Jornal: 'Mesada' para assessoras de Flávio chegava a R$ 1,9 mil, diz MP
A partir do cruzamento de dados bancários, o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) identificou o pagamento de uma espécie de "mesada" às supostas assessoras fantasmas de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), hoje senador, na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), segundo denúncia obtida pelo jornal O Globo. Os valores variavam de R$ 300 a R$ 1,9 mil.
Essa "mesada", de acordo com o MP, era o que sobrava do salário das assessoras fantasmas após a devolução de parte do dinheiro a Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio e apontado como operador do esquema ilegal. Em depoimento, a ex-assessora Luiza Sousa Paes admitiu que devolvia mais de 90% de seu salário, ficando com R$ 700 mensais.
Ainda segundo o Globo, a própria Luiza afirmou ao MP que outras assessoras que trabalhavam com ela no gabinete de Flávio também eram fantasmas. Uma delas, Flávia Regina Thompson da Silva, chegou a fazer uma anotação em um extrato — posteriormente apreendido — em que comemora o aumento da "mesada", isto é, da parcela não devolvida a Queiroz.
"Comecei a tirar R$ 1.400", escreveu, ao lado de um "\o/", que é usado na internet para fazer referência a uma pessoa que vibra de braços levantados. Durante abril de 2007 e dezembro de 2017, tempo em que teoricamente trabalhou como assessora, Flávia repassou R$ 235 mil ao esquema, estima o MP.
Entre as assessoras citadas por Luiza, também estava Nathália Queiroz, filha do ex-assessor, que ficava com R$ 1,1 mil todos os meses. Nathália trabalhou como assessora entre setembro de 2007 e dezembro de 2016 e, neste período, investigadores calculam que ela tenha desviado R$ 703,5 mil.
Luiza ainda mencionou Sheila Coelho de Vasconcellos, que esteve nomeada no gabinete de Flávio entre abril de 2016 e novembro de 2019. Esposa de um agente penitenciário com quem Queiroz jogava futebol, Sheila recebeu entre R$ 1,6 mil e R$ 1,9 mil de mesada, tendo devolvido R$ 450,2 mil, aponta a denúncia obtida pelo Globo.
Tanto no caso de Luiza, Nathália e Sheila como de outras funcionárias, os valores eram repassados a Queiroz por meio de depósitos em dinheiro vivo, normalmente de origem não especificada. As transferências identificadas, que representam a menor parte do total, foram feitas ao ex-assessor em nome de integrantes do gabinete de Flávio.
No âmbito das investigações desse esquema, que ficou conhecido como "rachadinha", Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz foram denunciados pelo MP por lavagem de dinheiro, peculato (desvio de dinheiro público) e organização criminosa. Se a denúncia for aceita pela Justiça, o senador e seu ex-assessor virarão réus. Ambos negam as acusações.
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