Escritório no centro de investigações
O aprofundamento da Operação Placebo, realizada em maio desse ano, colocou o escritório de direito de Helena Witzel no centro das investigações sobre um suposto esquema do qual Witzel faria parte.
Na decisão que afastou Witzel e mandou prender os seis investigados, o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Benedito Gonçalves afirma que o escritório foi usado para "escamotear o pagamento de vantagens indevidas ao governador, por meio de contratos firmados com pelo menos quatro entidades de saúde".
A respeito de Witzel não ser alvo de mandado de prisão, o ministro do STJ diz que as "atividades de corrupção e lavagem de dinheiro por meio de pagamentos ao escritório de advocacia da primeira-dama devem cessar com o alheamento do exercício da função de chefe máximo do Poder Executivo estadual".
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), entre 13 de agosto do ano passado e 19 de maio deste ano, o escritório de Helena teria recebido R$ 554.236,00 de quatro empresas: Hospital Jardim Amália, localizado em Volta Redonda, no sul fluminense, DPAD Serviços Diagnósticos Ltda, Quali Clínicas Gestão e Serviços de Saúde e Cootrab Cooperativa Central de Trabalho.
Para a Procuradoria, todo esse dinheiro era propina em favor do governador afastado Wilson Witzel, obtida com o auxílio da primeira-dama e, em alguns casos, também com a ajuda de Lucas Tristão.
Segundo a Procuradoria, a quebra de sigilo bancário mostrou que, dentre os mais de R$ 500 mil recebidos pelo governador no esquema, ele obteve R$ 74 mil "diretamente" do escritório de Helena.
Da mesma forma, todas as empresas que pagaram o escritório da primeira-dama tinham ligação com Gothardo ou com Peixoto, diz a Procuradoria. No caso da DPAD Diagnósticos, por exemplo, o MPF sustenta que o dono da empresa, Alessandro Duarte, era um "operador" de Mário Peixoto.
Outro exemplo: a minuta de contrato do Hospital Jardim Amália foi enviado pelo próprio Witzel para a primeira-dama por e-mail. Por esse contrato, firmado com a unidade de saúde de Volta Redonda, Helena passou a receber R$ 15 mil mensais.
Em julho de 2019, Gothardo convidou o governador para a inauguração dessa unidade. "Seu amigo progredindo, investindo e acreditando no Rio", escreveu o empresário. Para a PGR, essa mensagem está "denotando" que o hospital pertence a Gothardo.
De acordo com a decisão de Benedito Gonçalves, os valores pagos ao escritório de Helena serviram para "operacionar a prática de corrupção e posterior lavagem de capitais, mediante a perene atuação de [ex-secretário de Desenvolvimento Econômico] Lucas Tristão e [ex-prefeito de Volta Redonda] Gothardo Lopes Netto".
Investigação é circo, diz governador afastado
O governador afastado nega as suspeitas. Witzel diz que a investigação é "circo", que ela poderia ter um viés político e que se trata de um "ultraje à democracia". Witzel declarou também que não há provas sobre os fatos apontados.
"É uma busca e decepção", afirmou. "Não encontrou R$ 1, uma joia. Simplesmente mais um circo sendo realizado. Lamentavelmente a decisão do sr. Benedito [Gonçalves, ministro do STJ responsável pela decisão], induzido pela procuradora na pessoa da dra. Lindora [Araújo, subprocuradora-geral da República], está se especializando em perseguir governadores e desestabilizar os estados com investigações rasas, buscas e apreensão preocupantes."
Eu e outros governadores estamos sendo vítimas do possível uso político da instituição"
Wilson Witzel, governador afastado do Rio
Questionado sobre os mais de R$ 500 mil apontados como propina por meio do escritório da primeira-dama, o governador afastado disse que o valor foi declarado em Imposto de Renda e ainda fez uma insinuação comparando o caso ao de Michelle Bolsonaro, que recebeu R$ 89 mil em sua conta repassados por Fabrício Queiroz e sua esposa, Márcia Aguiar.
"Na conta da primeira-dama do Rio de Janeiro não entrou dinheiro em espécie, muito menos cheque de origem desconhecida. Aqui, não! Aqui, entrou dinheiro declarado no Imposto de Renda, com notas fiscais emitidas e fruto de serviço trabalhado", disse Witzel. Em seguida, foi questionado sobre a transferência do valor para a sua conta. "Ué, nós somos casados", completou.
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