Gritaria de 2018 dará lugar a moderação nesta eleição, diz governador do ES
O clima de briga de rua em 2018, de adversário político tratado como inimigo, não vai ser bem-sucedido nas eleições municipais deste ano, na opinião do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).
Para Casagrande, a disputa pela prefeitura tem menos componentes ideológicos, o que aflora menos os ânimos. Além disso, diz, numa corrida pela prefeitura, as pessoas estão mais preocupadas com problemas concretos. No lugar de avanço do comunismo, do combate ao neoliberalismo, o eleitor quer escutar sobre asfalto, posto de saúde e escola.
Segundo o governador, a moderação, e não a gritaria, atende a estas demandas. Ele vai mais longe, e afirma acreditar que este momento de apaziguamento não é passageiro, mas uma tendência. Por este motivo, defende uma união entre partidos de centro-direita e de centro-esquerda, compondo uma chapa presidencial para 2022 que rompa a polarização Jair Bolsonaro x PT.
A ideia é ousada. A expectativa é que partidos como DEM, PSDB, PDT e PSB deixem suas diferenças de lado. Sua justifica é que se trata de uma união pela democracia. Casagrande afirma que já teve algumas conversas com lideranças partidárias e defende que 2021 será um ano de muito diálogo.
UOL - O senhor acredita que o discurso aguerrido da eleição presidencial ainda rende votos na eleição municipal?
Casagrande - Nesta eleição o ambiente está muito mais para uma posição equilibrada do que para gritaria. Mesmo que ainda possa prevalecer para alguns da sociedade brasileira um estilo mais aguerrido, mais garganta, eu tenho certeza que o resultado vai ser totalmente diferente da eleição de 2018. Acho que vai ser uma eleição com perfil mais ponderado.
Esta avaliação se dá por ser tratar de uma eleição municipal, por que o povo está cansado de briga ou os dois motivos?
As duas coisas. A eleição municipal não provoca tanto o debate ideológico que a eleição nacional provoca. A eleição [municipal] é o problema da educação, da saúde, da rua. Tem um componente prático muito forte. De qualquer maneira eu também aposto que eleição 2022 vai ter um nível de maturidade e de moderação maior que foi a eleição de 2018.
Os candidatos do PT estão muito mal nas principais capitais. São Paulo vê a ascensão de Guilherme Boulos (PSOL). Como o senhor avalia a esquerda?
A esquerda, na minha avaliação, foi atingida pelo vendaval de forças de pensamento conservador e de práticas conservadoras e reacionárias que dominou a política mundial. Acho que a responsabilidade disso está também no comportamento do PT, que sempre teve uma posição muito hegemônica. O PT trabalha muito para enfrentar o Bolsonaro e o Bolsonaro trabalha muito para enfrentar o PT.
Esta polarização não pode excluir outras forças progressistas do país, impedir que uma força diferente dessas vá ao segundo turno. Então, é um ambiente que vai exigir muita capacidade de diálogo do centro-esquerda e centro-direita para a gente poder juntar o máximo de liderança em torno de um projeto que seja alternativo ao que estão polarizando hoje no país.
O seu partido, PSB, está numa estratégia de juntar forças com o PDT desde agora com um viés em 2022. É um projeto viável?
Eu vejo como viável não só PSB e PDT, mas acho que é possível juntar PSB, PDT, PV, Rede, Cidadania. Acho que é preciso a gente conversar com o PSDB, com o DEM, acho que precisa conversar com diversos partidos que não são do mesmo campo político.
O trio DEM, MDB e PSDB também tem seu projeto. Dá para juntar todo mundo?
Dá para tentar juntar todo mundo pelo menos.
O que une estes partidos?
Casagrande - Une o fortalecimento das instituições democráticas e une um projeto racional para este país. Um projeto de transição. Não é um projeto que tenha componente forte ideológico, mas num momento de transição, que seja equilibrado, racional, que seja de diálogo e que a gente possa fazer uma transição para que no futuro a gente tenha posições ideológicas mais claras disputando o poder entre si, mas sem nenhum risco a democracia brasileira.
Mas na eleição de São Paulo o candidato do seu partido, Márcio França, foi cancelado pelos eleitores de esquerda porque esteve em São Vicente com Bolsonaro. Como convencer eleitores de centro-direita e centro-esquerda a estarem na mesma canoa?
A gente tem que diferenciar o que é estratégia e o que é tática. O que o Márcio fez foi uma tática. Um encontro pontual com o presidente e os aliados de Bolsonaro. Mas quem conhece a história do ex-governador Márcio França sabe que ele é prático, mas é coerente. É um democrata, um progressista. A condição de ele ter estado no local com algum objetivo não tira dele a sua história, que precisa ser preservada e ser reconhecida.
Existem eleitores que conseguem ter este discernimento em número suficiente para levar o candidato destes dois campos políticos para o segundo turno, rompendo a polarização PT e Bolsonaro?
O que eu sei é que tem no Brasil uma maioria de pessoas ponderadas, equilibradas, pessoas que não estão nesta guerra de rede social se xingando, se transformado em inimigos. Tenho certeza de que se alguma proposta encantar estas pessoas, estas pessoas estarão firmes neste projeto.
Olhando o Parlamento hoje é possível distinguir bolsonaristas, esquerda e centrão. Dá tempo para este campo contra a polarização marcar posição e ter visibilidade antes de 2022?
Dá tempo sim. Acho que as coisas na política demoram muito as vezes, mas elas têm uma sinergia que ganha uma velocidade grande na hora que chegam no tempo certo. Não é tempo certo de todos se apresentarem juntos ainda. Acho que o tempo certo é o ano que vem.
O senhor já chegou a conversar com lideranças do campo da centro-direita e da centro-esquerda?
Já conversei. Primeira impressão, todos muito simpáticos, mas todos querendo que simpatia se transforme em força para sua candidatura. Mas as pessoas terão que chegar numa realidade em que a maioria vai ter que abrir mão para que a gente possa caminhar numa representação única deste projeto.
Senhor conversou om quem?
Já conversei com o Rodrigo Maia, com [João] Doria, com o presidente do Cidadania. O pessoal recebeu bem. Conversei com o presidente do meu partido, o PSB, conversei com o PDT. Eles recebem bem, mas ainda é uma conversa muito tangenciando o assunto. O que existe de concreto é uma reunião que envolve PDT, PSB, PV e Rede.
Como foram as reações?
Existe um movimento muito maior que é o movimento que defende a democracia. Isto foi concreto. Mas pensando em 2022, as conversas são muito superficiais, não dá para ter uma impressão real e concreta. A força que pode surgir é a força da proposta, não é dos nomes. É a proposta nova que deve ser fortalecida.
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