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A pedido da mulher, Witzel não recorre de despejo e apressa reforma de casa

25.fev.2020 - Wilson Witzel e a esposa Helena Witzel na Sapucaí - Graça Paes/AgNews
25.fev.2020 - Wilson Witzel e a esposa Helena Witzel na Sapucaí Imagem: Graça Paes/AgNews

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

06/11/2020 14h59

A pedido da primeira-dama Helena Witzel, o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC) não recorrerá de despejo do Palácio Laranjeiras determinado ontem (5) pelo Tribunal Especial Misto, formado para julgar denúncia de impeachment contra ele. No entender dela, a permanência no local expõe a família e passa a mensagem que Witzel luta na Justiça para manter regalias.

Witzel voltará para a casa da família no Grajaú, bairro da zona norte carioca, e deve solicitar escolta policial porque se disse vítima de ameaças recentes. O imóvel da família, que passava por obras, teve a sua reforma apressada, e a expectativa é de que eles deixem o Palácio Laranjeiras em até dez dias após a publicação da decisão do Tribunal Misto.

Para a defesa de Witzel, a decisão do despejo poderia ser judicializada, já que não estava na pauta prévia que seria votada ontem.

Porém, o pedido da primeira-dama pesou e outros recursos devem ser priorizados para que o processo de impeachment não tenha um desfecho tão rápido. Os advogados pretendem solicitar perícias em todas as provas colhidas pelo Tribunal Misto, o que não permitirá votação até janeiro do ano que vem, conforme estimou ontem o presidente do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), Cláudio de Mello Tavares.

Oficialmente, Witzel afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que a decisão se vai ou não à Justiça contra o despejo ainda não foi tomada, mas a reportagem confirmou com diferentes fontes próximas ao governador afastado que o apelo da esposa e a estratégia da defesa o levaram a abandonar a hipótese.

Falas de Witzel têm sido "calcanhar de Aquiles"

O prazo estimado pelo presidente do TJ-RJ não foi por acaso —em janeiro, Tavares encerra o seu mandato e a celeridade nos trabalhos é interpretada como uma "prova de independência" do Judiciário.

A inclusão do despejo na votação de ontem, por exemplo, foi considerada depois de terem repercutido mal nos corredores do Tribunal declarações de Witzel a interlocutores, nas quais lembrou que nomeou parentes de desembargadores e juízes em seu governo.

O pedido de votação do despejo foi feito pelos cinco deputados estaduais que compõem o Tribunal Misto. No mês passado, parlamentares tentaram retirar Witzel do palácio por meio de um projeto de lei, mas esbarraram na presidência da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), que não permitiu que a matéria fosse votada com urgência.

A represália contra Witzel também se deve a uma série de declarações do governador afastado, que atacou a Alerj durante sua defesa no dia da votação do relatório de impeachment e se disse vítima de uma conspiração em entrevista ao jornal O Globo. Na ocasião, Witzel apareceu fumando charutos e bebendo uísque, enquanto projetava uma vitória à Presidência da República.

Permanência no palácio custaria R$ 100 mil por mês ao RJ

Deputados que tentaram retirar Witzel do Palácio Laranjeiras no mês passado estimaram que a permanência da família no local custaria até R$ 100 mil aos combalidos cofres do estado.

O projeto de lei, que deve ser votado até o fim do ano, propõe que o lugar deixe de ser uma residência oficial e passe a ser um centro cultural aberto à visitação. Dessa forma, nenhum governador futuro poderia se instalar por lá.

Construído entre 1910 e 1913, o Palácio das Laranjeiras fica no bairro de mesmo nome, na zona sul carioca. Originalmente, foi feito para servir de moradia ao empresário Eduardo Guinle, cuja família é fundadora do Copacabana Palace.

Influenciada pela arquitetura francesa, a construção é dividida em três alas (social, de serviços e residencial), com extensos jardins, fachadas ornamentadas e uso de materiais nobres.

A maior ala é a que abriga os salões mais suntuosos da casa, destinados ao convívio social. Em 1946, a União comprou o imóvel por sua localização privilegiada. O local chegou a ser usado como sede oficial da Presidência da República. Em 1974, o palácio foi passado à administração do estado e se tornou residência oficial de governadores.

Nos últimos anos, porém, o endereço foi mais associado a operações sobre fraudes. Em 2018, Luiz Fernando Pezão (MDB) foi preso ali nos últimos meses do seu governo. Neste ano, o endereço foi alvo de mandados de busca e apreensão contra Witzel e a primeira-dama.