TV: Para MP, não é 'crível' que Flávio Bolsonaro desconhecesse rachadinha
O MP-RJ (Ministério Público do Rio) disse não ser "crível" a justificativa dada por Fabrício Queiroz sobre a prática de "rachadinhas" na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), segundo informou a CNN. Em depoimento dado por escrito ao órgão, em 2019, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) negou o envolvimento do então deputado estadual, conforme mostrou reportagem da Folha de S. Paulo.
Segundo a CNN, a explicação dada por Queiroz ao MP está em uma petição anexada ao processo que tramita no Órgão Especial do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio). O MP considera que não é "crível que o referido assessor houvesse arrecadado milhões de reais em repasses de assessores da Alerj, ao longo de mais de dez anos, sem que seus superiores tivessem conhecimento do fato e nem auferido qualquer vantagem do ilícito praticado".
Por meio de nota, a defesa de Queiroz confirma que "a afirmação acerca de contratação informal de assessores consta de petição protocolada em 2019 pelos advogados que então o defendiam".
"Reafirmamos que o nosso único compromisso é com a verdade dos fatos, que será demonstrada pelas provas que estão sendo produzidas e conduzirão à absolvição", conclui a nota do advogado Paulo Emílio Catta Preta.
No documento, Queiroz, apontado como operador do esquema, "admitiu que havia um acordo pelo qual os assessores por ele indicados para ocupar cargos no Gabinete haveriam de lhe entregar parte de seus vencimentos".
O ex-assessor afirmou que "tal acordo teria sido realizado sem consulta ou anuência do então Deputado Estadual nem de seu Chefe de Gabinete, valendo-se da confiança e da autonomia que possuía".
No entanto, segundo a reportagem, os promotores encaram a justificativa apresentada como fantasiosa depois de analisarem a evolução patrimonial de Flávio e da esposa dele, ao longo de dez anos, além da quebra de sigilo bancário de Queiroz, com movimentação de mais de R$ 2 milhões, considerada incompatível com seus ganhos na condição de policial militar reformado.
Flávio, filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), foi denunciado no início deste mês por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa em função do chamado Caso Queiroz, como ficou conhecido o processo pelas "rachadinhas". Além dele, o próprio Queiroz e outras 15 pessoas também foram denunciadas. Na ocasião, por meio de uma nota, a defesa de Flávio afirmou que a denúncia não tinha provas e era uma "crônica macabra".
"Líder da organização criminosa"
Em denúncia enviada à Justiça, os promotores afirmam que Flávio é o "líder da organização criminosa e integrante do núcleo político, que nomeava determinadas pessoas, previamente aderentes ao intento delitivo, para diversos cargos comissionados na Alerj, geralmente 'funcionários fantasmas', que não exerciam de fato as funções públicas, com o único propósito de 'emprestarem' seus dados qualificativos e contas bancárias para permitir o desvio dos recursos em troca de um percentual desses valores".
Segundo a CNN, outro ponto que para o MP deixa claro que Queiroz não agia sozinho é uma conversa entre ele e uma das funcionárias fantasmas do gabinete. O diálogo ocorreu num aplicativo de mensagens e foi encontrado no celular do ex-assessor durante busca e apreensão.
No início de 2018, Queiroz pediu que Danielle Mendonça da Costa informasse o valor que teria sido depositado na conta dela, para que ele pudesse prestar contas.
"Boa noite amiga. Estou de férias e não paguei seu contracheque. Você pode me informar o valor que foi depositado esse mês para eu prestar a conta", escreveu ele a Danielle.
Em 2019, o Ministério Público obteve conversa entre Danielle e uma amiga, em que ela, já exonerada do cargo, admite que "sabia da origem ilícita do dinheiro e que essa situação a incomodava".
Até o momento, Luiza Souza Paes, que consta como uma das ex-assessoras do gabinete, foi a única a admitir em depoimento que devolvia parte de seu salário.
Investigação revelou que a ex-assessora que admitiu ter devolvido 90% dos seus salários a Queiroz entre 2011 e 2017 foi orientada a adulterar provas para atrapalhar as investigações.
Outro lado
Em nota à CNN, a defesa do ex-assessor informou que "reafirma a inocência de Fabrício Queiroz e informa que pretende fazer a impugnação das provas acusatórias e produção de contraprovas que demonstrarão a improcedência das acusações."
A defesa de Flávio Bolsonaro disse que não se manifestaria, porque o processo está sob sigilo.
Já o MP informou que não poderia dar informações porque a investigação corre em segredo de Justiça.
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