"É como se houvesse autorização para agredir e matar", diz deputado do RS
A morte de João Alberto Silveira Freitas, 40, espancado por dois seguranças do Carrefour, na noite de quinta-feira (19) em Porto Alegre, gerou repercussão entre políticos do Rio Grande do Sul. O senador gaúcho Paulo Paim (PT), Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal, publicou uma nota de repúdio ao que chamou de "mais um ato covarde e criminoso contra uma pessoa negra".
Além de apresentar condolências aos familiares de João Alberto, Paim destacou que há tempos recebe denúncias contra o Grupo Carrefour a respeito de atos discriminatórios contra pessoas negras.
Nesse mesmo tom, o deputado estadual Jeferson Fernandes (PT), titular da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos e presidente da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa, ressalta que recebe "dezenas de casos como esse, mas que não são levados adiante por falta de provas contra os agressores. E quando uma pessoa está cometendo algum ilícito, é como se houvesse uma autorização para ser agredida e morta. Isso tem que acabar".
Para Fernandes, não basta que apenas os dois envolvidos sejam responsabilizados. "Eu entendo que a empresa de segurança e o próprio estabelecimento comercial devam ser punidos", afirma, destacando que o ocorrido "não pode ser tratado como algo passageiro ou relacionado apenas ao 20 de novembro. Precisamos de campanhas permanentes de conscientização e combate ao racismo".
O Dia da Consciência Negra estava sendo aguardado com especial ansiedade este ano. As eleições municipais, ocorridas há poucos dias, determinaram à capital gaúcha a primeira bancada negra na Câmara Municipal, com cinco representantes eleitos.
Vereadora eleita, campeã de votos em Porto Alegre, pede punição a empresa e estado
Entre eles, Karen Santos (PSOL), a vereadora mais votada de Porto Alegre. O dia que seria um momento de reflexão sobre a boa notícia do aumento da representatividade negra na Câmara, acabou se tornando um momento de violência racial.
"A semana inteira, a grande pauta foi a euforia, a esperança. Qual a expectativa e os projetos para essa bancada negra. Mas a realidade da segregação nos pautou. Nos disse que apesar do nosso compromisso no combate ao racismo, a realidade tem o seu próprio tempo", afirma Karen.
Para ela, o problema é muito maior que Porto Alegre. "É um país de 520 anos que naturalizou a morte de pessoas negras, o linchamento, o estupro, o assassinato, com um judiciário extremamente elitista. E como pensar medidas, desde protocolos de abordagem na segurança pública e privada, até mecanismos para comprometer os governos quanto a isso, com instituições que perpetuam esse racismo, desde a violência psicológica até a violência física, de fato?", questiona.
Assim como Jefferson Fernandes, Karen também acredita que a punição deve ser estendida para além dos dois agressores. "A rede tem que ser responsabilizada. O estado do Rio Grande do Sul tem que ser responsabilizado, no sentido de uma educação antirracista, porque ninguém nasce odiando. Ninguém nasce violento".
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