Padaria e clima de interior: a volta de Witzel ao bairro de origem no RJ
Uma casa de dois pisos, encoberta por um muro de mais de 3 m e com duas câmeras de segurança no Grajaú, bairro bucólico da zona norte do Rio, voltou a ser a moradia de Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio que deixou o Palácio Laranjeiras após decisão de despejo no Tribunal Misto, que julga processo de impeachment contra ele.
O retorno da família Witzel alterou a rotina da arborizada rua Professor Valadares, onde é possível ouvir até o canto dos passarinhos e ver ao fundo o Pico do Papagaio, montanha com 445 m com trilhas e cachoeiras. O UOL esteve ontem no local e verificou a presença de policiais militares, seguranças e cinegrafistas, em contraste com o clima de interior no bairro.
Por volta das 14h30, um carro preto com vidros filmados se afastou ao perceber a presença de cinegrafistas. Um segurança chegou ao local às 15h45 em troca de turno, após a saída do imóvel de outro vigia.
No fim da rua, havia uma viatura da Polícia Militar estacionada. De camisa e jeans, o coronel Mauro Fliess, à frente do 2º CPA (Comando de Policiamento de Área), responsável pelas zonas norte e oeste carioca, foi ao local orientar os PMs. Abordado pela reportagem, disse que não estava autorizado a dar entrevistas.
O governo do RJ informou que os detalhes sobre o policiamento não são divulgados por questões de segurança. Segundo a assessoria, Witzel tem direito a escolta policial porque o processo de impeachment não foi concluído. Ele disse ter sido vítima de ameaças recentes e solicitou segurança do estado.
Apesar da movimentação atípica, o ambiente era pacato. Na varanda de um prédio, uma senhora de vestido longo usava uma mangueira para regar as plantas em torno de uma árvore. Em uma estreita rua ao lado, uma placa dava o tom da rotina por ali: "privativo dos moradores", dizia.
Quem era Witzel na fila do pão
O único comércio aberto era uma padaria, onde a primeira-dama Helena Witzel comprou pães pela manhã, segundo moradores e funcionários do estabelecimento.
Ali, havia quatro mesas na calçada —só uma delas ocupada por dois homens, que conversavam bebendo cerveja.
Com a volta da família, moradores relembram histórias sobre o ilustre vizinho, que costumava ir ao local todas as manhãs para comprar pães trajando camisa, bermuda e chinelo antes da notoriedade instantânea nas eleições de 2018, quando o até então desconhecido ex-juiz federal foi eleito governador do Rio.
Ele era um cliente comum. Isso antes de ser eleito. Não era muito de conversar. Nunca falou comigo. Eu também não fazia questão
Luana Silva, atendente da padaria
Naquela época, Helena Witzel era uma das primeiras clientes da padaria. Chegava lá antes das 7h para pedir um pão na chapa e um café, antes de levar os filhos para a escola. "Às vezes, ela vinha sozinha e ficava tomando café e lendo um livro", lembrou Luana.
Um dos poucos comércios abertos na região residencial, a padaria costumava ser alvo de assaltos. Isso até Witzel ser eleito e reforçar o policiamento na rua onde morava. "Foi a única coisa boa que ele fez, né?", disse um funcionário da padaria, que não se identificou.
'Ele já voltou?', questionou moradora
Pela rua, nem todo mundo tinha percebido a mudança de rotina causada pela presença de Witzel. "Ele já voltou? E não me avisou nada?", brincou a dona de casa Fátima Azevedo, 67, que mora quase em frente à casa do governador afastado do Rio.
Morador do bairro, o comerciante Fernando Antônio Pereira, 57, relembra quando viu Witzel pela primeira vez como candidato a governador do Rio.
"Quando vi ele como candidato, pensei: 'Ué? Conheço esse cara de algum lugar'. Aí lembrei que conhecia ele de vista mesmo. E decidi votar nele, porque era um político diferente. Logo no primeiro ano, me perguntei: 'O que foi que eu fiz?'", contou, rindo.
Vizinha de rua de Witzel, a professora aposentada Ana Maria de Biase, 70, disse que conhecia o governador afastado só de vista. Para ela, um sujeito comum que às vezes até aparecia em frente ao imóvel para varrer a calçada.
Isso até a campanha eleitoral de 2018. Segundo ela, o ex-juiz passou a frequentar a padaria com mais frequência às vésperas do pleito.
Antes de entrar para a política, ele não era de conversar com as pessoas. Durante a campanha, ele fez carinho no meu cachorro e puxou assunto, dizendo que era candidato
Ana Maria de Biase, professora aposentada
Saída do Palácio Guanabara é simbólica, diz advogado
Especialista em direito eleitoral, o advogado Fernando Neisser diz que a saída de Witzel do Palácio Laranjeiras carrega também uma mensagem em meio ao processo.
"É muito mais uma questão simbólica do que uma medida efetiva. É uma garantia para que ele não retorne ao palácio enquanto o processo de impeachment estiver em andamento", explicou.
A pedido da primeira-dama, o governador afastado do Rio não recorrerá da decisão do Tribunal Especial Misto, segundo informou o UOL. No entender dela, a permanência no Palácio Guanabara expõe a família e passa a mensagem de que Witzel quer manter as regalias.
Oficialmente, Witzel afirma que a decisão se vai ou não à Justiça contra o despejo não foi tomada. Mas o UOL confirmou com fontes próximas a ele que o apelo da esposa e a estratégia da defesa o levaram a abandonar a hipótese.
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