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'Sou daltônico: todos têm a mesma cor', diz Bolsonaro sem citar morte no RS

                                 Presidente da República, Jair Bolsonaro                              -                                 MARCOS CORRêA/DIVULGAçãO
Presidente da República, Jair Bolsonaro Imagem: MARCOS CORRêA/DIVULGAçãO

Do UOL, em São Paulo

20/11/2020 23h47Atualizada em 21/11/2020 11h47

No Dia da Consciência Negra, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizou o racismo no Brasil. Na noite de hoje, em um longo texto publicado nas suas redes sociais, Bolsonaro disse ser "daltônico" e alegou que "todos têm a mesma cor".

Na postagem, o presidente ignorou a morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, um homem negro morto por dois seguranças brancos em um supermercado do Carrefour, em Porto Alegre (RS). E também não citou o Dia da Consciência Negra.

"Não adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos. Problemas como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas, seja um pai ou uma mãe que perde o filho, seja um caso de violência doméstica, seja um morador de uma área dominada pelo crime organizado", escreveu Bolsonaro.

"Não nos deixemos ser manipulados por grupos políticos. Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença", completou.

Mais cedo, o vice-presidente, Hamilton Mourão, já havia dito: "para mim, não existe racismo no Brasil". Mourão lamentou a morte de João Alberto.

Racismo em números

Segundo dados da Pnad, negros (definidos pelo IBGE como pretos e pardos) têm maiores dificuldades de acesso à moradia: 7 em cada 10 que moram em casas com inadequação são pretos ou pardos.

Já um estudo divulgado pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), em parceria com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), mostra que trabalhadores negros recebem salário 17% menor que o de brancos que têm a mesma origem social, em média.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, por sua vez, aponta que oito a cada dez pessoas mortas pela polícia em 2019 eram negras.

O dia da Consciência Negra, celebrado no dia da morte de Zumbi dos Palmares, existe para refletir e exigir mudanças nessas questões e em outras, como as desigualdades de acesso à educação e de oportunidades no mercado de trabalho.

Silêncio sobre caso João Alberto

Durante todo o dia, o presidente Bolsonaro evitou comentar a morte de João Alberto, um homem negro que foi espancado na noite de ontem em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre. Dois seguranças brancos do Carrefour tiveram a prisão preventiva decretada na tarde de hoje pela morte de João Alberto.

Vídeos mostram o momento em que o homem foi agredido pelos seguranças, assim como a tentativa de socorristas de salvá-lo. As imagens mostram Freitas recebendo de um dos homens vários socos na região do rosto, enquanto o outro tenta segurá-lo. Uma mulher que estava usando proteção facial é vista perto deles, assistindo às agressões

O caso gerou comoção e revolta entre anônimos, políticos, artistas, entidades que defendem o movimento negro e de Direitos Humanos, entre outros. Bolsonaro, no entanto, evitou comentar o episódio.

Discurso de Bolsonaro nas redes sociais

O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado. Brancos, negros, pardos e índios compõem o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros.

Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre classes, sempre mascarados de "luta por igualdade" ou "justiça social", tudo em busca de poder.

Estamos longe de ser perfeitos. Temos, sim, os nossos problemas, problemas esses muito mais complexos e que vão além de questões raciais. O grande mal do país continua sendo a corrupção moral, política e econômica. Os que negam este fato ajudam a perpetuá-lo.

Não adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos. Problemas como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas, seja um pai ou uma mãe que perde o filho, seja um caso de violência doméstica, seja um morador de uma área dominada pelo crime organizado.

Existem diversos interesses para que se criem tensões entre nosso próprio povo. Um povo unido é um povo soberano, um povo dividido é um povo vulnerável. Um povo vulnerável é mais fácil de ser controlado. E há quem se beneficie politicamente com a perda de nossa soberania.

Não nos deixemos ser manipulados por grupos políticos. Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença.

Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história. Quem prega isso, está no lugar errado. Seu lugar é no lixo!