Organização de Crivella arrecadou mais de R$ 50 milhões em propina, diz MP
O suposto esquema de corrupção na Prefeitura do Rio de Janeiro investigado na Operação Hades arrecadou R$ 50 milhões em propinas, segundo o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). As investigações apontam que a organização era liderada pelo empresário Rafael Alves, homem de confiança de Marcelo Crivella (Republicanos). Crivella foi preso hoje e afastado da Prefeitura, a nove dias do fim do mandato.
De acordo com o sub-procurador geral do MP, Ricardo Ribeiro Martins, a Prefeitura dava preferência ao pagamento de empresas que reembolsavam os membros da organização criminosa com propinas. "Apesar de toda a situação de penúria [dos cofres públicos], que não têm dinheiro nem para o pagamento do décimo terceiro [dos servidores], muitos pagamentos eram priorizados em razão da propina", afirmou.
De acordo com ele, há evidências de que a "organização criminosa não se esgotaria" no dia 31 de dezembro, quando se encerraria o mandato de Crivella —ele foi afastado do cargo hoje. Por isso, o pedido de prisão foi feito pouco antes do fim do governo.
A equipe envolvida na operação negou interesses políticos. "Esse esquema seguiu em curso apesar de duas operações [realizadas anteriormente] contra os alvos de hoje. [...] Até os 45 do segundo tempo vieram aos autos elementos de prova necessários para a denúncia. A escolha da data não depende da gente, a investigação tem vontade própria. Tivemos uma delação homologada há uma semana. O timing foi esse por ser o tempo da investigação", disse o sub-procurador.
Pela manhã, Crivella negou as acusações e se disse vítima de "perseguição política". Ele e mais 25 alvos foram denunciados pelo MP pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva.
Crivella disputou a reeleição em novembro, mas foi derrotado por Eduardo Paes no segundo turno. Ele era apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Às 15h, ele e os demais presos na operação de hoje participarão de uma audiência de custódia. Será avaliada a necessidade de manutenção da prisão.
Com a prisão do prefeito, quem assume o comando da cidade é o presidente da Câmara de Vereadores, Jorge Felippe (DEM). O vice-prefeito Fernando McDowell, morreu em maio de 2018.
Ligado ao carnaval e íntimo de Crivella
Pivô das investigações contra Crivella, Rafael Alves é ex-dirigente de escolas de samba tradicionais do carnaval carioca, como Salgueiro e Viradouro. Doador de campanhas do PRB —antigo nome do Republicanos— desde 2012, ele é apontado como agiota da zona sul carioca e possuía influência direta sobre os atos de Crivella, de acordo com o MP.
Os investigadores indicam que uma prova do seu poder aconteceu no dia 15 de março de 2018. Na ocasião, sempre segundo a Procuradoria, Alves enviou mensagens a Crivella sobre a iminente demolição de um imóvel do senador Romário (Podemos). Àquela altura, um laudo da Secretaria de Urbanismo havia recomendado a derrubada da casa do senador por questões técnicas da obra.
"Soube agora que amanhã vão demolir a casa do Romário. Se o senhor puder tentar segurar isso. Ele me ligou aqui e foi nosso companheiro. Isso destruiria a vida dele. Ele disse que quer ir lá e regularizar o que for necessário. E com isso acaba essas brigas bobas e indiferenças. Somos pessoas de bem", disse Alves em texto.
Crivella respondeu: "Claro, amigo. Me dá o endereço". O empresário passa a localização da casa e o prefeito responde: "Ok".
Naquele mesmo dia, Alves mandou mensagem para outro contato perguntando se "Romário havia ficado feliz". O homem responde que sim.
Alvos da operação de hoje
Além de Crivella, foram alvos da operação hoje o ex-senador Eduardo Lopes (Republicanos-RJ), o empresário Rafael Alves e o ex-tesoureiro de campanhas eleitorais de Crivella, Mauro Macedo. Há mandados também contra Fernando Morais (delegado), Cristiano Stokler e o empresário Adenor Gonçalves.
O ex-senador Eduardo Lopes não foi encontrado em casa. Ele foi presidente da Riotur e assumiu a vaga no Senado após a eleição de Crivella para a Prefeitura do Rio, em 2016.
De acordo com as investigações, empresas que desejavam fechar contratos com a prefeitura ou tinham recursos a receber do município eram obrigadas a pagar propina a Rafael. Em troca, o empresário facilitava a assinatura dos contratos e o pagamento das dívidas. Contra ele, a polícia também cumpre um mandado de busca e apreensão de uma lancha que está em Angra dos Reis, na região da Costa Verde do Rio.
O UOL entrou em contato com os advogados dos suspeitos, mas ainda não obteve retorno.
As investigações se baseiam no acordo de colaboração premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela Operação Câmbio, Desligo. Ele apontou Rafael Alves como chefe do esquema criminoso que aconteceria na prefeitura.
O prefeito do Rio e membros do primeiro escalão de seu governo foram alvos de outra operação do MP-RJ em setembro. Na ocasião, Crivella teve o celular apreendido.
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