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Cantor e religioso, suplente de Flordelis é alvo de ação sobre rachadinha

O ex-deputado estadual Pedro Augusto (PSD) - Reprodução/Alerj
O ex-deputado estadual Pedro Augusto (PSD) Imagem: Reprodução/Alerj

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio*

20/10/2020 16h46Atualizada em 20/10/2020 17h02

O ex-deputado estadual Pedro Augusto (PSD), primeiro suplente da deputada federal Flordelis (PSD-RJ), foi alvo hoje de operação que investiga suposto esquema de rachadinha em seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do RJ). O MP-RJ cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Pedro Augusto e em endereços ligados a ele no Rio e em Niterói. A investigação está sob sigilo.

Eleito cinco vezes na Alerj com votações expressivas entre 1998 e 2018, Pedro Augusto tem visitado Brasília com frequência enquanto aguarda eventual cassação de Flordelis. A deputada, apontada como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, só pode ter o cargo cassado por decisão do plenário da Câmara. Há consenso de que é preciso "dar uma resposta" à população, nas palavras de deputados ouvidos pelo UOL.

Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) anexado à Operação Furna da Onça apontou movimentação suspeita entre funcionários do então gabinete de Pedro Augusto na Alerj. Segundo o órgão de inteligência financeira, os valores somaram R$ 4,1 milhões entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

Trata-se do mesmo documento que apontou movimentação atípica de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Alerj. O Coaf registrou movimentações financeiras atípicas de ao menos 21 deputados estaduais do Rio, as quais poderiam indicar rachadinhas --quando assessores repassam ao político que os contrataram parte do seu salário.

Antes de o relatório vir à tona, reportagem do SBT Brasil havia mostrado em março de 2018 imagens de funcionários lotados no gabinete de Pedro Augusto repassando dinheiro em espécie a uma secretária. Nas imagens que mostram o gabinete, é possível ver a mulher contando as cédulas. Segundo a reportagem, havia quem devolvesse valores do auxílio alimentação.

Na ocasião, Pedro Augusto negou irregularidades.

Procurado, o ex-deputado ainda não se manifestou sobre a operação de hoje.

Cantor e religioso

Pedro Augusto foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 1998 e se reelegeu em todas as eleições seguintes para o mesmo cargo. Ele passou pelo PSL, MDB e por último pelo PSD, partido pelo qual concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados em Brasília. Com 33.382 votos, ele não foi eleito e tornou-se o primeiro suplente de Flordelis que somou 196.959 votos.

Na ocasião, o candidato declarou patrimônio de R$ 2.588.153,00. Na lista de bens constavam um imóvel no condomínio Península, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, avaliado em R$ 2,3 milhões, e um automóvel Audi no valor de R$ 153,9 mil.

Cantor e Romeiro de Aparecida

Assim como a parlamentar, Pedro Augusto é religioso, cantor e conhecido como Romeiro de Aparecida por promover caravanas ao Santuário Nacional da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo. Assim como Flordelis, ele possui quatro álbuns de músicas religiosas com milhares de cópias vendidas.

Católico, o ex-deputado mantém também uma loja de artigos religiosos que vende velas, terços e imagens religiosas. Já Flordelis é evangélica e mantinha sete igrejas vinculadas ao seu nome que após a morte do marido sofreram com a debandada de fiéis.

Pedro Augusto começou sua carreira no rádio e atualmente comanda o "Show do Pedro Augusto", na Super Rádio Tupi, programa onde faz comerciais de suplementos usados no combate ao alcoolismo.

A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) durante sessão na Câmara, em maio de 2019 - Michel Jesus/Câmara dos Deputados - Michel Jesus/Câmara dos Deputados
A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) durante sessão na Câmara, em maio de 2019
Imagem: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

A situação de Flordelis na Câmara

O corregedor da Câmara dos Deputados, Paulo Bengtson (PTB-PA), entregou no começo do mês ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), parecer favorável à abertura de processo de cassação do mandato de Flordelis pela suspeita de ter mandado matar o marido.

Agora, a Mesa Diretora da Câmara vai decidir se envia o caso ao Conselho de Ética para abertura de processo contra a deputada. No conselho, um relator escolhido em lista tríplice formada em sorteio vai apurar os fatos da acusação e dará seu parecer pela cassação ou absolvição da deputada, que ainda poderá recorrer da decisão na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).

Após o conselho votar a decisão do relator, o parecer será encaminhado para o plenário da Câmara, onde a votação se dará de forma aberta. Flordelis poderá ser cassada em votação com o aval de 257 deputados.

No fim de agosto, a parlamentar foi denunciada pelo MP-RJ como a mandante do assassinato do marido em 2019. No dia 18 de setembro, a Justiça do Rio determinou que a Flordelis fosse monitorada com o auxílio de uma tornozeleira eletrônica.

Flordelis também é investigada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por um suposto esquema de rachadinhas em seu gabinete.

*Colaborou Luciana Amaral, do UOL, em Brasília